Ouve-se https://ouve-se.com/ Música que não sai da cabeça Fri, 02 Feb 2024 18:06:07 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://ouve-se.com/wp-content/uploads/2017/11/cropped-disc-vinyl-icon-95145-32x32.png Ouve-se https://ouve-se.com/ 32 32 Ouve-se em fevereiro https://ouve-se.com/2024/02/playlist-fevereiro-2024/ Fri, 02 Feb 2024 17:39:11 +0000 https://ouve-se.com/?p=2074 Uma playlist com Waxahatchee, Eliza McLamb, The Japanese House e mais uns quantos. Apetece-me a primavera, uma manga curta aqui e ali e deixar que o sol faça a sua cena. Talvez por isso, entro em fevereiro com música morna nos ouvidos. Se estiverem num estado de espírito semelhante, pode ser que isto vos interesse. …

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Uma playlist com Waxahatchee, Eliza McLamb, The Japanese House e mais uns quantos.

Apetece-me a primavera, uma manga curta aqui e ali e deixar que o sol faça a sua cena. Talvez por isso, entro em fevereiro com música morna nos ouvidos. Se estiverem num estado de espírito semelhante, pode ser que isto vos interesse.

Contem com:

Eliza McLamb – “Strike”

Tema de abertura do álbum de estreia Going Through It, lançado já em 2024.

Waxahatchee – “Right Back To It” (feat. MJ Lenderman)

O regresso de Katie Crutchfield a solo (bem, mais ou menos) depois de Saint Cloud, adorado pela crítica (e moderadamente apreciado por mim) em 2020. A nova canção é mais do mesmo e eu estou perfeitamente confortável com isso. E MJ Lenderman encaixa aqui como uma luva.

The Smile – “Read The Room”

Mais uma editada já este ano. Tem rodado bem por aqui, juntamente com o resto do álbum, Wall Of Eyes.

Daffo – “Poor Madeline”

Chegou numa manhã de nevoeiro via Spotify e nunca mais se foi embora. Dois EPs, zero álbuns, um coração conquistado.

Christine And The Queens – “A Day In The Water”

Pop eletrónica em modo slow cooking.

Phosphorescent – “Revelator”

Este pedaço de americana acabou de sair do forno, mas já veio morninha. Não digam que eu não avisei.

The Japanese House – “Sunshine Baby (ITEIAD Sessions)”

Não sei muito bem explicar o que me mantém colado a esta canção. A voz baça de Amber Bain? A precisão pop dos arranjos? Tanto faz, presumo.

Frown Line – “What’s Leftover”

Esta canção ganhou a minha atenção em três segundos. E não a perdeu nos restantes 87, portanto… sucesso. Com aqueles acordes de guitarra, não havia nada que pudesse fazer, de qualquer forma.

Ethel Cain – “Thoroughfare”

Demorei um ano e meio a chegar a isto, mas cheguei e sou um tipo feliz. Sinceramente, prescindia facilmente dos dois minutos e meio finais, mas é um pequeno preço a pagar para ter o resto, portanto… I’ll come with you if you’re sure it’s what you need.

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The Smile: os Radiohead ainda existem? https://ouve-se.com/2024/02/the-smile-radiohead-ainda-existem/ Thu, 01 Feb 2024 22:15:52 +0000 https://ouve-se.com/?p=2067 Com dois álbuns editados em três anos, The Smile parece cada vez menos nome de projeto paralelo. Thom Yorke e Jonny Greenwood, os mais conhecidos, respeitados e virtuosos membros dos Radiohead, decidiram, em 2021, criar uma banda com Tom Skinner, na altura baterista dos Sons of Kemet. Esquisito, certo? Imaginem Paul McCartney e John Lennon …

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Com dois álbuns editados em três anos, The Smile parece cada vez menos nome de projeto paralelo.

Thom Yorke e Jonny Greenwood, os mais conhecidos, respeitados e virtuosos membros dos Radiohead, decidiram, em 2021, criar uma banda com Tom Skinner, na altura baterista dos Sons of Kemet. Esquisito, certo?

Imaginem Paul McCartney e John Lennon a fazerem uma coisa destas, no seu tempo. Ou Bono e The Edge. Ou os irmãos Noel e Liam Gallagher (que quase consigo imaginar a fazê-lo, por acaso). É mais do que esquisito — é absurdo.

Yorke e Greenwood são a força motriz dos Radiohead. Não ofende ninguém dizer que artisticamente, pelo menos, são os dois elementos principais da banda. O que pode levar, então, a dupla criativa dos Radiohead a querer juntar-se fora dos Radiohead?

Vá para fora cá dentro

Claramente, não é para fazer algo completamente diferente do que fazem com os Radiohead. Tanto A Light For Attracting Attention, álbum de estreia lançado em 2022, como o mais recente Wall Of Eyes estão bem próximos dos terrenos da banda. The Smile é, de resto, o projeto do universo Radiohead musicalmente mais próximo da nave-mãe. Porque será…?

Há uma parte de mim que ouve Wall Of Eyes e, por mais semelhanças que existam entre The Smile e Radiohead, rejeita a teoria da substituição. Porque não são os Radiohead. Porque lhes falta qualquer coisa para serem os Radiohead. Faltam, pelo menos, os outros elementos. E talvez falte algo mais intangível, não sei.

O que faz falta

Falta a pressão. Faltam as expectativas absurdas. Falta o processo criativo doloroso e angustiante. Falta o peso da história da banda.

Mas também falta qualquer coisa musicalmente. Falta o pingo de imediatez pop que os Radiohead sempre tiveram. Falta aquela coisa qualquer que pôs a música dos Radiohead no meu Olimpo.

