Depressão e cinismo: The Dears

O tempo que esta banda demorou a chegar-me aos ouvidos é um crime. Foi tarde – há dois ou três meses – que Missiles tocou pela primeira vez para estes lados. Com letras cínicas e melodias pop a duas vozes, os The Dears têm na voz de Murray Lightburn – o marido – um instrumento polivalente que tanto chuta cá para fora uma forte textura à la Alan Sparhawk, vocalista dos Low, como se aventura mais que competentemente em falsetes oportunistas. A de Natalia Yanchak – a mulher – é bem menos vistosa mas não é coisa para deixar ninguém envergonhado.

A cena musical de Montreal tem-nos dado muita coisa boa nos últimos 10 anos. The Arcade Fire, The Stills, Stars, A Silver Mt. Zion e Godspeed You! Black Emperor são, muito provavelmente, os melhores exemplos. Os The Dears também.

Deixo-vos duas brilhantes canções de Missiles – as melhores. A primeira foi single e chama-se “Money Babies”. Parece que o dinheiro deles é elástico.

A outra é a fantástica “Dream Job” em versão acústica, gravada ao vivo na QTV. Não chega ao nível da versão original mas dá claramente uma ideia. E o refrão – “You got dreams of taking someone else’s dreams away” – é tão directo quanto possível… mas algo do outro mundo.