Valter Lobo na Fábrica do Braço de Prata: o inverno chegou mais cedo

Ontem passei pela Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa, para ver o Valter Lobo ao vivo. Ele tem andado a tocar pelo país e este fim de semana esteve pela capital (e Alfragide, vá).

Depois de um concerto de Maria João que encheu a pequena sala Nietzsche, Valter Lobo deu início a um espetáculo intimista (e sobretudo invernista) que durou cerca de uma hora numa noite chuvosa, bem ao jeito das canções baixinhas do músico de Fafe, que se fartou de falar disso durante o concerto.

Duas pessoas, três guitarras, um sintetizador e um computador foram suficientes para fazer a muito pouco festiva festa de Valter Lobo. Eu, que só conhecia as quatro músicas de Inverno, fiquei a conhecer mais umas coisas (com destaque para a canção que mostrou na Balcony TV há uns meses) e não posso dizer que tenha ficado desagradado.

Vê-se que isto ainda é tudo muito novo para ele mas não se safa mal. É simpático, conversador e chega ao ponto de gerar algum desconforto porque normalmente as pessoas não respondem à pessoa do palco (e nem todas as perguntas que ele fez eram retóricas) mas tudo isso é secundário.

Em termos musicais, que é o que interessa realmente, nota-se alguma inexperiência mas não ao ponto de fazer grande diferença. Pessoalmente, preferia ver um palco mais cheio – pelo menos com pessoas que fizessem a vez do Mac – mas percebo que isto de andar com músicos atrás não é propriamente a coisa mais barata do mundo. Mas pronto, senti falta de uma bateria comandada por um humano e coisas do género.

No final do concerto, ainda lá fiquei um bocado com amigos a discutir, entre muitas outras coisas, a questão das letras, que me fazem alguma comichão por passearem frequentemente por lugares comuns. Não quero mitigar a minha opinião (que mantenho, diga-se) sobre as letras do Valter Lobo mas é de facto curioso como somos tão mais exigentes quando um tipo canta em Português. Mas faz sentido: é a nossa Língua, é uma das peças fundamentais da nossa identidade coletiva. É claro que somos mais exigentes.

Por isto e muitas outras coisas, vejo o Valter Lobo como um artista em construção. Num país onde o futuro parece impossível, seja para músicos, sapateiros ou arquitetos, dizer que Valter Lobo é um músico de futuro vale pouco. Mas acho que ele tem uma margem de progressão gigante e tanto a capacidade de trabalho como o talento também lá estão. Mas fica o aviso à navegação: se quiser muito isto, vai ter de ser insistente.

Já eu… vou continuar à espera. Até agora, parece-me tudo bem encaminhado. Um bom EP e um bom concerto já cá cantam. Espero que venha aí um bom álbum. Entretanto, se conseguirem apanhá-lo por aí num dos próximos concertos, aproveitem.