EL VY e Return To The Moon: chegou o verão

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Matt Berninger e Brent Knopf parecem estar a divertir-se.

O primeiro álbum dos EL VY, o novo projeto de Matt Berninger, vocalista dos The National, e de Brent Knopf (Menomena, Ramona Falls), anda por aí há uns dias. E apesar do outono ir já bem lançado, parece que eles se ficaram pelo verão.

Return To The Moon vinha sendo mostrado aos poucos: desde que o projeto foi anunciado em agosto, os EL VY lançaram individualmente cinco das 11 músicas online. Já tínhamos, portanto, ideia do que aí vinha. E o que aí vinha parecia ser uma espécie de versão estival dos The National. E não está muito, muito longe disso.

Vamos lá tirar as comparações com os The National da frente. Há, nos 40 minutos de Return To The Moon, uns quantos momentos em que somos puxados para aí. Uma ou outra faixa com a bateria cheia de nervos e a voz-marca-registada de Matt Berninger são as duas principais razões. Talvez as únicas, mesmo. É que, se por um lado há algo de The National em EL VY, ao mesmo tempo tenho alguma dificuldade em associar a leveza e a frescura desta álbum a The National.

Já se conhecia “Return To The Moon (Political Song for Didi Bloome to Sing, with Crescendo)”, a faixa-título que também dá início ao álbum. É uma excelente introdução. Soa bem, é fresca e aquele riff do refrão fica colado ao cérebro. O único problema é que se mantém aquela velha tradição de que Miguel Esteves Cardoso falava numa das excelentes crónicas publicadas em Escrítica Pop: a primeira música é a melhor do álbum.

Porque é que “Return To The Moon” (vamos encurtar o nome) é a melhor música do álbum? Bem, primeiro porque é muito boa. Não é a resposta mais eloquente de sempre, mas é tão verdadeira quanto possível. No entanto, não é a única justificação.

Grande parte da explicação está no resto do álbum. Mal chegamos a “I’m The Man To Be”, cruzamo-nos com algumas das suas características principais: um ambiente meio blues, meio rock esquisito, com guitarras sujas e melodias menos pop e muito quebradas. Todas as canções são interessantes mas poucas me envolvem emocionalmente. Algumas, como “Paul Is Alive”, beneficiam de um tratamento que as faz parecer mais antigas e familiares do que são realmente. Outras acabam por fazer muito pouco por mim. “Need a Friend” ou “Sleeping Light” são dois exemplos.

À medida que o álbum vai rodando, apodera-se de mim uma certa sensação de estranheza – algo semelhante ao que me acontece com alguma música de Tom Waits. Return To The Moon dá-nos muito poucos momentos de conforto. Dependendo do estado de espírito, isso pode ser bom ou mau, como é óbvio. Neste momento, inclino-me para o bom. Deixa-me atento e em tensão. É um efeito interessante.

A isto acresce o facto de o álbum ter potencial para envelhecer bem, já que parece haver uma certa intemporalidade na música. Ouçam “Happiness, Missouri” e digam-me que não tenho razão. “It’s a Game”, uma das melhores, também o demonstra sem dificuldades.

Reparem que, mesmo nas coisas mais calmas, é estranho ouvir a voz de Matt Berninger sobre música tão diferente. Mas continua a ser a voz dele: é bastante limitada e pouco versátil (mas linda!), pelo que ninguém está à espera de grandes diferenças. Não há autotune, o que é sempre uma vantagem. E, lá está, soa bem e está bem acompanhada.

Mas tenho de dizer que preferia músicas mais completas. Há um certo encanto no estado atual delas – algo que contribui para a tal noção de leveza e frescura – mas não consigo afastar a ideia de que algumas poderiam ser demos. Faltam camadas. Mas é um pau de dois bicos, já que é esta crueza que mais ajuda os momentos de exceção a brilharem. Como acontece em”It’s a Game” e “Careless” a determinada altura.

Resumindo: Matt Berninger e Brent Knopf parecem estar a divertir-se. Assumindo que, como eu, estão mais familiarizados com o trabalho dos The National, a sensação dominante é a de que Matt Berninger tirou férias e decidiu fazer isto. Não parece sequer um projeto paralelo no sentido tradicional do termo. E não é, definitivamente, um sucedâneo de The National. EL VY é um ATL bem conseguido, uma espécie de campo de férias cheio de atividades relativamente parecidas com as do resto do ano.

Return To The Moon é bom. Não é revoltantemente bom, não é uma obra-prima… mas, mesmo nos seus momentos mais difíceis, escorrega muito bem.