Este é o segundo de uma série de posts sobre a História da Britpop.
A Britpop nasce do vazio. Um vazio musical de bandas britânicas que viviam, no início da década de 1990, ainda na sombra da efémera (e já na altura moribunda) Madchester dos Stone Roses. Mas também um vazio de identidade provocado por esse eucalipto chamado grunge, que puxava todas as atenções para o outro lado do Oceano Atlântico, para bandas como os Nirvana e os Pearl Jam.
Porque é que Madchester originou um vazio musical? Bem, primeiro porque era menos sobre música do que sobre um estilo de vida em que raves e drogas eram os ingredientes principais. Depois porque foi tudo demasiado intenso e efémero. Bandas como os já referidos Stone Roses, os Happy Mondays e os Charlatans morreram mais cedo do que ainda hoje nos querem fazer crer mas deixaram uma marca tão única que tornava difícil criar uma pós-Madchester. Além disso, é possível que as pessoas quisessem deixar de se vestir como adeptos de futebol em dia de jogo. Mas é inegável que há resquícios de Madchester (festarola!) na maior parte das bandas que deram origem à Britpop.
Mas o grunge, por seu lado, tinha tudo. Falava a linguagem universal da angústia adolescente enraivecida. Tinha bandas com um potencial do tamanho do mundo, uma cena musical muito dinâmica e, acima de tudo, heróis. Claro que também tinha as roupas… mas até aí o grunge dava cinco a zero aos outros amigos.
A música britânica foi encostada a um canto, deixando as luzes da ribalta para outros.
A polémica demissão de Margaret Thatcher em novembro de 1990 pode bem ter sido o despertador ideal para um país que convivia há demasiado tempo com as mesmas caras. Na prática, foi apenas uma operação de cosmética (John Major, o substituto da Dama de Ferro, acabou por levar o Partido Conservador à vitória nas eleições de 1992) mas parece ter contribuído para reavivar a chama do orgulho britânico que não se via desde a vitória na Guerra das Malvinas em 1982.
Mas a Britpop não foi tanto um fenómeno social como musical. Nesse sentido, é impossível ignorar a influência das bandas da Invasão Britânica dos anos 60 – The Beatles, Rolling Stones e The Who, entre outras – e do punk no movimento. Outra das maiores influências? Os reis do rock alternativo britânico dos anos 80: The Smiths. Agora juntem a este cocktail as memórias bem vivas de Madchester. Já está?
A cereja no topo do bolo é um pouco mais etérea: a Britpop carregava uma certa ideia de voltar a tomar conta dos assuntos. Enquanto o shoegazing e o grunge se dedicavam de corpo e alma à alienação, as novas bandas britânicas tinham histórias para contar, tinham algo a dizer… e queriam devolver a voz aos britânicos.
Foi neste estado de espírito que em Camden Town, em Londres, começou a ganhar massa crítica uma cena musical que viria a dar imensos frutos durante os anos seguintes. Foi no virar da década em Camden que bandas como os Blur e os Suede, por exemplo, deram os primeiros passos. Bandas que faziam música rock inequivocamente britânica e que viriam a conquistar um mundo demasiado aborrecido para não reparar nelas.
Visita ao Museu Britpop:
Uma introdução
As origens