Já todos nos esquecemos do que são, em teoria, editoras de música. Porque nos vendem banha da cobra, porque perseguem tudo e todos, porque estão parados no tempo… mas sobretudo porque há muito tempo que deixaram de ser editoras de música.
Pensem nas editoras de livros, na relação íntima entre editor e autor e na forma como aquelas constroem um catálogo ao longo do tempo. Pensem numa conduta de respeito e apoio ao artista, pensem em pressão – o tipo bom de pressão. Pensem nas dificuldades e nos momentos em que tudo parece bater certo.
A verdade é que, em teoria, uma editora não é a empresa típica. Ainda que venha logo atrás, o lucro vem depois do amor à arte… mas geralmente até se tenta que ambos andem de mãos dadas.
Mas pronto, não é isto que se passa. Tenho dúvidas sobre se alguma vez terá sido assim em grandes editoras mas também tenho a certeza de que é isto que acontece numas quantas pequenas.
Se eu mandasse numa editora de música, a empresa lucraria pouco, o suficiente para pagar a toda a gente e continuar. Os artistas teriam liberdade artística mas também teriam alguém de fora com opinião sobre o trabalho deles. Os artistas teriam prazos (ainda que flexíveis). Os artistas teriam marketing adequado ao seu público-alvo e não teriam de fazer nada em termos de divulgação com que não se sentissem confortáveis. Os artistas teriam controlo sobre o seu catálogo, mesmo que a editora também tivesse alguma palavra a dizer.
Se eu mandasse numa editora de música, provavelmente tentaria fazer com que não se limitasse a editar música. Editaria livros e filmes relacionados com música. Promoveria eventos sobre música. Abria uma ou mais lojas de música. Provavelmente, se houvesse espaço, dinheiro e oportunidade, promoveria concertos e festivais. Convidaria artistas da editora a serem agenciados pela editora.
Se eu mandasse numa editora de música, ouviria o máximo de coisas que me enviassem e, se possível, daria resposta. Iria a concertos ouvir bandas novas e velhas. Marcaria reuniões a pedido porque nunca se sabe.
Se eu mandasse numa editora de música, não deixaria de ouvir música boa (e alguma má). Não me transformaria num homem de negócios nem ficaria mais cínico do que sou hoje.
Não me atrevo a pensar que conheço a indústria, as coisas que distraem os agentes e as dificuldades diárias por que todos passam. Não acho que conheça a forma como se faz negócio no mundo da música gravada, até porque nunca estive por dentro da coisa, mas creio que é possível fazer bem melhor do que o que é feito hoje em dia.