Hoje em dia, a música – legal ou ilegalmente – está facilmente acessível com duas grandes vantagens para os que a ouvem: mais depressa e de graça (pelo menos a maior parte das vezes). Desvantagens? Só mesmo para a indústria, ou seja, os que ficam com o dinheiro que pagamos pelo disco. Sinceramente, abstenho-me de tomar partido neste assunto: não me junto aos coitadinhas das editoras nem aos libertadores da música livre. Há um modelo de negócio obsoleto outrora muito lucrativo que alguns resistentes tentam manter a todo o custo (leia-se: nos tribunais); por outro lado, já estamos todos habituados ao Mininova, ao Pirate Bay e aos velhinhos eMule e Soulseek… e não há volta a dar.
Assim, em que ficamos? Acabam-se os produtos físicos e passamos a sacar tudo da Internet? Quem quiser, sim. Se bem que ainda há (a sério!) coisas difíceis de encontrar nos sites de partilha de ficheiros. No entanto, e ao contrário do que mentes brilhantes dizem semana após semana há já uns dois ou três anos, o CD não está morto. Tal como o vinil não estava, lembram-se?
A tendência é simples: o CD vai tornar-se brevemente num produto de nicho. Actualmente, ainda tem muita força em alguns países com uma cultura musical mais profunda (sendo que o Reino Unido é um dos melhores exemplos), mas a tendência é para que seja cada vez menos importante. As editoras ainda não encolheram mas vão ter de encolher para lidar com isto: a estas empresas caberá tornar atractivos os catálogos de fundo e vender o CD como um produto muito exclusivo, de luxo até. Para além disto, terão sempre os D’zrt (paz à sua alma), a Floribella (para lá caminha) e os Tokio Hotel (gomas em forma de ursinho… seriously?) para fazer uns trocos por fora (toques de telemóvel, t-shirts, licenciamento… ou seja, tudo e mais um par de botas). Assim, o caminho divide-se em:
– projectos ou contratos 360/cash cows instantâneas (como os D’zrt: TV, música, espectáculos… cinema?)
– produtos especiais (ultra-mega-edição-especial-deluxe-comemorativa)
– catálogo de fundo
Claro que isto está sempre dependente do público-alvo. Enquanto houver velhinhos (os actuais, pelo menos), haverá sempre espaço para vender Diana Krall e Norah Jones. Mas só enquanto houver velhinhos.
Voltando ao caminho tripartido, os projectos 360 são definitivamente orientados para as massas, enquanto os segundos visam contentar os melómanos mais agarrados ao formato físico e os coleccionadores (que são os que estão dispostos a gastar mais dinheiro em música). O catálogo de fundo é uma espécie de garantia de receita mínima, pelo menos por enquanto.
Pessoalmente, confesso que a embalagem e os extras me tiram do sério. Numa compra de um disco, o bom aspecto e a ideia (errada) de que estou a pagar pouco mais por muito mais são argumentos de peso para mim. Claro que a esta altura já filtrei a música de que não gosto. Isto para chegar a quê? A isto.
Comprei-o na Fnac há uns dois meses porque queria uma colectânea relativamente completa de Bob Dylan. Comprei a caixa sem saber o que lá estava dentro. Quer dizer, sabia que tinha uns postais ou lá o que era. Cheguei a casa, abri-a e, antes de ouvir os discos (três, com 51 músicas), já tinha valido a pena: uma embalagem meio aveludada por dentro, com o símbolo da Columbia, parte da Sony BMG, em dourado (arrisco dizer “à moda antiga”), com dez ou 20 pequenas réplicas de posters “clássicos” (como o do primeiro concerto do grande mentiroso em Nova Iorque) e a devida contextualização, com um booklet de 40 páginas com texto e imagens e três CDs a imitar vinil (em ambas as superfícies) e com embalagens a imitar caixas de vinil (do tipo sleevede cartão, mas mais larga).
Eu sei que sou um pouco geek neste aspecto. Consumista, até. Mas o problema não está definitivamente nestas caixas; o problema está no resto. 18 Euros por um CD na loja quando custa zero na Internet? 10 Euros no iTunes quando custa zero ali ao lado?