Música, TV e cinema: ideias soltas

Hoje em dia, é praticamente impossível cruzarmo-nos com uma série de televisão sem que salte uma canção pop num ou noutro momento-chave do episódio. No cinema, em termos gerais, o efeito é menor… mas também existe. É um mercado em que as editoras e os artistas americanos têm apostado nos últimos anos. É investimento em marketing.

Em Portugal, vai acontecendo com melhores ou piores resultados nas telenovelas portuguesas. Infelizmente, isto significa que o Paulo Gonzo ressuscitou e teve a lata de reeditar um álbum com mais de dez anos para ganhar dinheiro com a música associada à novela. Esta prática também nos trouxe “A Carta”, dos Toranja, que ainda penso ser um óptimo single  – mas sim, cansou. Enfim, quero com isto dizer que também temos os nossos exemplos.

E sabem? Não sei o que pensar. Porque, como em tudo, há os que comprometem a arte por algo um tanto ou quanto mais palpável. Porque há quem faça música exclusivamente com este objectivo (e não me refiro à composição de bandas sonoras, claro). No entanto, também coloca um mais que justo holofote sobre canções que nunca ouviríamos na vida. E funciona como uma espécie de Last.fm… Gostam de ver o House a alucinar graças ao Vicodin? Então são capazes de gostar disto. A verdade é que não é assim tão raro a coisa bater certo.

Dois exemplos.

O Pete Yorn é um tipo norte-americano que faz um pop/rock de digestão fácil e que se mudou, no início da carreira, para Los Angeles… para fazer música para cinema e televisão. Se ouvirem, faz algum sentido… mas não deixa de levantar algumas questões relativamente aos motivos que o levaram a mudar de costa (não que alguém tenha realmente alguma coisa a ver com isso). Foi por causa dele que este atabalhoado texto saiu. Explico: todos os episódios de House fecham com uma música que se adapte ao momento em que aparece. O enterro de Kutner trouxe-nos “Lose You”, tema pop meio triste do primeiro álbum de Pete Yorn (já agora, musicforthemorningafter, o tal primeiro álbum dele, até não é mau de todo). Vejam o vídeo:

O outro exemplo também é relativamente recente. Mickey Rourke é amigo de Bruce Springsteen e pediu a Darren Aronofsky, o realizador, para convidar o boss a escrever o tema de The Wrestler. Springsteen fê-lo e com óptimos resultados, como seria de esperar. Sim, Working On A Dream não é um grande álbum mas “The Wrestler” é uma grande canção. E foi inspirada no filme, como seria de esperar. Aqui, não se trata de tentar convencer executivos a pôr uma música numa série. Aqui, voltamos ao domínio exclusivo da arte e não há motivos para pensar duas vezes: ou se gosta… ou não. E eu gosto.

A cultura pop, essa coisa que é tudo e nada, facilita sinergias e os resultados aparecem. Promover música em filmes e séries não tem nada de mal, acho eu, desde que não seja absolutamente comercial. Tantas vezes já ouvi The National, Bon Iver, Gomez e outras bandas que por aqui rodam habitualmente em séries de televisão… e a coisa não era totalmente descabida. Gastaram dinheiro para lá pôr as músicas? Acho que sim. Foi um mau investimento? Diria que não, tendo em conta o público que as segue. Aqui, acabo a misturar marketing e um lado mais emocional, o que é ideal para quem promove… e o contrário para mim.

É um mundo que não conheço, confesso, mas a ideia de me fazer a esse lugar privilegiado que é fazer chorar as pedras da calçada durante um episódio de Grey’s Anatomy com uma canção só porque sim não é tão atraente quanto isso. Claro que se isso acontecer, tanto melhor… desde que faça sentido. Mas não sei, a sério que não.

E vocês, têm alguma coisa a dizer sobre o assunto?