Kiss Each Other Clean

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Os Iron & Wine podiam ter nome de pessoa. Sam Beam decidiu escolher para nome artístico um nome que transpira colectividade. Mas a música dele sempre foi das coisas mais solitárias do mundo: um homem barbudo, uma guitarra acústica e pouco mais.

Mas Sam Beam, o Iron & Wine, fartou-se. Não agora, mas no álbum anterior. Fartou-se da falta de electricidade de The Creek Drank The Cradle e e lançou-se ao indie rock e a tudo e mais alguma coisa com The Shepherd’s Dog. Para os adeptos de canções como “Naked As We Came”, “Jezebel” ou “Faded From The Winter”, é capaz de ter sido difícil de digerir. Mas o álbum foi recebido de braços abertos pela crítica.

Quase quatro anos depois de The Shepherd’s Dog, os Iron & Wine trazem de volta a voz que Sam Beam usa para nos embalar e as paisagens country típicas da banda. Kiss Each Other Clean segue o caminho iniciado no álbum anterior: uma estrada de curvas e contracurvas e cheia de surpreendentes desvios.

Canções como o primeiro single, “Walking Far From Home”, ou a gigante “Your Fake Name Is Good Enough For Me”, que encerra o disco, ficam automaticamente qualificadas para o concurso “Melhor canção de 2011”. Mas o disco não fica por aí. É que, apesar das paisagens serem marcadamente country, se procurarmos bem, encontramos rock, blues, jazz e, claro está, a mais óbvia pop. Está tudo misturado e, a espaços, parece que a coisa não vai resultar. Mas resulta. Resulta muito bem.

Kiss Each Other Clean é um álbum de contradições. Começa logo pela pop difícil de engolir de “Tree By The River” e “Monkeys Uptown”. Depois, “Rabbit Will Run”, esquisita de uma ponta à outra, acaba cheia de influências jazz… mas antecede “Godless Brother In Love”, uma simples balada ao piano e guitarra acústica. Depois há os funky blues de “Big Burned Hand”… mas esta canção, ao menos, é coerente.

Sam Beam parece querer encher todas as canções de camadas e mais camadas (sobretudo de vozes), o que pode tornar-se cansativo de vez em quando, mas presumo que esteja a tentar compensar todos aqueles anos de minimalismo acústico. Viva o psicadelismo moderado.

Os Iron & Wine mudaram e eu ainda me estou a habituar. Mas se é para continuarem assim, venham mais álbuns. Kiss Each Other Clean não é uma revolução sonora nem apenas mais um disco. Está algures num saudável e recomendável meio termo. Isto soa mal mas o álbum soa bem.