É Topspin mas lê-se hype

Topspin

Sou um céptico e acho que isso me traz vantagens. Sobretudo se tivermos em conta que, profissionalmente, uma parte importante do que faço envolve estar atento aos novos projectos que vão aparecendo (numa base diária, diga-se) na área dos media sociais e da Web 2.0 (aquelas coisas todas com os nomes esquisitos e poucas vogais). O cepticismo não me deixa entrar em ondas por cada serviço novo que aparece por aí, o que me permite filtrar melhor as novidades, parece-me.

Isto para dizer que não consigo ver (e acreditem que já tentei!) o motivo da excitação toda que por aí anda com a Topspin. Para quem não sabe, a Topspin pretende ser uma alavanca na web para artistas independentes, não numa lógica de marketing mas de tecnologia pura e dura. Por exemplo, foi dos servidores da Topspin (via Remixtures, há umas semaninhas) que a maior parte das pessoas fez o download das últimas edições dos Nine Inch Nails. Sei pouco mais do que isto a nível prático, até porque a Topspin ainda está a operar somente com um grupo restrito de artistas, editoras e agentes (então não era suposto apoiarem o faça-você-mesmo?). O Josh Rouse, por exemplo, tem um sistema de subscrição pago no site mas, sem mais nada, isto é apenas uma solução de recurso, uma maneira de ganhar uns cobres. Falta definir um caminho. E a Topspin dá uma ajuda ao nível das ferramentas… mas tem um contributo estratégico muito marginal.

O Bob Lefsetz, que é um tipo com anos e anos de experiência na arte de dizer o que pensa da indústria da música, anda muito entusiasmado com o facto de, resumidamente, o pessoal da Topspin gostar de música e perceber de código (estamos a falar de desenvolvimento de software e afins).

É isto que não compreendo. Bem sei que é mais um sound bite do que outra coisa qualquer mas… o facto de alguém gostar muito de música e de saber codificar não a torna imediatamente sensível às questões que normalmente estão associadas ao marketing. E não falo das ferramentas não raras vezes obsoletas e pouco eficazes utilizadas pelos departamentos de marketing das principais editoras internacionais. Antes, refiro-me ao estudo do mercado, peça central no puzzle e agregador de quase todos os conceitos da disciplina. Sem este tipo de conhecimentos, o marketing é o fruto de conversa fiada e ferramentas de execução de sabe-se lá o quê.

Parece-me que o Bob Lefsetz demonstra demasiado entusiasmo para algo tão pouco interessante. É software, meu. É algo que, mal aproveitado, serve de muito pouco (quando não prejudica). Por isso é que, se se quer sucesso (seja a nível comercial ou de notoriedade), ter uma estratégia é fundamental. É uma regra básica: definem-se objectivos, depois estratégias para os atingir e depois acções específicas. Depois vêm as ferramentas. Fazem parte… mas não as sobrevalorizem.

De repente, começámos a falar de ferramentas de auto-promoção como se toda a indústria da música dependesse delas. As ferramentas por si só têm ciclos de vida muito curtos. Veja-se, de resto, algumas das que são actualmente utilizadas pela indústria. Por exemplo, quem é que ainda liga a cartazes colados em taipais de chapa? Fazem falta conceitos e caminhos novos. Deixemos as ferramentas para depois.