12 bandas de mulheres que têm de ouvir

Dum-Dum-Girls

Estamos em 2015 e formar uma banda continua a ser coisa de homens.

Generalizo, claro, mas a diferença entre o número de bandas sem uma única mulher e sem um único homem é gritante. Bandas sem homens são ainda hoje uma raridade e não estou certo de conseguir explicar porquê.

Falta coletiva de talento não é certamente – e não precisam de mim para vos dizer isto, certo? – porque não existe tal coisa. Talvez seja um fenómeno de imitação que dura há décadas, talvez seja outra coisa qualquer. Grande parte dos músicos profissionais – atenção que não me refiro a artistas mas a músicos no sentido mais técnico do termo – do rock, do jazz e dos blues dos velhos tempos eram homens. Poderá ter a ver com isso? É possível, mas nunca encontrei dados que validassem esta hipótese.

De qualquer forma, há por aí grandes exemplos de bandas constituídas só por mulheres e é sobre elas que vamos falar. Não queremos que nada vos escape, pelo que percorremos umas quantas décadas à procura de 12 dos melhores exemplos, aqui ordenados cronologicamente.

1. The Supremes

Não havia outra forma de começar. É certamente a banda de maior sucesso desta lista. Aliás, é uma das bandas de maior sucesso internacional da década de 60, apanhando ainda um bocadinho da de 70 – provavelmente superada apenas por uns jovens britânicos conhecidos na altura como The Beatles. É simples: quem quiser falar a sério de pop dos anos 60 e da Motown, tem de ter em conta The Supremes, sobretudo na fase em que eram lideradas por Diana Ross. Com êxitos intemporais como “You Can’t Hurry Love”, “Baby Love” e “Stop! In The Name Of Love” (amor, amor, amor), há muito tempo que garantiram lugar nesta lista.

2. The Runaways

Surgiram a meio da década de 1970, no meio caminho entre a ressaca do hard rock (agora) clássico de nomes como Led Zeppelin ou KISS e o vivíssimo punk de uns Ramones ou Billy Idol. É possível que tenha sido esta indefinição de género musical a impedi-las de atingir um nível de estrelato semelhante ao de alguns dos outros nomes referidos acima, mas isso não lhes retira qualquer mérito, até porque acabaram por tornar-se num sinónimo de feminismo na música e numa das bandas mais influentes para as gerações seguintes. Infelizmente, o nome The Runaways voltou recentemente à ribalta graças às notícias que dão conta de um episódio horrível e criminoso levado a cabo por Kim Fowley, manager da banda. Mas com um som que ainda hoje parece fresco, Joan Jett, Jackie Fox e companhia trataram de deixar-nos memórias musicais bem melhores. Reparem em “Cherry Bomb”, mas vale a pena ouvir o resto, definitivamente.

3. L7

Se há pessoas que aproveitaram as portas abertas pelas Runaways, foram as L7. Não se pode dizer que tenham fundado o movimento conhecido como Riot Grrrl mas são definitivamente uma das bandas que melhor representa o seu espírito. Apareceram ainda antes de se falar de grunge, antecedendo bandas como os Mudhoney e os Nirvana, mas foi no grunge que aterraram em grande, com uma sonoridade mais pop que a de alguns dos seus pares e com Smell The Magic (1991) e Bricks Are Heavy (1992) a tornarem-se dois álbuns seminais da história do género que mudou a música norte-americana no início da década de 1990.

4. Sleater-Kinney

Um dos trios mais importantes da música norte-americana dos anos 90 e da atualidade, as Sleater-Kinney são referência do Riot Grrrl e das bandas constituídas exclusivamente por mulheres. Mas apesar de este ser um aspeto fundamental da sua identidade, o que lhes garante a posição de topo entre os maiores nomes da música de guitarras alternativa das últimas décadas é o legado que nos deixaram entre 1995 e 2005 e já este ano, com o fantástico No Cities To Love, álbum que marca o regresso conjunto de Carrie Brownstein, Janet Weiss e Corin Tucker. A carreira delas é toda ela brilhante, desde os primeiros segundos de “Don’t Think You Wanna”, música que abre o primeiro álbum (de 1995), passando pela gigante “Modern Girl”, de The Woods, o último álbum antes do hiato em 2005, até “Price Tag”, um dos melhores temas do álbum editado em 2015.

5. Electrelane

Fartos de bandas norte-americanas? Viajemos, então, até ao Reino Unido, onde em 1998 surgiu uma das bandas mais interessantes do indie rock do fim do milénio, numa altura em que parecia que ainda andava toda a gente a tentar esticar o prazo de validade da britpop para aquelas bandas. A influência pós-punk está toda lá – misturada com algum psicadelismo – e as miúdas de Brighton fizeram maravilhas ao longo de quase uma década de atividade. Infelizmente, entraram em hiato em 2007 (ano em que tocaram em Paredes de Coura), ameaçaram um regresso em 2011 (com direito a passagem pelo Milhões!) e ficaram-se por aí. Mas os quatro álbuns que nos deram até lá ficam guardados bem junto ao coração (e aos ouvidos). Como esta fantástica “Two For Joy”, de 2005.

