Boxer (Live In Brussels) não é nenhum Boxer. Mas lembrou-me de como Boxer que me faz sentir.
Os The National editaram recentemente um disco exclusivamente para o Record Store Day. Boxer (Live In Brussels) é o registo em vinil do concerto que a banda deu em 2017 em Bruxelas para comemorar o 10º aniversário de Boxer.
Esta edição limitada apresenta o mesmo alinhamento de Boxer e nada mais, o que até pode fazer sentido, mas não reflete o que se passou em Bruxelas, que depois do alinhamento completo do álbum teve ainda mais 11 canções. Não reflete também o ambiente épico de um concerto dos The National, mas pelo menos dá-nos versões que a banda se habituou a tocar ao vivo de forma diferente, como “Squalor Victoria” e “Apartment Story”. Mas o que este Boxer (Live In Brussels) conseguiu mesmo fazer foi deixar-me cheio de saudades dos The National de 2007.
Boxer não é apenas o álbum que me fez ouvir os The National como deve ser pela primeira vez, é também o meu favorito. Só depois de me apaixonar por Boxer pude voltar a Alligator e perceber que o que ali estava também valia bem a pena. Lembro-me de ouvir “Fake Empire” pela primeira vez na rádio e ter ficado agarrado. Lembro-me de me deixar contagiar pela tensão de “Mistaken For Strangers”. Lembro-me de ouvir “Apartment Story” em repeat até não poder mais. Lembro-me de me deixar perder nos rendilhados de “Racing Like a Pro” e de aproveitar para descansar em “Gospel”.
É, ainda hoje, o melhor álbum dos The National. É o mais coeso, o mais redondinho. É aquele meio caminho perfeito entre a americana dos álbuns anteriores e a pop desconfortável dos seguintes. Depois de Boxer, tornaram-se gigantes… e é possível que o tamanho não lhes assente bem.
Já os vi muitas vezes ao vivo, mas nenhuma superou aquele concerto em Guimarães em 2008, o meu terceiro deles. Depois disso vi-os mais umas quatro ou cinco vezes, mas nada bateu aquela noite quente de julho. Ainda assim, continuam a ser das melhores bandas rock ao vivo e um espetáculo digno de se ver.
O problema é que a música deles se tem afastado de mim. High Violet, de 2010, já não era nenhum Boxer, mas Trouble Will Find Me tornou claro em 2013 que seria difícil os The National voltarem a levar-me ao colo como tinham feito com Boxer e Alligator. Já em 2017, Sleep Well Beast, apesar de ser bem melhor do que o álbum anterior, não eliminou a sensação.
Talvez esteja simplesmente a ficar velho, que isto é o que acontece às pessoas com a idade. Mas eu continuo a enamorar-me por música nova, tanto de artistas que descobri agora como de outros que acompanho há alguns anos. E os The National continuam a trazer-me música boa cujas letras decoro. “Nobody Else Will Be There”, “Dark Side Of The Gym” e “I’ll Still Destroy You”, do último álbum, são belíssimos exemplos. No entanto, Boxer está noutra categoria e eu tenho saudades de como me faz sentir. Mas pronto, isso resolve-se facilmente.