Poderão argumentar que falta também eu ter 20 anos. Ou que me falta capacidade de olhar criticamente para os mais recentes álbuns da banda. Ou que me falta a capacidade auditiva para conseguir dizer isto enquanto ouço a magnífica “Bending Hectic”. Ou, mais cirurgicamente, que me falta admitir que não foram os últimos anos dos Radiohead que os colocaram no meu Olimpo.

Talvez falte. Mas sou franco. Eu ouço muito dos Radiohead em The Smile. É a mesma voz. É a mesma dupla criativa. Só que não é a mesma coisa.

É fazer as contas

Tem circulado por aí uma citação de Jonny Greenwood que, para quem gosta de coisas simples, pode ajudar a explicar a situação:

Sempre disse que preferia muito mais que os álbuns tivessem 90% da qualidade, mas fossem lançados com o dobro da frequência

Jonny Greenwood

Para mim, é a citação perfeita. Porque resume, em parte, o que sinto em relação a The Smile. São 90% dos Radiohead. A questão é que os 10% que faltam são os que faltam à maior parte dos grandes artistas e bandas e projetos musicais que não são os Radiohead.

Wall Of Eyes é um álbum excelente, mas trocava-o num instante por uma compilação de lados B dos Radiohead. Eles podem fugir da marca que criaram, mas eu não consigo fugir às comparações. É que eu sei quem são os membros da banda. E sei que têm uma banda um bocadinho melhor que não lança um álbum desde 2016.

A questão do título — se os Radiohead ainda existem — não tem resposta fácil, presumo, a não ser que sejam membros da banda. Talvez se tenham tornado numa espécie de SGPS ou marca umbrella. Talvez estejam a ver se conseguem conciliar agendas. Talvez queiram ser uma banda que só toca ao vivo (embora isso também já não aconteça há uns anos valentes). Ou… talvez tenham acabado de vez.

É certo que há vida para além dos Radiohead. The Smile, as bandas sonoras de Jonny Greenwood, os álbuns a solo de Thom Yorke, Ed O’Brien e Phil Selway. Mas, se é para viver, não é melhor fazê-lo a 100%?

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Clairo decidiu elevar a fasquia com Sling https://ouve-se.com/2021/08/clairo-decidiu-elevar-a-fasquia-com-sling/ Thu, 12 Aug 2021 15:51:22 +0000 https://ouve-se.com/?p=2043 Mas alguém no seu perfeito juízo faria o que Clairo fez com Sling? Clairo é estupidamente talentosa. E, se já o podia dizer a propósito de Immunity, o álbum de estreia editado em 2019, agora até parece um pouco desnecessário. “É claro que é talentosa, Filipe. E então?” É que não estava à espera de Sling. …

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Mas alguém no seu perfeito juízo faria o que Clairo fez com Sling?

Clairo é estupidamente talentosa. E, se já o podia dizer a propósito de Immunity, o álbum de estreia editado em 2019, agora até parece um pouco desnecessário. “É claro que é talentosa, Filipe. E então?”

É que não estava à espera de Sling. De todo. Tinha ouvido “Blouse” ainda antes do lançamento do álbum e era bonitinha, mas bem diferente. Além disso, tinha lido qualquer coisa sobre Sling ser um álbum sobre maternidade por causa de ela agora ter, bem, uma cadela, o que me fez pensar duas coisas. A saber:

  • Ó mulher, valha-me deus;
  • O álbum vai ser calminho.

E calminho é o que é. Mas também é muito mais do que isso.

Um álbum coeso

Sling tem algo de clássico, algo de analógico. Não sei se apesar de ou se exatamente por causa disto, vejo o álbum como um empreendimento bastante ambicioso. 

Quase todas as canções apresentam camadas de vozes e instrumentos e a sonoridade do álbum remete, no geral, para os anos 70. Pianos elétricos, vários tipos de sintetizadores e harmonias vocais que ocupam o espaço quando, aqui e ali, a instrumentação se torna esparsa ajudam a fazer de Sling um álbum muito coeso, muito completo, muito… álbum. O aparentemente omnipresente produtor Jack Antonoff pode ter ajudado um bocadinho.

Depois, há um pormenor que me apraz especialmente: as vozes dobradas e as melodias evocam Elliott Smith repetidamente ao longo de Sling, o que é sempre arriscado, mas, neste caso, corre muito bem. E, apesar de não ser o álbum mais imediato do mundo — não tem uma “Bags” a mandar tudo abaixo —, recompensa o tempo que lhe é dedicado.

Um animal diferente

E ela já escrevia bem, pelo que o que vou dizer a seguir não é propriamente uma notícia de última hora, mas as letras são densas e cheias de ideias interessantes e nota-se, de facto, o tema da família e da maternidade ao longo do álbum. Em Sling, a voz de Clairo continua a soar modesta e interessante. E as canções brilham e o álbum acaba por se aferrar aos nossos ouvidos. O que pode uma pessoa querer mais de um álbum?

Façam o que quiserem: ouçam o álbum todo ordenadinho do início ao fim ou escolham uma música qualquer ao acaso com esses vossos dedos gordos. Vai correr tudo bem. “Bambi”, “Amoeba”, “Zinnias”, “Harbor”, “Just For Today”, “Reaper” e até a instrumental “Joanie”, além da já referida “Blouse” — são todas canções maravilhosas. E as que eu não disse também não envergonham ninguém.

Depois de um primeiro álbum pop muito bem conseguido, alguém no seu perfeito juízo faria o que Clairo fez com Sling? Talvez não, talvez não. Mas ainda bem que ela fez isto. Sling é um animal diferente, sim, mas será, certamente, um dos meus álbuns do ano.

