Um dezembrismo em mutação.
Já lá vão uns meses valentes desde que os The Decemberists editaram What A Terrible World, What A Beautiful World. Tempo suficiente para nos deixarem matar saudades com um EP? Parece que sim.
Florasongs confirma o que já se tinha percebido há algum tempo graças aos dois últimos álbuns: os The Decemberists estão diferentes. Nos dias que correm e desde The King Is Dead, editado em 2011, a banda de Colin Meloy e companhia parece menos interessada em discos bem embrulhadinhos e coesos e mais em fazer canções que resultem. O resultado, esse, depende de quem os ouve.
Eu, que adoro uma boa melodia pop e refrães marcantes, não posso dizer que prefira esta fase aos conceitos por trás de The Crane Wife e Hazards Of Love, para mim os dois melhores álbuns da banda. Mas posso dizer que não me chateia nada que eles estejam menos focados na tal coesão, sobretudo se continuarem a entregar uma mão cheia de boas músicas por álbum, como fizeram nos últimos dois.
E nesse sentido, apesar de ser apenas um EP, Florasongs mantém o registo. Parece claramente que estamos a ouvir restos de What A Terrible World, What A Beautiful World. A canção que abre o EP, “Why Would I Now?”, demonstra-o perfeitamente. E não me entendam mal: quando falo em restos, não me refiro a uma espécie de subproduto, nem de perto nem de longe. É simplesmente o que, por um motivo ou outro, acabou por ficar fora do álbum.
E, por todos os motivos e mais alguns, a assumidamente country “Why Would I Now?” bem podia fazer parte do alinhamento do álbum.
A melhor canção, essa, é definitivamente “Riverswim”, um pedaço de noite passada no campo em formato musical a fazer lembrar algumas paisagens de The King Is Dead.
Mas nada disto faz esquecer as visões com princípio, meio e fim a que a banda norte-americana nos habituou ao longo dos anos. Quem conseguiria esquecer as grandes “The Crane Wife 3” e “The Crane Wife 1 & 2” ou o álbum-ópera que foi The Hazards Of Love? Eles não estão certamente a esforçar-se por voltar a isso. Parece ser, aliás, um daqueles movimentos cheios de intenção. Lá está, mais canções que resultem, menos obras coesas.
Mas com temas como “Why Would I Now?”, “Riverswim” e “Stateside”, Florasongs é um belo EP para quem precisa de uma boa dose de dezembrismo para se aguentar.