Entrevista com Pedro Vindeirinho da Rastilho – parte 1

Há já alguns meses que andava a pensar nisto… porque nos falta, muitas vezes, a perspectiva de quem vive o negócio da música de forma mais próxima. O Pedro Vindeirinho criou a Rastilho em 1996 e acrescentou-lhe a edição de discos em 1999. A Rastilho Records é uma editora independente de Leiria que já lançou discos de Dapunksportif, Linda Martini, peixe : avião e If Lucy Fell, entre muitos outros. O Pedro aceitou responder a umas quantas perguntas por e-mail. Publico esta entrevista em duas partes: a primeira hoje, a segunda na quarta-feira.

Como promove a Rastilho os álbuns que edita?
Depende do lançamento em questão e do orçamento para marketing disponível. Mas, de forma genérica, a promoção é feita nas rádios nacionais (e regionais) com o envio de singles antes das saídas dos álbuns numa primeira fase; mais tarde, segue-se o envio dos álbuns físicos para a imprensa escrita. Paralelamente, existe toda a promoção feita via Internet (com as mais diversas ferramentas) e, pontualmente (conforme o export profile de cada banda), promoção na Europa em parceria com os nossos distribuidores locais.

Sei que fazes uso do MySpace e do YouTube com alguns resultados mas, dado que muitas das outras novas ferramentas de comunicação são gratuitas (Twitter, Last.fm, FriendFeed, Facebook, RSS, etc.), porque não vemos a Rastilho a apostar mais nelas?
É uma boa questão… A questão do Last.fm será resolvida em breve… Quanto ao resto, não te sei honestamente responder. Mas a maioria das nossas bandas faz uso dessas ferramentas e acaba por haver interacção com os seus fãs dessa forma. Preferimos centrar (enquanto editora) as novidades no nosso site, no MySpace e YouTube.

Achas que a forma como dás a conhecer a música que editas influencia de forma determinante o sucesso comercial dos discos?
Não é possível quantificar a relação promoção-vendas de forma directa. Esquecendo lançamentos com forte promoção em televisão direccionados para público mais juvenil, muitas das vezes um single passar numa rádio nacional não significa mais vendas e sucesso. Posso referir-te que, em 2008, com os peixe:avião, dois famosos órgãos de imprensa nacional decidiram ignorar o álbum 40.02. Noutra situação, poderia significar a morte anunciada do disco, mas constatei que a base fiel de fãs e as dezenas que sites e blogs que deram a devida atenção a este disco, acabaram por fazer com que este fosse o nosso disco mais bem sucedido de sempre em termos de vendas (até à data). Sinto que existe um divórcio entre quem escreve sobre música em Portugal de forma profissional (que a maioria das vezes o faz para alimentar o seu ego, como se se tratasse de uma catarse) e o público em geral. Felizmente, o público vai identificando essas divergências e opta por outras fontes credíveis antes de comprar um disco.

Como avalias o trabalho feito pelas editoras independentes portuguesas nos últimos tempos?
É crucial e cada vez mais importante para as novas bandas nacionais. Mas o cenário não é nada animador, também as editoras independentes passam por grandes dificuldades, porque a compra de discos é cada vez menor. No caso da Rastilho, será complicado manter este ritmo editorial se a situação persistir este ano. Identifico-me com a Raging Planet em termos editoriais. De resto, sou um grande crítico das novas editoras que surgiram o ano passado com inspiração divina, que têm tido a bajulação irritante dos principais media nacionais. A meu ver, algo corre mal quando os editores e os A&Rs se tornam mais importantes que as suas bandas. Quem trabalha com seriedade não procura protagonismo mesquinho, alimentando falsas profecias. Mas talvez o problema seja estarmos deslocados de Lisboa, onde tudo se passa e tudo acontece. Aceitamos esta realidade e convivemos bem com ela.

E o das majors (cá e lá)?
Só posso referir dois casos com os quais temos ligações mais directas: a NorteSul Valentim de Carvalho e a Universal. Ambas trabalham bem e fazem o que podem tendo em conta a crise geral.