O futuro da música é o crowdfunding. O futuro da música são as aplicações. O futuro da música é o streaming. O futuro da música é o licenciamento. O futuro damúsica é a mais recente moda da estação. O futuro da música é o que fizer mais sentido no presente.
De um certo ponto de vista, todas estas afirmações estão corretas. Mas quem as escreve, regra geral, nada mais tem em mente do que cada um desses conceitos isolados, ignorando todos os outros elementos que fazem da música o que é como indústria, arte e parte fulcral da cultura popular. O espírito é, muitas vezes oseguinte: se o futuro da música são, por exemplo, as aplicações, então não pode ser o licenciamento. Como se isto fizesse algum sentido.
Posto isto, aqui têm a minha grande afirmação: o futuro da música é a música.
Pronto, não é uma grande afirmação, eu sei. E a ideia é precisamente essa. A simplificação de temas complexos (entre os quais o desenvolvimento de modelos de negócio viáveis no mundo da música) tem a sua utilidade mas é, ao mesmo tempo, perversamente inútil.
O futuro da música é o streaming? Claro que sim. Em parte. Mas e o resto? Streaming de concertos? Streaming de merchandising? E as aplicações? Claro. Porque o que toda a gente quer é telemóveis a abarrotar de aplicações de tudo e mais alguma coisa, certo?
Tenho duas críticas a esta forma de pensar sobre a música.
A primeira tem a ver com a premissa de que a música está em mau estado. O que está em mau estado (e podia estar bem pior) é um grupo restrito mas extremamente representativo (financeiramente) do mercado da música gravada. De resto, há mais oportunidades, mais artistas a conseguirem lançar-se sem oapoio de grandes estruturas de marketing e vendas e melhor acesso aos mais diferentes estilos musicais. “Então mas, ó Filipe, e a quantidade de músicos pequeninos que não consegue lançar-se nem sobreviver da sua arte?”, podem perguntar. É este, para mim, o grande problema da premissa: essa questão não éde agora. Sempre houve e, desconfio, sempre vai haver. É o mercado, parece-me.
A segunda crítica prende-se com o facto de todas estas “soluções” ignorarem a música como parte da equação. Como se uma aplicação fizesse milagres. Ou olicenciamento bastasse para fazer de uma canção um sucesso de vendas. É claro que todas estas ferramentas ajudam mas nenhuma delas chega se a música nãotiver algo de excecional.
E é nisto que devemos concentrar-nos quando pensamos no futuro da música. Devemos pensar em potenciar a música excecional. Muitas pequenas editoras fazem-no de diferentes formas, com melhores ou piores resultados. Já as grandes, regra geral, estão concentradas em formatos que possam vender excecionalmente bem, como é normal.
O que é o futuro da música, afinal?
Não há uma resposta-padrão, lamento. O bom senso (e a minha costela de marketing) diz-me que faz sentido pensar em quem são as pessoas a que querem chegar… e depois tentarem chegar a elas. Mas antes disto tudo… façam música excecional. Isso é que é, sem sombra de dúvidas, o futuro da música.