Assim é fácil ser feliz em Paredes de Coura

Sylvan Esso - Paredes de Coura

Quando falo de festivais, tenho de falar de expectativas. E deixem-me ir direto ao assunto: há já uns anos valentes que um festival não superava assim as minhas expectativas. Tive de regressar a Paredes de Coura para isso acontecer… mas assim que lá cheguei tornou-se tão fácil que parece impossível.

Nem precisei de passar por lá no primeiro dia, o de TV On The Radio e Slowdive. E é curioso: nenhum dos nomes ausentes da minha antevisão contribuiu para a minha felicidade. O que aconteceu foi: uma parte significativa dos concertos que tinha debaixo de olho acabaram por ser muito melhores do que eu esperava.

E o que apanhei eu, parcial ou totalmente? Steve Gunn, Father John Misty, The Legendary Tiger Man, Tame Impala, Allah-Las, Waxahatchee, Mark Lanegan Band, Charles Bradley And His Extraordinaires, The War On Drugs, Natalie Prass, Woods, Sylvan Esso, Temples, Fuzz e Lykke Li. Também apanhei com chuva, frio e uns pontapés nas costas, cortesia dos idiotas profissionais do crowdsurfing, mas isso interessa pouco para o caso.

Os melhores concertos

O que posso destacar eu dos 15 concertos que vi?

É difícil escolher concerto do festival mas tendo a inclinar-me para o gigante, enorme, espalhafatoso concerto de Charles Bradley And His Extraordinaires. Foi pouco mais de uma hora de grande soul regada a funk e confesso que estava muito curioso… mas não esperava tanto. Nem de perto nem de longe. E não há som de estúdio que pudesse preparar-me para o que ali se passou. Fiquei de queixo caído.

Father John Misty foi muito melhor do que eu esperava e conquistou-me mal entrou no palco. Aquela mistura explosiva de folk rock baladeiro, exagero performativo e atos e palavras impregnados de ironia resulta tão bem ao vivo que nem é justo pedir mais do que uma hora de concerto. Sentir-me-ia como se estivesse a roubar, honestamente. Mas é claro que me faltou um bocadinho mais de Fear Fun. No entanto, saí de lá convencido com I Love You, Honeybear.

A grande surpresa do festival? Sylvan Esso. Não dava nada por eles – estava à espera de ouvir meia dúzia de canções giras desse poço sem fundo que é a pop eletrónica independente e realmente foi o que aconteceu. Só que eu esperava uma coisa calminha e saiu-me a sorte grande em formato festa. A dupla composta por Amelia Meath e Nick Sanborn partiu tudo o que havia para partir no palco secundário e, a julgar pela reação do público a cada música, não fui o único a ficar convencido pelo que ali se passou. Definitivamente um dos concertos mais memoráveis do festival.

E os outros?

Reservo ainda um espaçoso T3 na minha memória para Natalie Prass, que me aqueceu o coração, Waxahatchee e, claro, The War On Drugs, que era a banda que mais queria ver. Quanto a eles, a coisa resume-se facilmente assim: quem gosta e conhece, adorou (eu adorei); não foi, no entanto, um daqueles concertos arrebatadores para casuais.

De resto, estou certo de que os Tame Impala convenceram quem os adora mas eu, que não, achei-os apenas competentes. O novo Currents não resulta especialmente bem ao vivo e acabaram por ser “Elephant” e “Feels Like We Only Go Backwards” a pôr toda a gente a mexer a sério.

A única desilusão foi mesmo Lykke Li, que deu um espetáculo simplesmente banal e sem tesão nenhuma. Foi uma pena.

A organização, o tempo e essas coisas

Para um festival completamente esgotado, não se esteve nada mal.

Mas não deixou de ser desconfortável circular por lá e tentar jantar qualquer coisa, por exemplo. Muita, muita gente. E muita gente a fazer crowdsurfing em momentos absolutamente inexplicáveis. Mas pronto, deixo os miúdos em paz (mas eu é que tenho razão, definitivamente).

Se pudessem vender uns quantos bilhetes a menos para se poder andar por lá, era perfeito… mas há que pôr a bilheteira a render, eu percebo. No entanto, fica a nota.

Claro que a chuva não só não é culpa da organização como é já uma tradição. Oito anos depois, voltei a dar uso ao impermeável. E pronto, ao menos não acampei naquilo.

Conclusão das conclusões

O cartaz não me deixava antever a maravilhosa experiência musical a que fui sujeito. E assim não há como não sair de Paredes de Coura satisfeito e a pensar que não posso deixar passar outra vez oito anos sem lá pôr os pés. É que a poeira, a chuva e – adivinharam – a consequente lama não são nada quando comparadas com concertos como os que vi em Paredes de Coura este ano.