Nos últimos anos, as editoras discográficas têm apostado na criação de embalagens mais apelativas. O artwork e o material das caixas em que o disco é vendido são dois aspectos muito importantes na equação do produto final. Pessoalmente, gosto muito desta ideia. Como tendo a comprar muitos discos, prefiro as edições especiais. No entanto, este embelezamento do produto não tem grandes efeitos sobre a maioria das pessoas, que só quer ouvir a música. É por isso que acho, como já disse, que o CD tende a transformar-se cada vez mais num produto de nicho.
É estranho que esta forma de diferenciar os produtos só tenha chegado à indústria discográfica nos últimos anos. É que a diferenciação não é propriamente uma jovem nestas coisas do marketing. Poderão argumentar que a música só por si deveria funcionar como elemento diferenciador mas a verdade é que o mau comportamento da indústria nas décadas de 80 e 90 levou a que a maior parte das pessoas se esquecessem disso. A música popular (no sentido genérico) tem muito lixo… e muito desse lixo é semelhante. É por isso que o aspecto assumiu um papel importante – ainda que não determinante – na venda de discos.
Quando penso que há muitos artistas que lançam os produtos mais desengraçados deste planeta a queixarem-se de que ninguém compra os discos deles por causa da pirataria, não consigo ficar senão indiferente. Até percebo a revolta: estavam habituados a um sistema e agora as coisas mudaram. Se calhar, a forma como o mercado tende a evoluir não lhes permite ganhar tanto dinheiro fazendo exactamente o mesmo que faziam. Mas seria interessante vê-los mudar de atitude. Se não se adaptarem, desaparecem.
Não creio que a embalagem seja um factor determinante para o futuro da indústria discográfica. O CD vai tornar-se quase insignificante (o DVD musical, por exemplo, já o é desde que apareceu) e a embalagem será um factor diferenciador para uns quantos, mas não para muitos.
Os “muitos” passarão brevemente a estar completamente concentrados no produto digital, esse que é todo aparentemente imaterial. Em frente ao computador, vamos continuar a poder ouvir a mesma música e a ler muitas coisas sobre os artistas (seja em booklets digitais, seja em dezenas ou centenas de sites que estão disponíveis com informação). Perde-se o peso – que para alguns é já um inconveniente – e o espaço que ocupa. Perde-se também aquela coisa do tacto (as editoras de livros andam com o mesmo problema, aparentemente). Os “muitos”, que são quase todos, não querem saber. Os restantes talvez se mantenham fiéis… mas para isso é importante continuar a apostar neles. Não me parece de todo descabido ter diferentes pesos e diferentes medidas, consoante o tipo de consumidor. Não quero parecer preachy mas acho sinceramente que as editoras terão de perceber isto, mais cedo ou mais tarde.