Este é o terceiro de três posts sobre o melhor da música em 2011.
Apresento-vos os meus dez álbuns favoritos de 2011. É uma lista conservadora e pouco ecléctica mas é o espelho dos meus padrões musicais no ano que agora termina. Dito isto, faço a minha tradicional ressalva: se publicasse este post daqui a uma semana, o resultado seria certamente diferente (não muito… mas vocês percebem).
Os meus dez álbuns favoritos deste ano:
10 – Girls – Father, Son, Holy Ghost
À partida, não haveria muitos motivos para que os Girls estivessem nesta lista. É que o indie rock perfeitinho desta banda de São Francisco não oferece, à primeira audição, traços que os diferenciem da multidão. Mas é aí que está o truque – ouçam o álbum uma segunda vez. Aí, já conseguirão ouvir “Alex” ou “Die” com outro espírito, um mais disponível para ouvir os fantásticos pormenores que Father, Son, Holy Ghost apresenta. E depois há a épica “Vomit”, o ponto alto do álbum… e uma espécie de exemplo condensado do que se pode esperar dos Girls.
9 – Yuck – Yuck
O álbum de estreia dos londrinos Yuck é um elogio ao rock cheio de distorção, feedback e pedais dos anos 90. Não me parece que sejam do grunge – diria que estão a meio caminho entre isso e bandas como Yo La Tengo e Sonic Youth (mas ainda têm de comer muita Cerelac para lá chegarem). Basicamente, os Yuck prometem muito… e temas como “Holing Out”, “Shook Down” ou a já referida “Rubber” parecem dar algumas garantias.
8 – PJ Harvey – Let England Shake
A minha relação com a PJ Harvey é praticamente ocasional. Bem sei que isto é a modos que um sacrilégio mas… que pode um homem fazer? Os últimos álbuns dela são um tanto ou quanto barrocos (White Chalk, pá!) e também tive alguma dificuldade com isso. Mas Let England Shake tem qualquer coisa que o coloca acima do resto. É um daqueles álbuns que devemos ouvir sem distracções. “The Words That Maketh Murder” e “Hanging In The Wire” são dois exemplos do que quero dizer.
7 – Low – C’mon
C’mon é um álbum fantástico. “Try To Sleep”, “Witches”, “Especially Me”, “Something’s Turning Over”… escolham vocês. É deprimente, assustador, um bocadinho estranho e muito, muito bom. O que seria de esperar dos Low, portanto. A consistência é uma característica muito pouco destacada por aí. Anda sempre tudo à procura da novidade, da próxima grande coisa. Nada contra. Mas nem pensar que vou ignorar as grandes coisas actuais. E os Low fazem grande música. Não peço muito mais deles.
6 – M83 – Hurry Up, We’re Dreaming
Apesar de eu não ser muito da electrónica, há coisas que não consigo ignorar. E era preciso estar em Marte para conseguir ignorar o gigante Hurry Up, We’re Dreaming dos M83. Grandioso do início ao fim e cheio de grandes canções – até a porra da “Intro” é épica! -, este álbum é quase cansativo. É um álbum duplo e isso nota-se, claro, mas creio que eles conseguiram safar-se com esta. Um álbum duplo é sempre arriscado (que é como quem diz “dura demasiado”), ainda mais se for uma autêntica epopeia áudio… mas eles conseguiram, definitivamente.
5 – Kurt Vile – Smoke Ring For My Halo
Se, como eu, associavam Kurt Vile a lo-fi… bem, esqueçam. Este músico norte americano parece ter arrumado de vez o lo-fi a um canto e deixem-me dizer vos que valeu a pena. Smoke Ring For My Halo parece mostrar-nos um Kurt Vile mais à vontade consigo mesmo, mais disposto a arriscar – o que, no caso dele, curiosamente, significa fazer música mais, à falta de melhor termo, pop. Claro que a folk continua a ser uma grande parte da música de Kurt Vile mas há um lado rock menos desgrenhado, mais arrumadinho. É como se a música de Kurt Vile tivesse tomado um banhinho e fosse conhecer o pai da namorada (OK, isto não faz sentido nenhum). Mas a qualidade continua intacta. “Society Is My Friend” e “In My Time” não me deixam mentir.
4 – The Antlers – Burst Apart
Devo ser a única pessoa no mundo que gosta mais de Burst Apart do que de Hospice. E atenção que Hospice é um grande álbum – mais experimental, menos pop… mas um grande álbum. Mas Burst Apart dá aquele corajoso passo extra em direcção à grandiosidade. Canções como “I Don’t Want Love”, “Hounds” ou a maravilhosa “No Widows” – isto já para não falar de “Corsicana”, claro – fazem deste álbum um dos melhores do ano e, até ver, o melhor que os The Antlers já fizeram.
3 – Dan Mangan – Oh Fortune
Oh Fortune mostra-nos Dan Mangan num grande momento. É o álbum mais abrangente e completo deste músico canadiano. Temos rock, temos pop, temos folk, temos até uma espécie de valsa logo a abrir. Além disto, mantém se o “Sold my soul to the devil for nice penmanship” que Dan Mangan referia em “Tina’s Glorious Comeback”, no álbum anterior. Quero com isto dizer que ele continua a escrever letras simplesmente brilhantes, sem grandes merdas. E tem canções do tamanho do mundo: “Post-War Blues”, “Starts With Them, Ends With Us”, “Rows of Houses”… digam-me vocês. Ah, e uma das canções do ano: “If I am Dead”. Se não ouviram ou nem sequer conhecem, não sabem o que perdem.
2 – Radiohead – The King of Limbs
É engraçado ver um álbum de Radiohead fora dos destaques do ano. E penso honestamente que, apesar de estar seguramente uns furos abaixo de quase todos os álbuns da banda, The King of Limbs é um dos melhores álbuns do ano.
OK, já toda a gente sabe da minha obsessão com Radiohead mas para mim é simples: regra geral, eles fazem música muito acima dos que estão acima da média.
Assim, um dos piores álbuns deles é, à mesma, um dos melhores álbuns do ano. Foi difícil ouvir canções melhores que “Lotus Flower”, “Codex”, “Bloom” ou “Separator” por aí em 2011. Acho é que estamos todos mal habituados. O que The King of Limbs não consegue é estar ao nível a que os Radiohead nos habituaram. Mas esqueçam que são eles e aproveitem o álbum pelo que é. Um grande, grande disco.
1 – Bon Iver – Bon Iver, Bon Iver
Isto não é surpresa para ninguém. Bon Iver, Bon Iver é o melhor álbum do ano e, para mim, um dos melhores álbuns de sempre, um 10/10. Vale a pena ouvi-lo vezes e vezes sem conta do início ao fim. Da monumental “Perth” à incompreendida “Beth/Rest”, passando por “Calgary”, “Holocene”, “Hinnom, TX” e “Minnesota, WI” como se nada mais houvesse para ouvir no mundo. Este ano, foi quase assim. Bon Iver e os outros. Um dos momentos mais altos da música.
Desde o momento em que me passou pelos ouvidos, Bon Iver, Bon Iver praticamente garantiu o primeiro lugar nesta lista. Justin Vernon mostrou mais uma vez, depois de um primeiro álbum e um EP de grande qualidade, que o seu sucesso não é coincidência. E mostrou-o da melhor forma possível. Não havia outra hipótese senão reconhecê-lo.