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A obra-prima de Cassandra Jenkins https://ouve-se.com/2021/07/a-obra-prima-de-cassandra-jenkins/ Thu, 15 Jul 2021 15:58:07 +0000 https://ouve-se.com/?p=2038 An Overview On Phenomenal Nature encontrou-me e não me quer deixar ir. Confesso que, quando vejo um álbum de determinado género com uma boa crítica no Pitchfork, ainda me obrigo a ouvi-lo. É um hábito antigo que nem sempre me traz felicidade, mas os resultados positivos acontecem com frequência suficiente para que se justifique a …

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An Overview On Phenomenal Nature encontrou-me e não me quer deixar ir.

Confesso que, quando vejo um álbum de determinado género com uma boa crítica no Pitchfork, ainda me obrigo a ouvi-lo. É um hábito antigo que nem sempre me traz felicidade, mas os resultados positivos acontecem com frequência suficiente para que se justifique a deferência.

Foi assim que Cassandra Jenkins me chegou aos ouvidos pela primeira vez. Não a conhecia — não tinha sequer ouvido falar dela até 2021. Então, como tinha de começar por algum lado, decidi começar por “Michelangelo”, tema de abertura de An Overview On Phenomenal Nature, o álbum que ela tinha acabado de lançar. A canção tinha pinta. Mas nada podia preparar-me para o que aí vinha.

Lost at last

Seguiu-se uma viagem curta, de 30 minutos, mas estranhamente emocionante e conturbada. Senti-me esquisito. Se estivesse num filme de ficção científica, estou certo de que um espelho qualquer me faria ver que tinham passado anos.

Não há uma canção que eu dispensasse de An Overview On Phenomenal Nature, um álbum de uma beleza tão penetrante que quase magoa.

Há um par de canções que me toca de forma especial: “Ambiguous Norway” e “Hailey”. A primeira é fruto do luto de Cassandra Jenkins pela morte de David Berman (o criador de Silver Jews e Purple Mountains), com quem se preparava para ir em digressão na altura. A segunda é, segundo a própria, uma canção de amor platónico dedicada à jornalista-modelo-atriz-realizadora Hailey Gates. São ambas lindíssimas e encaixam na perfeição, mas… não deviam. E isso só as torna mais cativantes.

A sensação é semelhante quando tento explicar o género de música/feitiçaria que para aqui vai. É que “Michelangelo” parece bem sentadinha no meio daquela mistura folk/rock/country a que chamam americana, mas o resto do álbum vai da folk bem arranjada de “New Bikini” à música ambiente de “The Ramble”, fruto da colaboração à distância com vários músicos e de passeios pelo Central Park para observar aves quando Nova Iorque enfrentava a pior fase da pandemia. Tudo isto com muito… saxofone.

One, two, three

Isto pode bem ser um bom pedaço de projeção, mas a pandemia parece ser um aspeto central de An Overview On Phenomenal Nature. Não nos temas, mas nos sons. Há algo de meditativo nestas canções, que funcionam como uma receita para a tranquilidade.

A canção que melhor encapsula esta receita é, claro, “Hard Drive”. Digo “claro” porque é graças a esta canção que este texto existe. Foi esta a canção a que o Pitchfork colou o seu selo de “Best New Music” (viria a fazer o mesmo ao álbum). Foi esta a canção que me deixou fodido da cabeça. E foi a ela que quis voltar imediatamente.

O entrelaçado de spoken word e uma certa cadência pós-rock faz com que “Hard Drive” seja, ao mesmo tempo, a canção mais perturbadora de An Overview On Phenomenal Nature e a melhor. É íntima, mas de todos. Pode puxar a lágrima ou um sorriso largo. Tanto parece música de viagem como coisa para ouvir no escuro. Estranha-se, mas depois entranha-se.

A única coisa que não vejo a acontecer-lhe é ser recebida com indiferença. É o momento mais bonito de um disco que é bonito de uma ponta à outra. Uma obra-prima dentro de outra obra-prima.

Cheio de um certo je ne sais quoi nova-iorquino, cheio de pormenores subtis, cheio de arte e cheio de coração: An Overview On Phenomenal Nature, de Cassandra Jenkins, tem lugar garantido (e merecido) nas listas de melhores do ano.

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Eu, swifty, me confesso https://ouve-se.com/2021/07/eu-swifty-me-confesso/ Tue, 13 Jul 2021 15:42:11 +0000 https://ouve-se.com/?p=2033 Um ano e meio é muito tempo. Este último, especificamente, pareceu durar uma vida inteira. Não parei de escrever sobre música por ter havido uma pandemia, mas acabei a fazer-lhe companhia cá em casa. O tempo que o grande acontecimento de 2020 me deu foi-me tirado pelas suas consequências, pelo inevitável avanço do tempo e …

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Um ano e meio é muito tempo. Este último, especificamente, pareceu durar uma vida inteira.

Não parei de escrever sobre música por ter havido uma pandemia, mas acabei a fazer-lhe companhia cá em casa. O tempo que o grande acontecimento de 2020 me deu foi-me tirado pelas suas consequências, pelo inevitável avanço do tempo e pela minha velha amiga inércia (ela manda um beijinho). No entanto, não é algo que me arrelie por aí além. O que este blog perdeu em atualizações, ganhei eu noutras áreas da minha vida. Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma e por aí fora.

Além disso, disse o que tinha a dizer sobre música para quem quis ouvir, sobretudo através das minhas participações no Rádio Defusão, um podcast muito bonito que, entretanto, estará na oficina durante algum tempo.

Mas, como dizia, um ano e meio é muito tempo. E, apesar de eu ser um tipo relativamente estável (aborrecido) em termos musicais (e em tudo o resto), fiz como Pedro Santana Lopes e… andei por aí. E tanto andei que acabei por chegar a Taylor Swift.

