A música de Kevin Drew é das coisas que mais felicidade me trouxe desde que me cruzei pela primeira vez com os Broken Social Scene em 2006, alguns meses após o lançamento do épico segundo álbum da banda canadiana. Já falei tantas vezes aqui dele, dos Broken Social Scene e de todos os projetos paralelos relacionados com a banda que sinto sempre que estou a entrar num exercício de futilidade cada vez que os apresento.
Vou tentar ser o mais sucinto possível. Spirit If…, o primeiro álbum a solo de Kevin Drew, saiu em 2007 e é facilmente um dos meus álbuns preferidos. Adoro a voz, as melodias, o desprendimento e as letras que variam entre o amor megafofinho e uma badalhoquice visceral. Adoro tudo, basicamente. Portanto, as expectativas relativamente a Darlings, o segundo álbum a solo de Kevin Drew, eram para lá de elevadas – até porque, tendo em conta o histórico, era quase impossível apanhar uma desilusão.
“Good Sex”, o primeiro single, foi um bom sinal. Não é uma canção épica à Broken Social Scene mas “Tbtf”, a primeira amostra de Spirit If…, também não o era.
Entretanto, após aquilo que pareceram ser anos e anos de espera (poucas semanas, portanto), Darlings chegou-me às mãos.
Não era o que esperava.
Kevin Drew parece ser um tipo cheio de amor para dar e de sangue na guelra. Nunca esperaria um álbum perfeito da parte dela, em parte por causa disso mesmo. Mas também não esperava ouvir uma coisa assim. É que Darlingsparece ser mais o fruto de um impetuoso “quero lançar este álbum já” do que de um “tomem lá a melhor música que tenho para vos dar”. E é por isso que parece em demasiados momentos um produto inacabado.
Nalguns casos, em vez de termos canções com princípio, meio e fim, temos canções que não tiveram grande desenvolvimento e por isso se ficaram pelo meio, só. “Mexican Aftershow Party” e “It’s Cool” são bons exemplos. Pessoalmente, vivo bem com isso… mas sei que estou a dar desconto por se tratar de quem se trata.
Claro que também há momentos maravilhosos. Darlings começa, de resto, com duas das canções mais fortes: a já referida “Good Sex” e “Body Butter” (a letra, meus amigos, é qualquer coisa do outro mundo). Por mim, só podiam ser melhores se durassem mais tempo. Mais nada.
E não são as únicas. A dupla “First In Line”/“Bullshit Ballad” devolve a vida ao álbum depois de uma “You Gotta Feel It” um tanto ou quanto repetitiva. “Bullshit Ballad” é, de resto, a única canção que nos dá guitarras a sério – e ainda assim não tem a força de uma “Cause = Time” ou de uma “7/4 (Shoreline)” dos Broken Social Scene.
“You In Your Were”, já quase no final, é outra das canções dignas de registo, nem que seja porque é um dueto com Leslie Feist. Mas não é só por isso. É, tal como as outras canções de Darlings, uma canção apoiada em sintetizadores mas esta parece ganhar vida própria à medida que a bateria vai repetindo padrões e a voz de Feist vai ganhando preponderância. Sem dúvida, um dos momentos mais altos do álbum.
Darlings chega ao fim passado pouco tempo com a interessante “And That’s All I Know”. O que é que se faz a seguir? Ouve–se o álbum novamente.
Foi o que fiz, vezes e vezes sem conta, até perceber que Darlings é bom mas não chega para matar a fome. Ouço Kevin Drew a cantar sobre sexo, masturbação, prostitutas e sabe-se lá mais o quê e só consigo pensar que Darlingspodia ser muito mais do que é.
Por isso digo que Darlings não é o que esperava.
De Kevin Drew espero o mundo. E Darlings é um disco a que voltarei imensas vezes, não tenho dúvidas, mas não vai mudar a minha vida. E isso é algo que Spirit If…, Broken Social Scene e You Forgot It In People conseguiram facilmente.
Fica para a próxima.