Depois de ter visto Mistaken For Strangers no início da semana passada, encerrei a edição deste ano do Doclisboa com mais um documentário relacionado com música: Death Metal Angola. E que bela forma de encerrar o festival.
O filme de Jeremy Xido segue Wilker Flores e Sónia Ferreira nos seus esforços para realizarem o primeiro festival de música rock de Angola. E rock aqui quer mesmo dizer death metal, que aquela gente não brinca em serviço.
Death Metal Angola leva-nos a um orfanato no Huambo onde Sónia Ferreira cuida de dezenas de miúdos órfãos e abandonados – consequências da guerra tão visíveis como os edifícios meio destruídos que ainda marcam a paisagem da antiga capital angolana. É neste orfanato que Wilker Flores inicia o projeto do festival.
O filme mostra-nos um pouco da história recente do Huambo graças aos relatos de Sónia e dos miúdos. É a história de uma cidade ferida. Mas mostra também que, com determinação e força de vontade, é possível levar avante projetos de grande envergadura, por mais impossível que pareça. Falo do festival de música, claro, mas acho que pode estabelecer-se um paralelismo com a vida dos miúdos.
E esta mensagem tem um grande impacto. Mais do que as dificuldades que Wilker enfrenta para conseguir levar o festival avante; mais do que o esforço das bandas angolanas para levarem a sua música a mais pessoas; mais do que o recurso à música como mecanismo para lidar com as memórias da guerra; Death Metal Angola é uma mensagem de esperança que, depois de nos encher de histórias horríveis, deixa uma ideia de que o presente já não é nada mau… e que o futuro será ainda melhor. Tanto para as crianças do orfanato como para o rock angolano.
A música aqui – estou certo de que já perceberam – é, na melhor das hipóteses, contexto para a verdadeira história. Mas independentemente disso (ou exatamente por isso), Death Metal Angola é um documentário maravilhoso que não posso deixar de aconselhar.