Uma simples pandemia

Se sempre tive, à distância, um fraquinho por “Blank Space” e “Shake It Off”, de 1989, a minha experiência com Lover, em 2019, não faria antever um 2020 tão… swifty. É que “Cruel Summer” e “The Archer”, só por si, não conseguem aguentar um álbum tão longo. Mas não foi preciso. Bastou uma pandemia fechar uma das maiores estrelas pop em casa e o assunto resolveu-se por si.

O que é que me arrebitou as orelhas? Naturalmente, o anúncio de que Taylor Swift iria lançar um álbum (dali a umas horas) co-produzido por Aaron Dessner, dos The National, que incluía um dueto com Justin Vernon, de Bon Iver. O mundo estava virado do avesso e esta notícia era a prova de que vinha aí o fim dos tempos. Mas não veio. O que veio foi Folkore.

E que belo álbum é. Como seria qualquer um que tivesse no alinhamento coisas como “Mirrorball”, “The Last Great American Dynasty”, “Exile”, “August”, “Illicit Affairs” e “Betty”.

Como se isto não bastasse, tivemos direito a encore: um álbum apropriadamente intitulado Evermore, com mais canções produzidas por Aaron Dessner e mais um dueto com Justin Vernon.

Demasiado tempo livre? Talvez. Vão ouvir-me queixar? Não.

O efeito-surpresa foi menor e, consequentemente, a receção dos fãs e da crítica também foi menos… exagerada. Mas Evermore é uma boa sequela. A secção final é particularmente feliz, com “Ivy”, “Long Story Short”, “Marjorie” e “Evermore” a prepararem o ouvinte para repetir a dose.

Quantidade não é qualidade, mas às vezes calha ser

Sempre fui particularmente vulnerável a encaixes perfeitos de letras em músicas e ela domina essa arte como poucos. Portanto, não pude senão deixar-me levar por essa harmonia, pelo ritmo, pela voz e, claro, pelas canções. Passei tanto tempo a ouvir Taylor Swift no último ano e meio.

Este meu despertar deu-me a desculpa perfeita para revisitar coisas como Fearless (o álbum que lhe abriu as portas da pop) e Red (o álbum que a pôs no trono) e eu não me fiz rogado. O mesmo se pode dizer dela, que, depois de Folklore e Evermore, lançou Fearless (Taylor’s Version) já em 2021 – uma nova versão em quase tudo igual à original, exceto numa coisa: os masters são dela (e, vá, traz músicas adicionais que ela foi buscar ao baú). Esta power move será seguida de outras, mas nada impressiona mais do que a sua capacidade de pôr coisas na rua. Coisas boas, entenda-se.

E está a chegar a um ponto absurdo. Agora até os Big Red Machine lançam canções com Taylor Swift. E adoraria dizer que é engraçado vê-la “desaparecer” ou adaptar-se a um tema de um projeto que muito pouco tem a ver com ela, mas não: acontece o contrário, pelo menos com “Renegade”, a primeira de duas canções com a participação de Taylor Swift presentes no próximo álbum do projeto. Parece uma canção dela. E uma das melhores desta fase. Com um refrão filhadamãe.

Quanto a mim, vou continuar a andar por aí, que estou a gostar da viagem. Já lá dizia a outra: so hey, let’s be friends / I’m dying to see how this one ends. Medo, mas ok, vamos a isso.

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Feliz Natal https://ouve-se.com/2019/12/feliz-natal-2/ Mon, 23 Dec 2019 15:51:47 +0000 https://ouve-se.com/?p=1964 Um postal típico da época. Que tenham um Natal cheio de renas, mantas quentinhas, comida boa, meias oferecidas por avós, envelopes com notinhas e e até um ou outro postal destes.

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Um postal típico da época.

Que tenham um Natal cheio de renas, mantas quentinhas, comida boa, meias oferecidas por avós, envelopes com notinhas e e até um ou outro postal destes.

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Os melhores álbuns de 2019 https://ouve-se.com/2019/12/os-melhores-albuns-de-2019/ Fri, 20 Dec 2019 09:56:06 +0000 https://ouve-se.com/?p=1955 Este é o segundo de dois artigos sobre o melhor da música em 2019. Foi bem mais fácil compor a lista de melhores canções de 2019 do que a de melhores álbuns. Primeiro porque os álbuns são maiores e mais complexos, exigindo maior investimento em termos de tempo e disponibilidade mental. Depois porque tendo a não …

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Este é o segundo de dois artigos sobre o melhor da música em 2019.

Foi bem mais fácil compor a lista de melhores canções de 2019 do que a de melhores álbuns. Primeiro porque os álbuns são maiores e mais complexos, exigindo maior investimento em termos de tempo e disponibilidade mental. Depois porque tendo a não ouvir música com que não estabeleça uma ligação emocional. Não mais do que uma vez, pelo menos. Então, às vezes é preciso que determinado álbum me chegue no momento certo, sob pena de ser atirado para a pilha dos “meh”.

Mas aqui não há pilhas nem “meh”, há as obras que mais me tocaram, os melhores álbuns de 2019:

10 – The Highwomen – The Highwomen

The Highwomen não vai mudar a vossa vida, mas é um pontapé no rabo do establishment da música country. Amanda Shires, Brandi Carlile, Maren Morris e Natalie Hemby pegaram no espírito do supergrupo The Highwaymen, criado por Johnny Cash, Kris Kristofferson, Waylon Jennings e Willie Nelson nos anos 80, e lançaram um álbum cheio de canções orelhudas que Nashville e arredores teve mesmo de escutar com atenção. E tenho a certeza de que nem lhes custa assim tanto, que The Highwomen é uma das melhores coisas que a country produziu nos últimos anos.

