O meu quinto concerto dos The National foi o que se esperava

Ontem vi os The National ao vivo pela quinta vez e, por este andar, não me vou cansar tão cedo. E o motivo é relativamente simples: gosto mesmo muito da música deles e eles são mesmo muito bons ao vivo. Se me perguntarem, digo-vos que em equipa que ganha não se mexe.

Agora, o espectáculo propriamente dito. Depois de uma primeira parte morna e relativamente desinteressante levada a cabo pelos Dark Dark Dark no Campo Pequeno, os The National abriram o concerto com a crescentemente tensa “Start a War”. Uma boa forma de começar… mas sobretudo uma forma
representativa de o fazer. É que, na maioria das vezes, os The National são isso mesmo: tensão acumulada que raramente chega a libertar-se. “Anyone’s Ghost”, que se seguiu, também é um bom exemplo. Caraças, High Violet é todo ele um bom exemplo.

Ao vivo, no entanto, os The National tentam (ou, mesmo que não tentem, conseguem) tornar a coisa um bocado mais catártica e, muito graças ao trabalho dos irmãos Dessner nas guitarras, não é raro uma canção acabar por explodir ao vivo. “Squalor Victoria”, uma das músicas menos interessantes de Boxer, é um excelente exemplo do que acabo de dizer. Ao vivo, só apetece repetir aquele final vezes e vezes sem conta.

Concentradíssimos em High Violet – só não ouvimos “Lemonworld” e “Runaway” -, os The National não esqueceram, como seria de esperar, algumas das grandes músicas de Alligator e Boxer, os dois álbuns anteriores. Ao longo da noite, tivemos a sorte de ouvir “Slow Show”, “Secret Meeting”, a espectacularmente barulhenta “Abel” ou “Apartment Story” (uma das minhas favoritas), entre outras. Foram quase duas horas disto. Quase duas horas de alguma da melhor música da actualidade.

O que acho curioso – e que atesta mais ou menos a qualidade de High Violet –é o facto de algumas das músicas do último álbum já serem das melhores que os The National mostram ao vivo. “Afraid of Everyone” destaca-se mas não é a única.

Mas falta aqui muita coisa, não é? Pois, porque o melhor ficou mesmo para o fim.

Para mim, o final começa com a belíssima “Lucky You”. Para os menos atentos, isto equivale a dizer que o final do concerto equivale ao último terço do concerto. Compreendo que tenham dificuldade em aceitar… mas não me interessa. “Lucky You” foi a única canção de Sad Songs For Dirty Lovers que os The National tocaram ontem e ainda bem que, a terem de escolher, a escolha recaiu sobre a tristeza resignada desta música. Depois disto, foi um festival. A maravilhosa “England” (que me faz recordar coisas que nunca aconteceram, não sei porquê) e a clássica (e uma das favoritas do público português, quer-me parecer) “Fake Empire”. É uma sequência de canções simplesmente
impossível de bater.

O primeiro encore trouxe-nos uma surpresa… mas uma surpresa há muito exigida pelo público português: “Friend of Mine”. Esta canção escondida lá para o meio de Alligator foi muito pedida (que é como quem diz cantada) pelo público no fantástico concerto que os The National deram em Guimarães sem que a banda tivesse acedido ao pedido. Pois que foi agora. E correu quase tudo bem, se tivermos em conta que eles nunca tocam a música ao vivo (nunca mesmo). De resto, a já esperada “Mr. November” foi a celebração do costume – e não deixem que a minha aparente indiferença vos engane, que nada há de costumeiro no que acontece em “Mr. November” ao vivo – e “Terrible Love” confirma-se já como uma das grandes músicas dos The
National. A versão ligeiramente diferente do álbum não está sequer próxima de deixar transparecer o que esta canção é ao vivo. Uma grande, grande maneira de fechar o encore.

Depois veio o segundo encore e, com ele, uma das músicas mais tristes de sempre (que, convenhamos, os The National são da tristeza e não têm que o esconder): “About Today”. E seria uma excelente forma de fechar um concerto (como fizeram, de resto, no Super Bock Super Rock em 2010) mas, nesta digressão, eles têm feito uma coisa gira que decidiram fazer também em Lisboa. Uma versão acústica e total e literalmente unplugged de “Vanderlyle Crybaby Geeks”. A banda toda na frente, armada de guitarras acústicas e pandeireta, sem microfones, a cantar connosco… foi um momento inesquecível. Compreendo que nas galerias a coisa tivesse tido bastante menos piada… mas ali à frente foi qualquer coisa. Que forma de terminar.

Muito suor, algumas lágrimas (não minhas, que eu não choro) e uma certamente aceitável dor nas pernas são apenas as consequências naturais de um concerto assim. Assim, gigante. Assim, como eu esperava.

Para mim, a coisa acabou por ser ainda mais inesquecível por causa da conversa, dos autógrafos e das fotos após o concerto. Agora tenho a capa do novo single Think You Can Wait/Exile Vilify (em vinil transparente!) toda
riscada.

Pois que vi os The National ao vivo pela quinta vez e adorei mais uma vez. Se quiserem, posso empilhar os concertos todos por preferência daqui a algum tempo… mas este ainda está demasiado fresco na memória para poder fazer uma avaliação justa. Para já, vou aproveitando esta espécie de pedrada pós-concerto.