Coragem

girls

Não me presto especialmente a gostar de canções por motivos externos às canções propriamente ditas, embora seja certamente influenciável por diversos factores, como o facto de conhecer e gostar ou não do artista ou da banda, por exemplo. Dito isto, o contrário já é mais fácil de acontecer. Não gostar de canções simplesmente por motivos externos… é o pão nosso de cada dia. Mas pronto, I’m only human.

Normalmente, tanto me faz se uma banda arrisca muito ou pouco; interessa-me, isso sim, se gosto do que fazem ou não. Há, no entanto, excepções que confirmam a regra. Os Girls são uma destas excepções. “Vomit” é uma destas excepções. E vocês, conhecendo a música ou não, ainda não perceberam o meu raciocínio, estou certo. Mas já lá vamos.

“Vomit” é uma grande, grande música. Guitarra tristonha, voz esquiva e letra carente são elementos que contribuem para que a canção se instale. Os urbano-depressivos saberão apreciar. O refrão de guitarra distorcida em punho embrulha tudo bem embrulhadinho e a coisa está bem mais que bem encaminhada. E depois vem a parte final, cheio de órgão à blues, voz feminina à soul, um coro de “ahs” e “uhs” e um solo de guitarra relativamente simples. E aqui começamos a desconfiar. Ou a adorar.

E é aqui que o meu argumento inicial vem dar. É que é preciso uma certa dose de coragem para fazer uma coisa destas a uma canção. Atenção que eu adoro a música… mas estou perfeitamente convencido que só gosto tanto dela por causa do final… e, em circunstâncias normais, uma banda desconhecida para mim seria corrida a pontapé depois das coisas que descrevi. E, ainda assim, acontece exactamente o contrário. Esta espécie de coragem para transformar a canção no que ela é (mais do que a inclusão da voz feminina, do órgão e do solo de guitarra propriamente dita) eleva “Vomit” a outro patamar, um patamar a que se chega com vontade de pôr a canção a tocar do início vezes e vezes sem conta… só para ouvir o final outra vez.