Só uma música? Ouçam “If She Ever Leaves Me”.

9 – Clairo – Immunity

Immunity conquistou-me ao primeiro acorde. “Alewife” abre o disco de forma a desarmar-nos, pelo que só nos resta ouvir o que Claire Cottrill tem para dizer nos 40 minutos seguintes. A voz dela é gira, bem redondinha e interessante. As canções têm cabeça, tronco e membros. O álbum está cheio de bons momentos. É o primeiro álbum de Clairo, mas Immunity deixa-me absolutamente pronto para os próximos.

Só uma música? Ouçam “Bags”.

8 – Strand of Oaks – Eraserland

Timothy Showalter não é uma pessoa dada a grandes inovações. Respira música, cresceu mergulhado nela e é por isso que Strand of Oaks é um projeto tão querido por tantos artistas e, ao mesmo tempo, tão reverente a estes e muitos outros. Eraserland é o regresso à boa forma de HEAL, depois de um Hard Love passável. Segundo Showalter, é também o regresso a uma “boa forma” mental, a um sítio melhor. É um álbum honesto, visceral, luxuoso, imperfeito e barulhento. É para ouvir sozinho, mas é para ouvir.

Só uma música? Ouçam “Weird Ways”.

7 – Hiss Golden Messenger – Terms of Surrender

M. C. Taylor é um tipo prolífico. Com dez álbuns editados desde 2009 como Hiss Golden Messenger, é bom ver que continua a fazê-lo com tanta qualidade. Vai à folk, vai ao rock, vai aos blues, vai a qualquer sítio onde precisem de uma guitarra e um tipo com coisas para dizer. E ele não se coíbe de o fazer, saltando entre o tom confessional e o manifesto político como quem muda de sol para mi menor na guitarra. Terms Of Surrender é americana de melodias simples e um dos discos mais fáceis de adorar que ouvi este ano.

Só uma música? Ouçam “I Need A Teacher”.

6 – Nick Cave & The Bad Seeds – Ghosteen

Ouvir Nick Cave nos dias que correm é estar a pedi-las. Em Ghosteen, o músico australiano consegue mais uma vez levar-nos pela mão num passeio que acaba, como tem sido hábito nos últimos anos, da mesma forma: na fossa. Tudo nele provoca dor, excepto a música propriamente dita. É um álbum lindíssimo que só nos permite perceber isso quando nos deixamos levar, mas o preço a pagar é o tempo que uma pessoa demora a levantar-se do chão. Mas vale tanto a pena.

Só uma música? Ouçam “Galleon Ship”.

5 – Better Oblivion Community Center – Better Oblivion Community Center

É um dos álbuns que mais ouvi este ano. À falta de um trabalho a solo de Phoebe Bridgers, esta colaboração dela com Conor Oberst teria de servir… e serviu. Mas não seria justo pôr as coisas apenas nesses termos. É um álbum de canções indie rock cheio de coração, com a ocasional piscadela de olho à folk e à emo, que não há como escapar às pancadas deles. Better Oblivion Community Center faz jus ao seu nome de falso centro de reabilitação e é um álbum equilibrado, coeso e cheio de bombons para os fãs da música de ambos.

Só uma música? Ouçam “Chesapeake”.

4 – Thom Yorke – ANIMA

Ver Thom Yorke ao vivo no NOS Alive foi… revelador. Não tanto porque não tinha reconhecido às canções de ANIMA, lançado uns dias antes, a qualidade que têm, mas porque não me tinha permitido estabelecer com elas a relação emocional que me faz precisar de ouvir música. E não o tinha feito porque partia para cada nova música de Thom Yorke a pensar “não é Radiohead, mas não está nada mal”. Depois disso, no entanto, o álbum fartou-se de rodar por aqui e deu para tudo: para curtir aquela batida, para mergulhar nas letras crípticas, para me perder nos pormenores que só um artista como Yorke é capaz de fazer.

Só uma música? Ouçam “Dawn Chorus”.

3 – Angel Olsen – All Mirrors

Cordas, sintetizadores e um álbum maior que a vida. All Mirrors faz pensar em como raio vai Angel Olsen conseguir fazer melhor daqui para a frente. Ouvir isto implica uma disponibilidade para sentir desconforto e nervos à flor da pele, mas é um pequeno preço a pagar para levar uma boa ensaboadela de um género musical que não é propriamente fácil de catalogar. Existe o género “não sei o que me aconteceu, mas adorei”?

Só uma música? Ouçam “All Mirrors”.

2 – Big Thief – Two Hands

Two Hands é o segundo grande álbum que os Big Thief lançaram em 2019, mas consegue superar o primeiro. Está cheio de canções bem rodadas ao vivo ao longo dos últimos anos e de recantos em que apetece ficar mais um bocadinho. É muito, muito bom. E é tão fácil ouvi-lo de uma ponta à outra. Algo me diz que vai ser um prazer continuar a regressar a Two Hands nos próximos anos.

Só uma música? Ouçam “Not”.

1 – Bon Iver – i,i

A música de Bon Iver continua a ser de uma entrega física, de uma honestidade emocional quase embaraçosa. E a minha ligação à música deles tem aqui um ponto-chave porque sinto que o que aquelas vozes e aqueles instrumentos dizem é evangelho. O que dali sai é a verdade. Por isso, continuarei a perder-me nos recantos de i,i e a emocionar-me com os seus muitos pontos altos. Por isso também, apesar de ser o pior álbum de Bon Iver, é o meu melhor álbum de 2019.

