Contra a neofilia

O domínio absoluto da neofilia na escrita sobre música chateia-me. E no entanto, como muitos outros, cedo-lhe quase sempre. Não sou certamente o maior exemplo de neofilia, até porque passo o tempo a ouvir coisas meio antigas – umas descobertas recentemente, outras nem por isso. Mas confesso que, na hora de escrever, dou habitualmente prioridade ao que é novo.

Escrever sobre a novidade é um exercício de preguiça. Puxamos menos pela cabeça quando temos uma bengala tão robusta como a novidade, acho eu. Escrever sobre o que não é novo e acrescentar algo… Isso sim! Mas é muito mais difícil. É mais difícil porque nos força a investigar mais e a refletir mais e, portanto, demora mais. Além disto, é expectável que gere menos interesse junto de quem lê porque, por cada escritor neófilo, deve haver umas centenas de leitores também eles sedentos pelas últimas novidades.

É um artigo de intenções, este. E para demonstrar a minha boa fé, deixo-vos com uma música não nova – é que há tanta coisa boa a que não damos a devida atenção por andarmos focados na incessante procura da next big thing… que às vezes é preciso parar um bocado e olhar para trás.

E, neste caso, nem sequer vamos olhar muito para trás. “The dark don’t hide it”, dos Magnolia Electric Co. (projeto de Jason Molina), é uma canção de What comes after the blues, álbum editado em 2005. A letra é simples e clara. Às tantas, diz-nos Jason Molina:

“Now death is gonna hold us up in the mirror / and say ‘we’re so much alike, we must be brothers / See, I had a job to do but people like you / been doing it for me to one another’”.

Tudo isto na mais confortável das sonoridades country. Um tipo tem de adorar coisas destas. Ora ouçam lá vocês.