Isto não é uma crítica

Helios - Eingya

Há obras sobre as quais não nos sentimos habilitados a falar. Não me refiro sequer às grandes obras, aquelas que dão origem a ensaios atrás de ensaios onde autores infatigavelmente curiosos exploram cada palavra dita, cada acorde tocado num determinado álbum. Às vezes é só mesmo porque não estamos para aí virados. Às vezes, nem explicação arranjamos.

É mais ou menos isso que sinto relativamente a Eingya, um álbum relativamente obscuro de Helios, projecto de um artista (também ele) relativamente obscuro chamado Keith Kenniff. Este músico norte-americano tem feito carreira mais pelos caminhos da electrónica ambiental do que por outro género qualquer… mas Eingya não é bem isso. E não é chill out, definitivamente. E não é bem pós-rock. Bem, a esta altura já devem ter percebido que não tenho realmente certeza do que é.

Gosto deste álbum ao ponto de o considerar um dos melhores da última década. Por ser instrumental, não toca por aqui tantas vezes como deveria mas, ainda assim, tem sido uma presença relativamente constante. É música para a manhã, definitivamente. Para manhãs frescas de Primavera/Verão (como os desfiles).

A minha vida não mudou especialmente por ter ouvido Eingya (pelo menos, tanto quanto me é possível afirmar uma coisa tão arrogante como esta) mas a capacidade que este álbum tem de me trazer microfelicidade – de me drogar, em boa verdade – é simplesmente avassaladora. Microfelicidade em “Halving The Compass”, quando entra o baixo. Microfelicidade na guitarra de “Bless This Morning Year”. Microfelicidade nas batidas de “Dragonfly Across
An Ancient Sky” e “The Toy Garden”. E por aí fora.

Vocês percebem. Ou, pelo menos, perceberão se ouvirem o
álbum.

Eingya é um disco confortável, acolhedor. Se os discos
tivessem braços, este teria os braços abertos.

Isto não é uma crítica. É mais um agradecimento. Ao João Moço, que cumpriu há uns anos o seu desígnio de crítico amador e me aguçou a curiosidade. E ao Keith Kenniff, claro, por ter feito uma coisa destas.