Só uma música? Ouçam “Naeem”.

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As melhores canções de 2019 https://ouve-se.com/2019/12/as-melhores-cancoes-de-2019/ Thu, 19 Dec 2019 11:05:10 +0000 https://ouve-se.com/?p=1949 Este é o primeiro de dois artigos sobre o melhor da música em 2019. 2019 foi um ano generoso. Digo isto porque imensas canções que adoro e me farto de ouvir ficaram fora do meu top 10, o que não é assim tão comum. Claro que, além disso, dediquei muito tempo a música de anos anteriores …

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Este é o primeiro de dois artigos sobre o melhor da música em 2019.

2019 foi um ano generoso. Digo isto porque imensas canções que adoro e me farto de ouvir ficaram fora do meu top 10, o que não é assim tão comum. Claro que, além disso, dediquei muito tempo a música de anos anteriores e deixei que me passasse ao lado muita coisa atual de que toda a gente fala, mas… já dei para esse peditório. Apesar de ter saído bastante da minha zona de conforto – nomeadamente em direção à pop -, esta lista não o reflete. Está cheia de canções grandiosas e de baladas bonitas. Musicalmente, é tão confortável como o colinho da mamã.

As melhores canções de 2019:

10 – The Staves – “Nothing’s Gonna Happen (Demo)”

Quando falo de conforto, é difícil bater isto. É uma demo, portanto presumo que vá haver uma versão mais vestidinha no álbum que as irmãs Staveley-Taylor têm estado a cozinhar. Por ser uma demo, estava reticente em relação a incluí-la nesta lista, mas porque não? “Nothing’s Gonna Happen” é uma balada folk muito bonita, com as habituais harmonias vocais a três, e faz-me ter saudades de quando descobri The Staves. Faz, também, com que esteja a rezar a todos os santinhos por um novo álbum delas.

9 – Purple Mountains – “That’s Just The Way That I Feel”

A morte prematura de David Berman foi uma tragédia. Nunca mais vamos ter poesia desta, mas pelo menos teremos sempre esta. Teremos sempre Silver Jews. E teremos sempre este presente de despedida agridoce. O piano de saloon empresta a “That’s Just The Way That I Feel”, música de abertura de Purple Mountains, uma alegria que ela não tem e isso torna-se óbvio quando Berman diz “And the end of all wanting is all I’ve been wanting”. É de partir o coração, mas é o que é.

8 – The National – “I Am Easy To Find”

O meu coração terá sempre espaço para The National, mesmo que já não lancem álbuns que me encham as medidas. Enquanto houver canções como “I Am Easy To Find”, uma canção-suspiro cheia de agitação e desespero discreto, não há problema. “There’s a million little battles that I’m never gonna win, anyway / I’m still waiting for you every night with ticker tape, ticker tape”, cantam eles. Também poderia servir para descrever a minha relação com eles nos dias que correm. É por canções como esta que assim é.

7 – Sharon Van Etten – “Seventeen”

Bastaria “Seventeen” para dizer que valeu a pena esperar quase cinco anos por um novo álbum de Sharon Van Etten. É uma canção de impacto imediato, sobretudo tendo em conta o catálogo dela. A energia pós-punk, os sintetizadores e a voz, sobretudo aquele bocadinho à beira de um ataque de nervos (ou, simplesmente, uma oitava acima), fazem de “Seventeen” um clássico instantâneo na carreira de Sharon Van Etten.

6 – Clairo – “Bags”

Esta miúda faz-se. Imaginem conseguir incluir um malhão destes no vosso álbum de estreia. Como diria José Mourinho quando chegou ao Chelsea pela primeira vez, you can’t. A produção de Rostam nota-se muito na percussão, mas o que mais brilha na canção é o registo vocal semi-inexpressivo de Clairo, que tem uma voz interessantíssima, mas manda versos cá para fora como quem lê os classificados. Não há como não adorar.

5 – Thom Yorke – “Dawn Chorus”

Continuando nos registos vocais semi-inexpressivos, Thom Yorke conseguiu encaixar praticamente numa só nota todos os versos de “Dawn Chorus” e o resultado final é simplesmente perfeito. “Dawn Chorus” soa triste, derrotada, final… mas todas as noites acabam numa aurora. E assim é com a canção também, que vai ganhando cor à medida que caminha para o fim. É lindíssima, é um tratado, é Thom Yorke no seu melhor.

4 – Strand of Oaks – “Weird Ways”

A canção abre o último álbum de Strand of Oaks tinha tudo para me cair no goto: coração na garganta, um bocadinho de slide guitar e um final daqueles. “Weird Ways” é uma daquelas músicas que tenho de repetir até à exaustão porque preciso daquela espécie de refrão final, do solo de guitarra, da bateria, de tudo… até me fartar. Ora, ainda não aconteceu, portanto não há como não a escolher como uma das minhas preferidas de 2019.

3 – Big Thief – “Not”

Parece um jogo de charadas, mas todas as pistas são sobre o que a palavra em falta não é. Mas uma coisa é certa: “Not” é uma viagem do caraças. Os Big Thief têm aqui um hino rock cheio de emoção e intensidade e guitarras e bateria e catarse. E, para uma canção que tem na repetição a sua principal característica, “Not” é estupidamente replayable. Parece bruxaria. Mas, como tantas outras coisas nesta canção, não é.

2 – Angel Olsen – “All Mirrors”

Angel Olsen continua a deitar paredes abaixo. All Mirrors, o álbum, é um duelo constante entre sintetizadores e cordas e é maior que a vida. E “All Mirrors”, a canção, é apenas o melhor e mais acabado exemplo do que acontece no álbum. É, a espaços, um bocadinho desconfortável nos ouvidos, mas é, também, um manual de instruções sobre como construir tensão para, depois, a libertar em estilo. “All Mirrors” é um autêntico monumento.

