“Last Flowers” (ou as minhas pequenas obsessões)

Esta música tem rodado muito por aqui nas últimas duas semanas. Já tinha rodado intensamente entre o final de Dezembro de 2007 e Fevereiro de 2008. E um pouco antes disso, entre Abril e Junho de 2005, ouvi-a até não poder mais. Sempre em versões diferentes, curiosamente.

Em Abril 2005, Thom Yorke estreou “Last Flowers” numa vigília do Trade Justice Movement que se realizou na Abadia de Westminster, em Londres. Guitarra, voz e uma letra críptica funcionaram na perfeição. Na altura, mesmo com todo o ruído habitual de uma… vigília, a coisa soava bem. Sobretudo a parte final. Segundo os registos, a música não era nova – “Last Flowers Till The Hospital” era um dos títulos antigos; “Cogs” era outro. Só nunca tinha sido tocada ao vivo. E eu, que tive a sorte de encontrar uma versão do set – que também incluiu a estreia de “House of Cards”, a última vez que “Reckoner” foi tocada à moda antiga, a ressurreição de “Nude” e a sempre adequada “No Surprises” – com boa qualidade (obrigado bootleggers!), ouvi repetidamente a música – às vezes adiando o sono simplesmente porque sim.

A coisa perdeu intensidade, naturalmente, à medida que os Radiohead começaram a tocar ao vivo e a música não voltou a aparecer. Thom Yorke lançou um álbum a solo e a canção também lá não estava. Os Radiohead continuaram a dar concertos e a repetir diversos temas que hoje fazem parte de In Rainbows (tanto do corpo principal do álbum como do disco de bónus). “Olha, outra ‘Lift’!”, posso ter pensado eu (ou não, que a minha memória não é assim tão boa).

Algum tempo depois, a 30 de Setembro ou a 1 de Outubro de 2007, os Radiohead anunciaram o lançamento de In Rainbows para 10 de Outubro. Pague-o-que-quiser à parte, entre o entusiasmo todo com a saída do disco, a mim surpreendeu-me uma música que aparecia no segundo CD da discbox, como lhe chamaram. “Last Flowers” estava lá, entre uma tal de “MK2″ e “Up On The Ladder”, outra das abandonadas do século passado. Depois foi esperar pela chegada da discbox. Apesar de ter ouvido o álbum em formato digital na maior listening party de sempre, deixei-me ficar à espera do tal bónus que vinha na discbox. Nem sequer o fui buscar a sites de torrents e afins. Foi uma experiência relativamente dolorosa, sobretudo com uma ou outra pessoa a fazer-me sofrer. Ainda fiquei para aí um mês à espera da discbox.

Chegou uma encomenda a minha casa no sábado, dia 22 de Dezembro, se não estou em erro. Sei que foi um sábado e sei que foi muito perto do Natal… portanto parece-me bastante provável. Abri, ouvi o primeiro CD de uma ponta à outra, apesar de já o ter ouvido de uma ponta à outra vezes sem conta nos dois meses e meio prévios. Fiz o mesmo com o segundo CD e lá estava ela, ligeiramente diferente, mas bastante na mesma. A guitarra foi substituída no leme pelo piano mas ganhou outras tarefas. A qualidade da gravação era ligeiramente diferente da do bootleg de 2005. Para melhor, para o caso de não perceberem. A música continuava fantástica. E o final mantinha-se gigante, que era o que mais importava.

Ouvi-a bem mais de uma centena de vezes nas primeiras semanas. Ouvi-a tanto que quando saiu o single Jigsaw Falling Into Place, quase não ouvi o b-side “Last Flowers (Live From The Basement)”. Estava demasiado concentrado na outra. Isto foi em Janeiro de 2008.

As coisas acalmaram entretanto. Curiosamente, os Radiohead nunca a tocaram ao vivo, mesmo depois do lançamento em disco. É pena. Dado que é uma música tocada a duas ou quatro mãos, seria coisa para colocar no início de um encore, talvez. Seria uma espécie de “True Love Waits” há uns anos atrás.

Fica registada – nem que seja pelo facto de saber a história toda – a minha pequena obsessão com a música. Houve outras, muitas delas com canções dos Radiohead, como seria de esperar. Esta, no entanto, foi vivida enquanto as coisas iam acontecendo, o que a torna diferente.

Como dizia ao início, tenho-a ouvido muito nas últimas duas semanas. Não houve evolução nenhuma, que eu saiba (e não acho que vá haver). Hoje, por acaso, calhou encontrar no YouTube a tal versão gravada ao vivo no From The Basement, o programa de televisão criado por Nigel Godrich, produtor dos Radiohead e de mais uns quantos, por onde já passaram The White Stripes, The Shins e Andrew Bird, entre outros. Eis o motivo do testamento…