Polaroid

A compilação cheia de estrelas da pop/rock independente já está na rua. São 31 canções, umas melhores que outras, mas todas com um objectivo bastante nobre: angariar dinheiro e chamar a atenção para o problema da Sida. Uns fazem-no com celebridades, outros com imagens chocantes. A Red Hot fá-lo através da cultura popular.

Quanto à música propriamente dita, pode dizer-se que é muita. Demasiada mesmo. O número elevado de faixas faz com que dificilmente me recorde da maioria das músicas do segundo CD. Por exemplo, a música dos The Arcade Fire parece tirada do monte dos restos. E o Kevin Drew também não impressiona com a sua mais que lo-fi “Love vs. Porn” (no género, prefiro a fantástica “Summer Time Dues”). Escapam-se Beirut com “Mimizan”, My Morning Jacket com “El Corporal” e Yo La Tengo com “Gentle Hour (Snapper)”. Conor Oberst reciclou “Lua” com Gillian Welch e os The New Pornographers ficaram um pouco abaixo do esperado. Cat Power é linda e tudo o resto… mas pouco acrescenta à mais que batida “Amazing Grace”.

Comecei ao contrário porque o primeiro disco é bem mais interessante. Uma das equipas que mais se destaca é a de The Books com José González na espectacular “Cello Song”, um original de Nick Drake. Claro que há algumas desilusões: The Decemberists, Sufjan Stevens e Feist são bons (maus) exemplos. Mas há mais coisas positivas: The National e a espevitada “So Far Around The Bend” e os bons momentos de Justin Vernon como Bon Iver em “Brackett, WI” e como Justin Vernon propriamente dito em “Big Red Machine”, uma música cuja autoria partilha com Aaron Dessner, guitarrista dos The National e co-produtor desta compilação.

O momento mais surpreendente desta maratona musical é, no entanto, a parceria entre Antony e Bryce Dessner (o outro produtor…) em “I Was Young When I Left Home”, um tema original do grande Bob Dylan. Antony nem parece o mesmo… e deve ser por isso que gosto tanto da música. Está folksy e o motivo é mais do que óbvio.

É uma boa polaroid do indie rock da década, como diz a Popstock na conversa comercial de promoção do disco. É por isso que é tão irregular e defeituosa… mas é aí que está a beleza.