A propósito de Mahashmashana, o novo álbum de Father John Misty.

Não sou grande fã de Father John Misty. Gostei muito de Fear Fun, o primeiro álbum de Josh Tillman com o nome artístico que o tem acompanhado desde então. Não desgostei de I Love You, Honeybear, o álbum seguinte. Depois, deixei simplesmente de querer saber.

Father John Misty não é particularmente inovador e a sua carreira não tem tido uma evolução particularmente visível. Bem sei que nem tudo tem de evoluir — há coisas que ficam bem exatamente onde estão —, mas um artista tem de me encher as medidas para isso me chegar. E Father John Misty, ainda que seja um indivíduo de inegáveis talentos, não me enche as medidas.

Father John Misty a gostar dele próprio

Vi-o ao vivo em 2015 em Paredes de Coura e foi, para mim, um dos melhores concertos daquela edição (juntamente com Sylvan Esso e Charles Bradley). Ao vivo, é uma mistura de emoção, palhaçada, ironia e, sim, boa música. Mas esta última parte acaba por ser secundária demasiadas vezes.

Josh Tillman é fixe. O mais fixe de todos. Ele sabe, nós sabemos e ele sabe que nós sabemos. Ele é, de resto, demasiado fixe para nós. E eu, que sou uma pessoa paciente, tenho pouca paciência para isso. O meu julgamento é, portanto, afetado por esta perceção e a minha relação com a música de Father John Misty passa sempre por esta lomba.

Mahashmashana, o novo álbum

Entra Mahashmashana. Tinha ignorado os singles sem dificuldade, mas fui ouvir o álbum no dia em que saiu, há pouco menos de uma semana, porque estava num daqueles momentos musicais à moda dos Ferrero Rocher — não sei, apetecia-me algo… bom.

Foi uma experiência paradoxal. Mahashmashana abre com uma faixa-título baladeira, que consegue prolongar-se durante nove minutos sem se tornar aborrecida. De espírito épico e arranjos luxosos, “Mahashmashana” seria uma excelente forma de entrar no álbum se o resto das músicas lhe fizesse justiça. Que, no geral, não faz. Durante a maior parte do tempo, o álbum serve-nos aquilo que os fãs de Father John Misty adoram e que a mim não me aquece nem me arrefece.

Haverá quem possa dizer que “She Cleans Up”, “I Guess Time Just Makes Fools Of Us All” e “Mental Health” são clássicos instantâneos e mais não sei o quê, mas eu não dou para esse peditório.

Dou, no entanto, para o peditório de quem quiser falar de “Screamland”. Também ela apresenta todos os elementos clássicos de Father John Misty: erudição e cinismo entregues de coração na boca, melodias quentinhas, produção impecável, um refrão do cacete. Só que esta, a mim, deixou-me bem agarrado. Transformou-se automaticamente na minha canção favorita dele, o que, não sendo muito significativo, é uma afirmação que deixo aqui escrita sem medo de me arrepender.

“Like a sucker with a scratcher / Like a fucker with a dream”, fico aqui a sonhar com a oportunidade de receber isto ao vivo. Fico também a pensar que, da próxima vez, é melhor prestar atenção aos singles, dado que “Screamland” foi lançada em setembro. Mas pronto, calhou que tivesse de esperar por novembro e não calhou mal.