Numa altura em que, como acrescento à já habitual azáfama das listas dos melhores álbuns do ano, a Web e as revistas se enchem de tops da década, parece-me adequado falar sobre o assunto de forma diferente. Isto é sobre os últimos dez anos e a música vistos daqui.
Sou um tipo relativamente novo, como sabem, pelo que vamos todos ignorar 2000, 2001, 2002 e grande parte de 2003. Primeiro porque tinha mau gosto numa idade em que isso começa a ser inaceitável. Depois porque a minha relação com a música tornou-se bem mais interessante a partir do momento em que as minhas bandas sonoras começaram a mudar. Posto isto, é apenas normal que olhe para esta década como a da descoberta.
Começou com umas dicas de colegas de faculdade e acabou como se vê. Não me imagino sem os meus Radiohead nem sem todas as micro-fases de descoberta musica por que passei – Coldplay, Jeff Buckley, Tool, Mogwai, Sigur Rós, Broken Social Scene e por aí fora. É óbvio que só um bocadinho do que fui ouvindo era música do momento; as outras décadas deram uma ajuda.
O hiddentrack.net, um projecto que lancei com um amigo, ajudou à festa, bem como este e outros blogs que fui alimentando ao longo dos anos. Fui obrigado a procurar informação constantemente, o que só me aguçou o apetite. E ainda tenho um longo caminho a percorrer.
Há uns tempos, uma amiga descreveu-me como uma pessoa unidimensional. Às vezes receio, de modo grosseiro, que as coisas estejam realmente nesse ponto. Vejam, por exemplo, que quase todos os livros que recebi no meu aniversário e no Natal (não foram muitos, mas ainda assim…) são sobre música. Já para não falar dos discos.
Não consigo deixar de pensar que a culpa desta minha unidimensionalidade é, em parte, desta década. Mas não há muito que possa fazer.