Eu sou um tipo que fala mal das coisas. Nem sempre escrevo aqui sobre elas mas é mais habitual ouvirem críticas saídas da minha boca – umas mais construtivas do que outras – do que elogios.
Confesso, no entanto, que me sinto inclinado a dizer que o novo projeto do Davide Pinheiro, ex-jornalista do Diário de Notícias, até agora quase só merece elogios. Chama-se Mesa de Mistura e é um blog claramente sobre música (pelo menos para já), ainda que o autor não pareça confortável com a catalogação. Aparentemente, o futuro quer-se mais abrangente do que isso.
É um blog sobre música – o que raio há de novo nisso? Bem, nada. Mas os ângulos de abordagem são diferentes do habitual, a prosa carrega a experiência de alguns anos a escrever sobre o assunto e o facto do Davide conhecer este mundo e o outro no que à música portuguesa diz respeito também ajuda. Este conjunto de características parece ser demasiado valioso para que encostemos a Mesa de Mistura a um qualquer canto escuro da Web.
O blog ainda agora começou e já parece diferente do resto, com uma série de material exclusivo e assim (aquela coisa de conhecer este mundo e o outro também ajuda). Aqui, entre alguns laivos de inveja do bom lançamento e do sucesso imediato, não posso deixar de chamar a atenção para a quantidade de gente em Portugal que demonstra uma grande capacidade de fazer bom e diferente e que não tem um terço do reconhecimento. E não falo só da área da música, naturalmente.
Mas parece-me necessário referir que não acho que este seja um daqueles casos de pessoa nascida com o rabinho virado para a Lua. O tal sucesso imediato é fruto do nome que o Davide tem conseguido ganhar ao longo dos anos. Em boa verdade, não tenho nada contra isso. Mas a política do louvor vácuo de pessoas que claramente nunca sederam ao trabalho de ler mais do que os meios de comunicação tradicionais não me deixa especialmente feliz.
Dito isto, o que interessa é que vou manter a Mesa de Mistura debaixo de olho, até porque o conteúdo promete. Aconselho que façam o mesmo.
Palavra da salvação. (Não é nada.)