1 – Bon Iver – “Naeem”

i,i é o pior álbum de Bon Iver, mas não se deixem enganar pelos termos utilizados por mim: alguma daquelas maravilhas havia de ser a pior. Não faltam grandes momentos a i,i, mas nenhum chega tão alto como a épica “Naeem”. É um hino à construção de pontes (metafóricas, claro; talvez deixem o tema das infraestruturas para um álbum posterior), à empatia, ao coletivo. Nesse sentido, encapsula o espírito do álbum e o momento atual do projeto de Justin Vernon. É, também, a música certa para os tempos que vivemos. Mas nada disto interessaria se não fosse uma canção do caraças. Tem sangue na guelra e intensidade. Tem aquela coisa que faz fechar o punho, sabem? É uma canção de ação, de movimento… e é, tanto quanto consigo dizer, a melhor de 2019.

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Thom Yorke e o imbecil https://ouve-se.com/2019/12/thom-yorke-e-o-imbecil/ Mon, 02 Dec 2019 16:30:50 +0000 https://ouve-se.com/?p=1915 “And you have to make amends, to make amends to me.” Thom Yorke não escreveu isto para mim, mas podia ter escrito. Há mais de uma década que resumo o trabalho dele a solo com uma variante de “não é Radiohead, mas não está nada mal”. Não é uma descrição completamente descabida, mas é, pelo …

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“And you have to make amends, to make amends to me.”

Thom Yorke não escreveu isto para mim, mas podia ter escrito. Há mais de uma década que resumo o trabalho dele a solo com uma variante de “não é Radiohead, mas não está nada mal”. Não é uma descrição completamente descabida, mas é, pelo menos, um pouco preguiçosa. E eu preguiçoso me confesso.

Tenho pensado um pouco nisto nos últimos tempos, provavelmente desde que o vi atuar no NOS Alive. Foi um concerto muito bom e superou definitivamente as minhas expectativas. A questão é: porque é que as minhas expectativas para um concerto de Thom Yorke não estavam nos píncaros?

A resposta curta é: porque sou um imbecil. A resposta longa é um pouco mais complexa.

As expectativas de um obcecado

A minha obsessão pelos Radiohead tornou-se clara algures entre 2003 e 2004, já depois de Hail To The Thief ter sido lançado. Durante os anos seguintes, este fervor significou viver em fóruns sobre Radiohead e dedicar-me à caça de bootlegs de concertos, de novas canções e de uma espécie de sentido de pertença à comunidade. Foi neste contexto, ainda antes do repentino lançamento de In Rainbows em 2007, que Thom Yorke anunciou The Eraser, o seu primeiro álbum a solo. À falta de melhor (leia-se: Radiohead), teria de ser suficiente.

Escrevi, na altura e depois de ouvir algumas vezes o disco, o seguinte:

Este é um trabalho muito distinto de qualquer uma das obras dos Radiohead. Porque é só um dos membros, porque Jonny Greenwood só dá uma ajuda e porque, admitamos, não é tão bom. Não é tão complexo nem tão entusiasmante como um álbum dos Radiohead. Falta, ao trabalho a solo de Thom Yorke, amplitude e a montanha russa musical a que a banda de Oxford nos habituou. Ainda assim, The Eraser é melhor do que muitos dos “grandes” álbuns deste ano, é certo. Mas, quando se trata de um dos músicos mais brilhantes da actualidade, a fasquia acaba por ser um tanto ou quanto mais elevada.

É um parágrafo cheio de expectativas goradas. O homem não tinha culpa nenhuma, mas isso não me impediu. E a verdade é que, apesar de “The Eraser”, “Black Swan”, “Cymbal Rush”, “The Clock” e “Harrowdown Hill”, isto definiu o tom da minha abordagem à música que Thom Yorke editou em nome próprio a partir daí.

Em 2009, Thom Yorke deu ao mundo uma versão lindíssima de “All For The Best”, dos Miracle Legion, e um original, lançado com a banda sonora de The Twilight Saga: New Moon, chamado “Hearing Damage” que era muito, muito bom. Registei e segui em frente.

No ano seguinte, surgiu a entidade Atoms For Peace, nome de música transformada em nome de banda que incluía Flea, dos Red Hot Chili Peppers, o produtor Nigel Godrich, o baterista Joey Waronker e o percussionista Mauro Refosco. A banda começou por dar concertos por aí, mas acabou a lançar um álbum em 2013 chamado AMOK. E, mais uma vez, não faltavam malhões: “Ingenue”, “Amok”, “Reverse Running” e “Default” são alguns dos meus favoritos. Esta última acabou, inclusivamente, na minha lista de melhores do ano em 2012, já que foi lançada como single uns meses antes do álbum. Mas arriscaria dizer que o ano de lançamento foi também o último em que ouvi AMOK de uma ponta à outra.

Longe de merecer louvores, aparentemente

Tomorrow’s Modern Boxes, o segundo álbum a solo de Thom Yorke, apareceu em 2014. É provavelmente o trabalho menos interessante dele – isso mantenho -, mas “The Mother Lode”, “Truth Ray” e “YouWouldn’tLikeMeWhenI’mAngry” (lançado apenas com a edição em vinil na altura, mas disponibilizado como single online em 2017) são preciosidades que mereciam claramente mais destaque do que lhes dei. Por exemplo, acabei o pequeníssimo texto que escrevi sobre o lançamento na altura a falar do facto de os Radiohead estarem em estúdio. Há mais: apesar de ter colocado o álbum na minha lista de melhores de 2014, consegui arranjar espaço para escrever que “o trabalho a solo de Thom Yorke está longe de merecer os louvores que o mundo tem guardado para cada vez que os Radiohead lançam um álbum novo.”

