“Just Like A Woman” é uma das canções mais emblemáticas de Bob Dylan. Editada com o resto de Blonde on Blonde em 1966, não é nenhuma “Like A Rolling Stone” mas não fica muito atrás.
Há quem lhe chame misógina – “you fake just like a woman”, pá – mas acho que só uma leitura muito superficial poderia fazer-me chegar a essa conclusão. Ver numa canção como esta apenas isso é negar à canção, ao autor e às personagens a sua individualidade. Contar uma história, seja em que formato for, não é obrigatoriamente uma tomada de posição sobre a sociedade ou o que quer que seja. Às vezes é só isso mesmo: contar uma história. Da mesma maneira que, quando insultam ou elogiam uma pessoa, isso não é automaticamente extensível a determinado grupo de pessoas. Mas adiante.
A música é fantástica. O tom desdenhoso e sobranceiro de Bob Dylan não lhe é totalmente estranho mas é mais feitio que defeito: está-lhe na voz. Ou estava, que, no que diz respeito à voz, ele nos últimos anos aproximou-se mais do cozinheiro sueco dos Marretas.
Quando penso em “Just Like A Woman”, no entanto, penso mais em Jeff Buckley do que em Bob Dylan. Primeiro, porque a minha relação com Buckley é bastante mais próxima e significativa (vou culpar a minha idade, está bem?). Depois, porque o meu primeiro contacto a sério com a canção foi a cover que ele tem na fantástica reedição de Live At Sin-é.
Mas não é só por isso, claro. É que, enquanto Bob Dylan entra, diz o que tem a dizer e abandona a sala, Jeff Buckley chega meia hora antes, debruça-se sobre todos os pormenores, dá 700 voltas à canção e embeleza-a até não poder mais. E o resultado é maravilhoso.
A “Just Like A Woman” de Bob Dylan é muito boa e visito-a vezes suficientes para haver um elo. Mas a ligação que sinto à “Just Like A Woman” de Jeff Buckley é de um nível superior. É marcada pela minha total reverência, por um certo amor incondicional. Amor incondicional pela guitarra, pela voz, pela cadência e, claro, pelos diferentes contextos (o disco, a minha vida, etc.) em que a canção se insere.
Dizer que uma é melhor que a outra é relativamente injusto (afinal, Bob Dylan é que teve o trabalho de a criar). Mas acho que já perceberam para onde pende a balança, certo?