Benji

Sun Kil Moon - Benji

Benji chegou-me aos ouvidos há uma semana.

Ando desde então à procura das palavras certas para descrever a hora e pouco de música que Mark Kozelek encaixou no mais recente álbum dos Sun Kil Moon.

Decidi há dois ou três dias que não queria escrever nada que seassemelhasse a uma crítica. O motivo é simples: li a crítica perfeita no Pitchfork e acho que, se vão ler uma crítica a Benji, não há melhor opção que essa. Mas não podia deixar de falar sobre o álbum, nem que fosse simplesmente pela minha (bem documentada) relação com a música de Mark Kozelek.

Desde que Benji me chegou aos ouvidos que não quero ouvir outra coisa. Mas porquê, se o álbum está tão longe dos meus momentos favoritos dos Red House Painters e dos Sun Kil Moon?

Tenho tido dificuldade em encontrar uma resposta. A verdade é que estas músicas não deveriam dizer-me tanto. Musicalmente, Benji é um conjunto de temas dominados pela dupla voz/guitarra meio barroca típica dos últimos trabalhos de Mark Kozelek, que não é de maneira alguma a minha fase favorita dele. Mas o mais perto que estive até agora de uma resposta foi isto: Benji é o álbum mais transparente que Mark Kozelek lançou até hoje.

Com tantas histórias sobre morte – da da sua prima em segundo grau Carissa à do assassino em série Richard Ramirez -, Benji deixa-nos ver o que vai pela cabeça de Mark Kozelek – memórias, pessoas e sobretudo medo. Medo da morte dos pais, como fica claro na enternecedora “I Can’t Live Without My Mother’s Love”, e medo da sua própria morte.

As histórias são fantásticas só por si – ouçam “Carissa” ou, melhor (pior), ouçam as três histórias de “Micheline” e digam-me que não tenho razão – mas a forma como Mark Kozelek as transforma em poesia é simplesmente brilhante. E mesmo em canções cuja música me diz pouco, como “Jim Wise”, sou vencido pela história ou por pequenos pormenores.

Além disso, há o humor. “Dogs” (em que a namorada o troca por um tipo e é esse tipo que o leva a casa a seguir), “Ben’s My Friend” (em que… tudo!) e “I Love My Dad” (em que ele pratica guitarra mas não tanto como Nels Cline – seguido de um solo de guitarra à Nels Cline) são os casos mais óbvios mas não são os únicos.

Quanto ao som que me chega aos ouvidos, não posso deixar de destacar “Carissa” e “I Can’t Live Without My Mother’s Love”, a dupla de abertura que nos remete para o que de melhor Mark Kozelek tem nos seus álbuns ao vivo. Destaco ainda o cuidadoso dedilhar (e o enorme final) de “I Watched The Film The Song Remains The Same” e a aquela última parte muito negra de “Richard Ramirez Died Today Of Natural Causes”.

A conclusão disto tudo é, como seria de esperar, marcadamente pessoal: criei aqui uma ligação emocional e não sei muito bem porquê. Benji é já o álbum de Mark Kozelek cujas letras mais explorei.

Ainda não parei de o ouvir – e não vou fazê-lo tão cedo, é mais que certo. O álbum não me vai dizer mais do que já diz sobre Jim Wise, Richard Ramirez, Carissa, Micheline ou o amigo Brett… mas sinto que vai conseguir dizer-me mais sobre Mark Kozelek. E mesmo que o não faça, pelo menos as canções continuam iguais, como o filme dos Led Zeppelin.