2018 trouxe-nos a estreia de Thom Yorke nas bandas sonoras, com Suspiria. “Suspirium”, o primeiro single, levou-me a escrever coisas boas por aqui. Ainda assim, preambulei-as com a história do costume:

Perdoar-me-ão se vos disser que fiquei pouco entusiasmado com as notícias de que Thom Yorke se preparava para imitar Jonny Greenwood, a outra grande força criativa dos Radiohead, e entrar no mundo das bandas sonoras. Sou um grande fã da banda e atirar-me-ia à música assim que saísse, mas “entusiasmo” não seria a palavra escolhida por mim.

A banda sonora de Suspiria é uma bonita viagem. Quando nos dá canções propriamente ditas, fá-lo com beleza e emoção. Além de “Suspirium”, também “Unmade” e “Has Ended” merecem um cantinho especial no meu coração.

2019, o ano da epifania

Este ano, no entanto, houve uma combinação de fatores que contribuiu determinantemente para que esteja agora a escrever estas linhas. Em junho, Thom Yorke lançou ANIMA, o seu terceiro álbum a solo. No mesmo dia, creio, saiu uma curta-metragem no Netflix realizada por Paul Thomas Anderson que, na prática, funcionava como videoclip para três canções. E, apenas uns dias depois, Thom Yorke atuou no NOS Alive.

ANIMA tinha uns dias e eu tinha aquelas três canções na cabeça: “Traffic”, “Not The News” e “Dawn Chorus”. A primeira tem um final a que apetece regressar imediatamente a seguir. A segunda levou-me a dizer, durante o concerto, algo que nunca pensei dizer na vida: “gosto muito da batida desta música”. Mas é verdade. E “Dawn Chorus” é um tratado.

Ouvi as três no festival. Mas também ouvi umas quantas das que listei aqui anteriormente. E foi bom. Foi… revelador. Não tanto porque não tinha reconhecido às canções a qualidade que têm, mas porque não me tinha permitido estabelecer com elas a relação emocional que me faz precisar de ouvir música. E não o tinha feito porque partia para cada nova música de Thom Yorke a pensar “não é Radiohead, mas não está nada mal”.

Há meses, houve mais um lançamento ligado ao cinema: “Daily Battles”, criada para Motherless Brooklyn, filme realizado por Edward Norton. E, desta feita, o efeito foi bem mais imediato. E desafio-vos a não ficarem de queixo caído com isto:

Tenho voltado mais vezes à música de Thom Yorke a solo este ano do que nos últimos dez. Sinto que andei a perder tempo, mas o que pode um homem fazer? Não posso mudar o passado, é certo, mas posso criar playlists. E ouvir o que há para ouvir, que tenho de corrigir esta imbecilidade.

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Ser ou não ser, segundo os Big Thief https://ouve-se.com/2019/10/ser-ou-nao-ser-segundo-os-big-thief/ Thu, 31 Oct 2019 16:27:22 +0000 https://ouve-se.com/?p=1909 Não, dizem eles. Sim, digo eu. Os Big Thief são um animal estranho. Adrianne Lenker apresenta todas as características daquilo a que se convencionou chamar “bicho do mato”. Em palco, o ar tímido e reservado da vocalista é complementado pela suave ligeireza do guitarrista Buck Meek, que parece estar a fazer outra coisa qualquer. E …

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Não, dizem eles. Sim, digo eu.

Os Big Thief são um animal estranho. Adrianne Lenker apresenta todas as características daquilo a que se convencionou chamar “bicho do mato”. Em palco, o ar tímido e reservado da vocalista é complementado pela suave ligeireza do guitarrista Buck Meek, que parece estar a fazer outra coisa qualquer. E nem me façam falar do baterista, que é todo um espetáculo por si só.

Quase tão estranho como o quadro que pintei é o facto de terem decidido lançar dois álbuns este ano, como se estivéssemos nos anos 60 e não houvesse tempo a perder. Depois do aclamado U.F.O.F., lançado em maio, os Big Thief não quiseram perder tempo e mandaram Two Hands cá para fora em outubro. A minha conclusão: se é para lançar álbuns destes, até podem fazê-lo todos os meses.

O álbum é muito bom, a banda está bem e recomenda-se. Two Hands está cheio de canções bem rodadas ao vivo ao longo dos últimos anos, mas há uma delas que se destaca mais do que qualquer outra. Chama-se “Not”.

A canção parece um jogo de charadas, mas todas as pistas são sobre o que a palavra em falta não é. Não estou certo de conseguir perceber do que raio está ela a falar enquanto mapeia todas as coisas que não são, mas reconheço a intensidade, a intimidade e a emoção que “Not” carrega.

É uma viagem do caraças. Simples, sem floreados nem arranjos, parte para cima de nós com tudo. Começa num registo rock semi-vivaz e acaba a partir-nos a cabeça com um solo de guitarra que dura quase três minutos. O segredo não é o que cresce durante este tempo, mas o que consegue fazer através da repetição.

A voz de Adrianne Lenker começa a apertar e arranhar à medida que vai listando todos os “nãos”. Dou por mim a cantar o refrão, ansioso, de coração acelerado e um pouco comovido. Continuo sem saber porquê, mas talvez seja a voz. Ou as guitarras. Ou a bateria. A verdade é que tudo o que me parece catártico costuma chegar-me bem aos ouvidos. E, apesar de se tentar definir pelo que não é, “Not” é catarse. É, também, uma das melhores canções de 2019.

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