Por um lado, os Eels não pisavam um palco português há nove anos. Por outro, lançaram três álbuns em apenas ano e meio sem que nenhum conseguisse entusiasmar por aí além. Não podia, portanto, haver expectativas extremamente elevadas para este concerto. Mesmo que a vontade de os ver novamente por cá fosse quase insuportável, era simplesmente impossível esperar este mundo e o outro.
E, infelizmente, confirmou-se: com um alinhamento que só a espaços se afastou da trilogia constituída por Hombre Lobo (2009), End Times (2010) e Tomorrow Morning (2010), os Eels deram um bom concerto de rock’n’roll e blues… mas foi só isso.
Com um fato-macaco branco, óculos escuros, um lenço na cabeça e a melhor barba de sempre, Mark Oliver Everett (ou E.) mostrou apenas nariz e boca durante a noite toda – parece que o homem é menos importante que a música. E o concerto começou bem, com uma versão despida de “Grace Kelly Blues” e E. sozinho em palco. Depois veio a melancólica “Little Bird” e uma (demasiado) longa série de temas dos últimos três álbuns, interrompida apenas pelas habituais covers que os Eels normalmente oferecem aos seus fãs. “She Said Yeah”, dos Rolling Stones, “Summertime”, de George Gershwin e a grande “Summer in the City”, dos The Lovin’ Spoonful, foram bem recebidas pelo público mas… faltava ali qualquer coisa.
Quando não estavam a fazer blues rock ou algo do género, os Eels lá acalmavam e tocavam coisas mais simples e sossegadas, como “In My Dreams” ou “Spectacular Girl”, o mais recente single. O problema? Continuavam sem sair dos últimos três álbuns.
A determinada altura, lá nos deixaram ouvir uma versão absolutamente transfigurada e acelerada da outrora agridoce “My Beloved Monster”. Entre as vítimas de transfiguração, encontramos também “Mr. E.’s Beautiful Blues”, que ficou mais perto de uns Beach Boys do que seria de esperar, e “I Like Birds” – rápida, barulhenta e suja quando antes era a coisa mais cândida do mundo.
Um dos pontos altos do concerto dos Eels em Lisboa foi certamente a dupla “Dog Faced Boy” e “Souljacker Part 1”, ambas retiradas de Souljacker. Rock do mais granulado que E. e companhia fizeram em 15 anos de carreira.
Mas sabe a pouco. Num concerto onde arranjam tempo para tocar “Talkin’ ‘bout Knuckles” (uma música cantada por Knuckles, o baterista…) e uma série de covers, não cabem as melhores canções dos Eels? Se olharem para Meet The Eels: Essential Eels – Vol. 1, 1996-2006, por exemplo, encontrarão apenas quatro temas dos que foram ouvidos esta noite. “Novocaine for the Soul”, o maior êxito, não apareceu. Electro-shock Blues, o melhor álbum da banda, não teve direito a um tema sequer. Blinking Lights and Other Revelations, que me lembre, também não. Não faz sentido e sabe a pouco.
Depois temos “Paradise Blues” e “Looking Up”, tema que antecedeu o encore, a repetirem fórmulas no mesmo concerto. O encore, curto, trouxe-nos, felizmente, duas das melhores canções de Tomorrow Morning – “I Like The Way This Is Going” e “Oh So Lovely” – mas… um encore apenas com canções do último álbum? Que tipos subversivos, pá.
Foi o último concerto da digressão europeia dos Eels. E foi um bom concerto de rock’n’roll e blues… mas foi só isso e é quase impossível não ficar desiludido. Uma banda com o repertório dos Eels tinha tudo para dar um concerto memorável, épico, gigante. Não foi o caso.