Porque é que algumas músicas provocam arrepios?

arrepios

Tenho a certeza de que já vos aconteceu estarem a ouvir uma canção e, a determinada altura, sentirem arrepios. Já vos aconteceu, certo?

Pois que há uns dias estava a ouvir algo que só muito recentemente deixei entrar na minha vida, apesar de já ter uns aninhos valentes, e aconteceu. In The Aeroplane, Over The Sea, o estranho e riquíssimo álbum lançado pelos Neutral Milk Hotel em 1998 não teria, à primeira vista, as condições necessárias para me fazer sentir arrepios. Aliás, tendo em conta o número de vezes que o ouvi antes sem grandes efeitos, é mesmo surpreendente. Mas, de alguma forma, a voz meio irritante e desafinada de pronúncia solista de Jeff Mangum e o choque térmico (ou, antes, sónico) entre uma simples guitarra acústica, metais semi-épicos, guitarras eléctricas cheias de distorção e aquilo que me parece ser uma gaita de foles… fizeram qualquer coisa. Comecei a apreciar bastante o álbum. E depois aconteceu.

“Two-headed Boy” é a quarta faixa do álbum e é tão simples como o álbum consegue ser – tem voz e guitarra acústica. A característica extra: ocasionalmente, provoca-me arrepios. E um desses episódios deixou-me a pensar: mas porque é que isto acontece?

Aparentemente, a culpa é do hipotálamo.

Sim, aquela área do cérebro de que se fala sempre que se fala de sexo (e do cérebro). O hipotálamo regula uma série de coisas giras: prazer sexual, apetite, emoções, temperatura corporal, sede e sono, entre outras menos óbvias. Algumas reacções da responsabilidade do hipotálamo incluem o aumento de ritmo cardíaco e da transpiração, por exemplo, mas também, claro está, os proverbiais arrepios. Suspeitava que os arrepios poderiam ter origem em algo mais imediato, como sequências de acordes, mudanças de timbre ou coisas do género… mas parece que não. Pelo menos não da forma que pensava. A resposta comum é a de que os arrepios que sentimos aqui e ali quando ouvimos uma música estão relacionados com as nossas emoções, com a forma como descodificamos essa música. Pondo as coisas da forma mais redundante possível, os arrepios estão relacionados com o que sentimos quando ouvimos música. Embora sintamos, também, os próprios arrepios (daí a redundância). E depois há o prazer e a libertação de dopamina e assim… mas ainda não é desta que me vão ver a falar disso.

Pensando bem, a minha primeira hipótese não fazia sentido. O ónus não poderia nunca estar na música, mas sim no ouvinte. Se não, aconteceria a mesma coisa a muito boa gente com a mesma música. E isto demonstra em boa parte o poder da música. O sexo, a fome, a sede… são coisas claramente físicas. Na música, não é o estímulo sonoro que nos afecta fisicamente. É o processo psicológico que acompanha a música. E isso é uma coisa fantástica.

A piada pós-arrepios está em tentar perceber o que é que, na descodificação de determinada música, nos levou por esse caminho. É que, numa altura em que ainda estava apenas a começar a tomar atenção à letra (e por isso não a tinha bem presente) e depois de já ter ouvido a música antes sem lhe ligar nenhuma, continuo sem perceber o que é que, na prática, me levou a arrepiar-me com “Two-headed Boy”. Mas pronto, venham de lá os próximos.