A minha relação com os Sigur Rós é estranha. Começou tarde e a más horas, já depois de ( ) andar pelas bocas do mundo, mas só quando Takk… apareceu é que eles me agarraram completamente. As melodias e forma como eram postas em prática viciaram-me de tal forma que há, ainda hoje, muito poucos discos que considere superiores a este. De qualquer forma, só depois é que comecei a explorar convenientemente os álbuns anteriores e o conceptual ( )começou a ganhar força. Aquelas músicas feitas de crescendos extenuantes eram arrebatadoras e, por esta altura, já eu estava conquistado. O aclamado Ágætis Byrjun, segundo álbum da banda (o primeiro foi Von, lançado em 1997), curiosamente, foi o último que me chegou convenientemente aos ouvidos… e acho que nunca chegou ao nível dos outros. Depois vieram os concertos no Coliseu de Lisboa e no Pavilhão Atlântico e a coisa acalmou.
Mas porque é que a minha relação com os Sigur Rós é estranha? Porque, de repente, o vício passou e deu lugar a uma relação seca à distância que, só com grande esforço, tinha aproximações. Comprei a compilação Hvarf/Heim e gostei… mas pouco mais. E é neste ambiente tenso entre nós que os Sigur Rós lançam o impronunciável Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust.
O single é alarmante. “Gobbledigook” é demasiado upbeat para Sigur Rós, o que me tornou impossível a espera pelo novo álbum. Seria tudo assim? Seria possível?
A resposta é: não. Despachada “Gobbledigook”, que é a música que abre o disco, os Sigur Rós recordam-nos que, para alegrar e fazer dançar, andam cá muitos outros. Os Sigur Rós mandam, assim, a nossa alegria inicial (ou o susto, no meu caso) à fava e mostram que quatro gajos melancólicos da Islândia fazem mesmo é coisas como “Ára Bátur” e “Festival”.
O ambiente é semelhante ao de Takk… mas mais primaveril (ou talvez eu esteja influenciado pela capa do álbum). As melodias continuam quase perfeitas mas parecem estar mais despidas de arranjos instrumentais.
Não se vê a depressão profunda de ( ) nem a riqueza de texturas de Ágætis Byrjun em quase ponto nenhum de Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust. Takk… era de uma grandeza pop quase inatingível; agora, os Sigur Rós decidiram voltar à Terra e descansar um bocadinho. Ainda se notam resquícios do último álbum da banda em faixas como “Inní Mér Syngur Vitleysingur” ou “Við Spilum Endalaust”, mas o tom dominante agora é um outro… muito mais pacífico.
Apesar de ser uma obra menor quando comparada com Takk…, o novo álbum dos Sigur Rós é, ainda assim, um óptimo registo, um dos melhores álbuns que 2008 viu até agora.
Agora é esperar pelo regresso deles a Portugal, que está marcado para o dia 11 de Novembro no Campo Pequeno, em Lisboa.