O regresso dos LCD Soundsystem

LCD-Soundystem

Uma decisão cínica e interesseira ou o simples regresso de uma das melhores bandas da última década?

As primeiras notícias surgiram em outubro: os LCD Soundsystem preparavam-se para regressar aos palcos depois de se terem despedido em 2011 de forma épica no Madison Square Garden, em Nova Iorque. A DFA Records, editora dos LCD Soundsystem fundada por James Murphy, negou.

O episódio seguinte chegou na noite de Natal, com o anúncio e lançamento de uma música… de Natal. A belíssima e deprimente “Christmas Will Break Your Heart” vinha acompanhada de uma explicação relativamente simples: James Murphy tinha aquela canção na gaveta há oito anos e só conseguiu gravá-la em 2015. Por esta altura começava a fazer sentido acreditar em algo mais e desde então o assunto não voltou a morrer.

No fim de semana, o Consequence of Sound reiterava a notícia que tinha dado em outubro e dava mais pormenores sobre a digressão, que incluiria pelo menos um concerto em Coachella. Esta informação acabou por ser confirmada na segunda-feira seguinte pela organização do festival. A digressão foi confirmada sem pormenores através do site oficial da banda. E, finalmente, o regresso com tudo aquilo a que temos direito – incluindo um novo álbum a editar este ano – foi confirmado pelo próprio James Murphy.

Numa longa nota publicada no site e na página de Facebook dos LCD Soundsystem, James Murphy explicou o processo que o levou a reativar, juntamente com Nancy Whang e Pat Mahoney, a banda. Grande parte do texto é dedicado a justificar o facto de ter voltado atrás com a palavra, algo que parece ter deixado muita gente desconfortável, sobretudo tendo em conta o fim bem embrulhado que a banda teve em 2011. As explicações parecem razoáveis: se ele quer voltar a fazer música com os membros dos LCD Soundsystem, porque não fazê-lo com o mesmo nome? Além disso, James Murphy tinha dito em entrevista ao Pitchfork em 2010 que, se eles falassem sobre o assunto cinco anos depois e quisessem voltar a tocar juntos, fariam isso mesmo. Na mesma entrevista também disse que aquele não era um fim grande e dramático. Com isso já é mais difícil concordar.

De qualquer forma, pode haver aqui um problema. Este regresso não condiz com a narrativa perfeita que a banda e os fãs construíram em conjunto, sobretudo se for um regresso motivado por dinheiro. Creio que é daí que surge o desconforto. A banda está a pegar em algo perfeito e a arriscar estragar tudo. Mas arriscar – ainda que apenas a reputação – é bom, não?

Simplificando, há duas formas de olhar para o regresso dos LCD Soundsystem:

1. É uma traição aos fãs e, sobretudo tendo em conta que nem cinco anos passaram, uma decisão interesseira e motivada por dinheiro.

2. Uma das melhores bandas dos últimos dez anos em disco e ao vivo vai voltar a editar um disco e a dar concertos.

A segunda abordagem – da qual me sinto mais próximo – parece-me mais prática. As expectativas relativamente ao que aí vem hão de estar mais elevadas do que nunca na carreira da banda e parece-me que os LCD Soundsystem vão ter de convencer uns quantos céticos pelo caminho.

Só a digressão já chegava para quem sonhava voltar a vê-los ao vivo e dançar e cantar ao som de temas como “Daft Punk Is Playing At My House”, “Movement”, “Us V Them”, “Drunk Girls”, “New York, I Love You But You’re Bringing Me Down”, “North American Scum” ou “All My Friends”. Um álbum novo é apenas a cereja no topo do bolo.