Os motivos variam muito mas acho que começo a acumular uma boa dose de concertos inesquecíveis. Umas vezes, é porque a música é impossivelmente boa. Outras, por questões de contexto. Há outras ainda que juntam as duas coisas. O concerto dos Low no Cine-Teatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira, no âmbito do Festival para Gente Sentada, foi uma dessas vezes.
Não arranjei companhia, portanto fui sozinho. Low é uma daquelas bandas que não espero ver muitas vezes ao vivo, portanto tinha de ser. Cheguei lá e sentei-me no melhor lugar da casa – fila da frente, cadeira do meio.
So far, so good.
Sendo um festival – e um dos mais interessantes da extensa lista de festivais portugueses -, havia duas bandas a abrir. E é aqui que atingimos o ponto mais baixo: os Aquaparque. Não há palavras bonitas para descrever os Aquaparque. Atrás de mim, ontem, alguém dizia que os miúdos não morreram por más condições do infame parque aquático. Para eles, aparentemente, foi da música. E digamos que percebo o ponto de vista. As vozes, as músicas, a presença, as letras… tudo lamentável. Valeram-nos os A Jigsaw, que não conhecia. Foram uma grande, grande surpresa. Não são propriamente os tipos mais revolucionários do mundo – aquele blues folk já se ouviu em qualquer lado, de uma maneira ou de outra – mas são muito, muito competentes. Fiquei com vontade de ouvir mais.
Pela meia-noite, Alan Sparhawk, Mimi Parker e Steve Garrington começaram a preparar o palco, juntamente com alguns roadies. Não é coisa que se veja todos os dias numa banda com quase 20 anos de carreira… mas aconteceu,
pronto. É o que é.
E depois veio o concerto. E foi fantástico. A determinada altura, tocaram “Witches”, “Try to Sleep”, “Monkey” e “Sunflower”… assim, de seguida. E se isto não bastasse, o set foi relativamente curto (o concerto terminou 1h40 depois) mas quase perfeito. Uma espécie de bomba musical. Tivemos ainda direito a canções como “Especially Me”, “Silver Rider” (uma das óbvias), “Murderer” e a fantástica “Violent Past”.
E eles foram tocando umas a seguir às outras, como se não fosse nada com eles. É que, apesar dos quase 20 anos de carreira, os Low estão numa fase fantástica.
C’mon é a prova disso mesmo – um álbum gigante ao primeiro contacto que consegue, ainda assim, crescer à medida que o vamos ouvindo. Arriscaria até dizer que é um dos melhores álbuns editados até hoje pela banda norte-americana.
E foi de C’mon que saiu um dos pontos mais altos do concerto: “Nothing But Heart”. Aqui, para descrever o que se passou, não consigo dizer senão… I am nothing but heart.
Não vou falar do talento de Alan Sparhawk para a guitarra nem do minimalismo da bateria de Mimi Parker. Mas é preciso dizer que as vozes de ambos parecem estar melhores do que nunca. É incrível, a sério. É como se os anos não passassem por eles.
Perdoem-me a falta de eloquência materializada neste texto mas ainda estou a modos que em choque. Foi mesmo um grande, grande concerto. Se não estão cheios de inveja, apenas consigo ter pena de vocês.