Estava a dever-vos estes parágrafos. O álbum dos Arcade Fire já saiu há algum tempo e prometi a mim mesmo que ia escrever sobre ele, apesar da relação aberta que mantenho com a banda (será que eles sabem?).
Os Arcade Fire são os reis do hype. Funeral, lançado em 2004, causou um pandemónio em 2005: a música deles era demasiado tensa, demasiado libertadora, demasiado descomprometida, demasiado boa. Confesso que demorei um bocadinho a perceber… mas o hype justificava-se perfeitamente.
Felizmente, a expectativa não deu cabo de Neon Bible, o segundo álbum da banda. Claro que não foi a mesma coisa – não há amor como o primeiro e tudo o resto. Mas o álbum era muito bom à mesma.
Depois da adolescência e da morte de Funeral e do fim dos tempos de Neon Bible, chega The Suburbs, um álbum menos virado para a escatologia e mais para o impasse. Neste disco, são muitas as canções que visitam a noção de impasse, de terra de ninguém cheia de gente. Às vezes com uma ideia clara do caminho a seguir, às vezes não.
O som clássico dos Arcade Fire continua bem representado – estou certo de que Bruce Springsteen ficaria orgulhoso com um tema como “Ready to Start” – mas a banda canadiana dá um passo extra em direcção à pop, abraçando alguns sons não tão habituais por aquelas paragens. Ouçam a (só) aparentemente doce electro-pop de “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)” e digam-me que não tenho razão. Como diria José Mourinho, “you can’t” (ler sem pronúncia inglesa, por favor).
The Suburbs tem os seus problemas. O mais óbvio é o tamanho. Ninguém quer ouvir 16 músicas num álbum (a não ser que esse álbum seja dos Radiohead – aí podem fazer discos especiais de 3 horas, que tanto me faz). Além de ninguém querer ouvir 16 músicas, a probabilidade de algumas delas serem um tanto ou quanto manhosas é relativamente elevada. E no caso deste álbum, confirma-se. Dispensavam-se coisas como “City With No Children” ou “Deep Blue”. Não é que sejam absolutamente intragáveis… mas não são canções como estas que fazem dos Arcade Fire uma das melhores bandas da actualidade.
Valham-nos canções como “Suburban War” (aquele final!) ou “Month of May” para compensarem. E tenho de destacar o tema que melhor condensa o espírito suburbano do álbum: “Empty Room”. Tem a urgência e aquele “não sei muito bem o que vou fazer agora” que já existiam um pouco em Funeral. E tal como em Funeral, esta quase contradição entre não saber o que fazer e fazer o que quer que seja já toma conta e guia o álbum por paisagens suburbanas, coisa moderna. Musicalmente, “Empty Room” é uma das mais simples e directas que os Arcade Fire já editaram: guitarras, baixo, violinos e bateria a toda a velocidade do princípio ao fim.
Não liguem muito às minhas comparações com Funeral. Não está, de todo, ao mesmo nível. The Suburbs dispersa-se muito e não consegue levar-nos verdadeiramente para aquele mundo de centros comerciais vazios até perder de vista. É um álbum cheio de momentos interessantes, é verdade, mas os Arcade Fire são uma das melhores bandas da actualidade. De bandas assim, queremos este mundo e o outro. Eles deram-nos os subúrbios. Não chega.