6. CocoRosie

Continuando (mais ou menos) pela Europa, uma lista destas não podia deixar de fazer referência às irmãs norte-americanas que formaram um estranho e viciante duo no início da década passada… em Paris (a de França, mesmo). Confesso que lhes resisti durante muitos anos, sobretudo naquele auge da freak folk comandada por Devendra Banhart. A verdade é que a fusão de diferentes elementos que define a música das CocoRosie – da folk à eletrónica, passando pelo hip-hop – estranha-se e depois entranha-se forte e feio, como uma doença. E assim aconteceu com elas, sendo que dez anos depois de Noah’s Ark já podemos dizer que fazem parte da família.

7. Au Revoir Simone

Na fonte eterna de projetos que é a dream pop, as bandas dividem-se sobretudo em dois grupos: as que carregam mais no “dream” e as que carregam mais no “pop”. Formadas em Nova Iorque ali por alturas de 2003, as Au Revoir Simone fazem definitivamente parte do segundo grupo. Camadas e camadas de órgãos dão corpo a melodias doces e memoráveis, sendo que se mostraram a sério ao mundo em 2007 com The Bird Of Music, o segundo álbum. A aparente facilidade com que construíam temas imediatamente trauteáveis era quase revoltante. Nos últimos anos, têm vindo a ganhar contornos mais eletrónicos, notórios nas batidas, mas continuam a soar tão bem como sempre. Claro que, como referência, nada bate “Sad Song”, de 2007, mas isso é outra conversa.

8. amiina

A meio caminho entre a Europa e a Gronelândia, ali a roçar o círculo polar ártico, há um país de língua estranha que nos tem trazido recorrentemente alguma da melhor música das últimas duas décadas. Björk e Sigur Rós certamente não serão nomes estranhos a quem se interessa minimamente por música. E foi com os Sigur Rós como padrinhos que nos chegaram aos ouvidos as amiina (que entretanto já têm dois homens na banda, mas vamos contar com os primeiros cinco anos, sim?), um quarteto dedicado a uma espécie de folk ambiental islandesa descendente dos cenários criados, claro, pelos Sigur Rós (as amiina chegaram a fazer digressões e a partilhar palcos com eles). É certamente o exemplo menos relevante desta lista… mas a beleza de cada uma das composições da banda merece o destaque com nota artística.

9. Warpaint

À medida que nos aproximamos do final do artigo, parece que a necessidade de dar contexto histórico ao aparecimento das bandas vai desaparecendo. Estávamos cá todos para testemunhar, não é verdade? Em seu lugar, fica uma certa aura de recomendação. Mas vale a pena olhar para as californianas Warpaint com alguma atenção, sobretudo porque ganharam nome num contexto muito diferente de outras bandas nascidas na mesma altura dentro do mesmo género (Beach House ou mesmo Au Revoir Simone). Mais complexas e desafiantes do que grande parte dos seus pares, ombreando com nomes como Deerhunter e Tame Impala, as Warpaint lançaram o primeiro álbum apenas em 2010, seis anos depois da sua formação. A espera, essa, parece ter valido a pena, como o demonstra “Love Is To Die”, editada em 2014 com Warpaint, o segundo álbum da banda.

10. Dum Dum Girls

O shoegaze pode ter perdido o fulgor nos anos 90 mas é um bicho difícil de matar. E ainda bem. As Dum Dum Girls, na sua mistura de pop, rock e, lá está, o sempre acolhedor e deprimente shoegaze, são, atualmente, um dos projetos mais interessantes da cena indie de Los Angeles exatamente por não transbordarem de energia e alegria. Há um certo requinte antiquado na forma como a banda se expressa, desde as guitarras lânguidas à voz especial de Dee Dee, que faz com que as Dum Dum Girls sejam já um nome familiar do indie pop/rock desta década. A eterna descida de “Coming Down” ajudou de certeza.

11. The Staves

Já aqui falámos das irmãs Staveley-Taylor a propósito do incrível If I Was, produzido por Justin Vernon e editado já este ano. A relevância histórica das The Staves está claramente por comprovar mas o talento deste trio britânico é inegável e já dava sinais disso em 2012, quando lançaram o primeiro álbum. Folk perfeita e harmonias perfeitas que dão canções pop cheias de apontamentos interessantes e, claro está, perfeitas. Ouçam o álbum mais recente… mas ouçam também “Mexico”, a canção que lhes deu (alguma) fama.

12. Girlpool

Toda a gente sabe que o punk não está morto, mas toda a gente sente necessidade de o reafirmar de tempos a tempos, como quando acordarmos de um pesadelo e dizemos para nós próprios “era só um pesadelo, era só um pesadelo”. As californianas Girlpool reafirmaram-no não por palavras mas na música do seu álbum de estreia (o homónimo Girlpool, de 2014), um exemplo muito pouco convencional de punk rock: ele era uma guitarra claramente blues, ele era pouca distorção ao longo do álbum, ele era a ausência de bateria… Os únicos elementos dos cânones do punk eram a atitude e a duração das canções. Mas parecem estar a crescer para algo potencialmente mais experimental e, ao mesmo tempo, a brincar com algumas convenções da música rock, fundindo a sua identidade punk com uma série de referências, desde a folk de uns Simon & Garfunkel à esquisitice rock dos Modest Mouse. Uma coisa é certa: o futuro parece risonho.