Não estou certo de perceber bem o que se passa com o negócio da música gravada. Quer dizer, sei que a coisa não anda famosa – apesar de ainda se baterem recordes com relativa facilidade – mas também sei que tenho visto muita informação contraditória nos últimos anos.
Foco-me por momentos nas majors. Porquê? Porque são potenciais agentes de mudança óbvios, já que têm dimensão e dinheiro para pôr as coisas a andar.
A dimensão e o dinheiro são, paradoxalmente, os principais motivos para a estagnação criativa da indústria. As coisas estavam boas como estavam antes (para elas) e o esforço financeiro das principais editoras tem ido directamente para a manutenção do status quo. Mas esta luta contra o mundo tem tido resultados desapontantes (para elas).
Claro que houve evoluções – o crescimento dos downloads pagos, mais campanhas de mid-price (pelo menos em Portugal notou-se um crescimento bastante acentuado) e afins, melhor oferta, etc. – mas as principais editoras foram na onda quando, pelo dinheiro e pela dimensão que têm, deveriam ser a onda.
E agora? Agora estamos num momento perigoso. Enquanto lêem este texto, há uns quantos lobbyistas profissionais a tentarem influenciar os legisladores europeus no sentido de pôr em prática leis mais apertadas de combate à partilha de música. Imposições aos ISPs, vigilância mais apertada… No fundo, caminhamos para uma Internet menos neutra do que o desejável, para um cenário mais próximo do de caóticos filmes futuristas de ficção-científica. Para mim, é surpreendente que não se ouça falar sobre isto senão nos sítios do costume – e que esta quase crítica sirva também para mim.
É que as coisas estão mesmo a andar.