Os Radiohead são a melhor banda do mundo. Dito isto, percebe-se que, para mim, era impossível não gostar do concerto que deram em Barcelona na passada quinta-feira.
A julgar pelos bootlegs e por testemunhos dos que já os tinham visto ao vivo, as músicas – que são fantásticas só por si – resultam muito bem ao vivo, o que faz com que cada concerto seja uma experiência memorável. A julgar por mim… confirma-se que “experiência memorável” é uma expressão insuficiente para descrever um concerto deles.
O concerto estava marcado para as 21h30 mas as portas abriam às 16h, já que se tratava de um festival. Cheguei cinco ou dez minutos antes da abertura das portas, esperei e fui até ao palco principal. A música começava às 17h no palco (secundário) Fly Music… mas, com muita pena (porque o cartaz era muito bom), eu não estava lá para isso. Fiquei-me pelo palco Movistar, onde iam actuar Liars (às 18h45), Bat For Lashes(às 20h) e Radiohead. Consegui um bom lugar, relativamente central e a um metro e meio da grade (pouco antes do concerto dos Radiohead começar, este metro e meio transformou-se em meio metro… e – sorte a minha – acabei por ter apenas uma pessoa baixinha à minha frente). Ora, quando se trata de os ver ao vivo, o local é importante. O resto foi espera. Duas horas e meia… à espera do primeiro concerto. Cinco horas e pouco para Radiohead.
Liars foi giro (com tudo o que tenha a ver com percussão em grande) mas gostei mais de Bat For Lashes. Já conhecia o álbum de estreia Fur and Gold… mas fiquei agradavelmente surpreendido relativamente ao resultado em concerto.
E agora, ao que interessa mesmo. Já conhecia o cenário, que tinha visto em vídeos e fotos desta digressão colocados por fãs na Internet. Luzes verticais e um ecrã ocupavam toda a largura do palco… e a banda encaixava-se lá no meio. Os efeitos de luzes e os vídeos reproduzidos em directo (havia diversas câmaras apontadas aos cinco membros da banda) no ecrã ao fundo que acompanharam o concerto deram um visual à música.
O concerto propriamente dito começou com “15 Step”, o tema de abertura de In Rainbows. De resto, os Radiohead tocaram todas as músicas do seu último álbum, bem como “Bangers & Mash”, presente no segundo disco da discbox que a banda lançou em nome próprio em Dezembro. O facto de terem tocado tantas músicas novas parece ter deixado parte do público relativamente embaraçado mas foi muito interessante ver que músicas como “Jigsaw Falling Into Place”, “Arpeggi” e sobretudo “Bangers & Mash” resultam espectacularmente ao vivo. Se já se esperava isso de “Weird Fishes/Arpeggi”, “Bangers & Mash”, com duas baterias em palco (uma delas para Thom Yorke, a outra para o aprumadíssimo Phil Selway, o baterista propriamente dito) acabou por ser uma surpresa.
Vê-se que os Radiohead gostam muito do trabalho feito no último álbum. Descontraídos, pareceram divertir-se a tocar. Isto até nem é nada de especial… mas depois de ter estado cinco dias a ver concertos no Palco Mundo do Rock In Rio, com todo o profissionalismo, seriedade, posing e concentração na execução que todas aquelas bandas (exceptuando, está claro, Amy Winehouse) tinham, ver uma banda tão natural em palco é muito agradável.
Quanto às outras músicas… é complicado falar sobre elas. Eles têm um set relativamente grande. Em Barcelona, foram 24 (ou 25, se contarmos com “Hunting Bears” a finalizar “The National Anthem”) músicas em pouco mais de duas horas. Para mim, um set de quatro horas talvez fosse suficiente. A sério. Tocaram alguns dos grandes cartões-de-visita da banda, como “Paranoid Android”, “The Bends”, “The National Anthem”, “Everything In Its Right Place”, “Planet Telex”, “Lucky”, “Pyramid Song” e “Idioteque”. Também ofereceram alguns brindes, como “The Gloaming” e “Airbag” mas… e “Karma Police”, “Fake Plastic Trees”, “How to Disappear Completely”, “Just”, “No Surprises” e “Street Spirit (Fade Out)”? Já para não falar de algumas das minhas favoritas, como “Lift”, “Lurgee”, “Let Down”, “Subterranean Homesick Alien” ou “Talk Show Host”. É impossível não adorar um concerto dos Radiohead mas, da mesma forma, é impossível não ficar a desejar que dure mais umas horas.
“The National Anthem” e “Optimistic”, duas músicas do nocturno Kid A, foram das mais fortes da noite. “Optimistic”, que em álbum é grande, ao vivo é gigante. É aqui que entra a parte em que agradeço aos deuses pelas mãos do Jonny Greenwood. Não há muito a dizer: o final barulhento da música é todo dele. Tal como “Paranoid Android” e umas quantas outras.
Não há muito mais que possa ser posto em palavras sobre o concerto dos Radiohead em Barcelona. O último dos dois encores trouxe “You And Whose Army?”, uma das melhores faixas de Amnesiac, e “Planet Telex”, o tema de abertura de The Bends. Duas horas depois de ter começado, o concerto terminava como se estivéssemos em 1995. Terminou bem… mas não devia ter terminado de todo (e sim, eu sei que é uma proposta um tanto ou quanto irrealista). É que nem sequer superou as minhas expectativas. Esperava poder dizer que foi o melhor concerto a que já assisti… e foi isso mesmo que aconteceu. Nem mais.