Não se ama alguém que não ouve a mesma canção: 5 motivos musicais para fugir de uma relação

5-motivos-musicais

Este artigo foi publicado originalmente no Strobe.

Não é todos os dias que nos podemos dar ao luxo de citar uma canção de Rui Veloso. Sobretudo tendo em conta que não estou roendo uma laranja na falésia mas sim a escrever isto aqui, no lugar de… não consigo. Estou em casa, pronto.

Mas acho que a citação se justifica. O Carlos Tê tinha alguma razão quando escreveu aquilo para o Rui Veloso cantar, ainda que me pareça um tanto ou quanto fundamentalista pôr as coisas de forma tão taxativa. Por mais espetaculares que sejam, há pessoas de que simplesmente não podemos gostar porque, sejamos sinceros, ouvem música de merda.

Há uns tempos li um artigo que perguntava aos leitores se se sentiriam atraídos sexualmente por alguém que gosta de Yanni. Acho que sabem bem que não.

E é por isso que vos deixo aqui um guia para a vida. Se por acaso isto vos soar familiar, então estão em maus lençóis. Fiquem com cinco dos principais motivos para fugirem de uma relação amorosa. Não é por nada.

É que não vai correr bem…

5. Um vive para a música, o outro não está nem aí

Vamos pôr as coisas de forma simples: se por acaso chegam ao final do ano e conseguem fazer um top 100 dos concertos a que assistiram ou dos discos que compraram, parece-me razoável assumir que têm uma relação relativamente profunda com a música.

Agora… se alguém se deixa arrastar para concertos e aceita que vocês ouçam o que querem quando estão os dois juntos, então há aí um problema. Até podia não ser problema nenhum, sobretudo se não fossem as expressões “deixa arrastar” e “aceita que vocês ouçam”, mas quanto tempo pode durar algo assim?

Uma coisa é certa: quando isso acabar – e vai acabar -, vocês vão acabar a ouvir o que quer que vos faça sentir melhor (se forem meninas) ou pior (se forem meninos) e a outra pessoa vai arranjar outra maneira qualquer de lidar com o assunto – uma viagem espiritual pelo sudeste asiático ou pela América do Sul, um curso de artesanato ou uma série de idas ao casino são bons exemplos.

4. Um (e apenas um) gosta muito de Ivete Sangalo

Se por acaso gostam de Ivete Sangalo, arranjem maneira de conhecer as vossas almas gémeas num concerto dela. Oportunidades não faltam – basta dar um salto a uma qualquer edição do Rock In Rio e ir lá para a frente no dia em que ela lá for, nem que seja por apenas uma hora (os brindes não fogem, vá). As pessoas que não apreciam o talento da Ivete (as pessoas que gostam de Ivete Sangalo referem-se a ela sempre pelo primeiro nome) não são as pessoas cheias de vida de que vocês precisam.

Se, como eu, não são especiais apreciadores de Ivete Sangalo, não se iludam.

“Mas, ó Filipe, o amor não sei o quê…”

Não. Conseguem imaginar-se nesse mundo? Conseguem ver-se a levantar poeira e a acordar todos rodeados de uma irritante e aparentemente inesgotável energia gritona num sábado de manhã (energia essa que apenas vos rodeia e não vos toca, devo destacar)? Sejam sinceros. A resposta é não.

Agora pensem que, com aquela pessoa maravilhosa que conheceram algures, isso vai passar a ser regra na vossa vida. E, no meio de toda essa paixão que vos levou a uma auto-anulação, um dia dão por isso e a Ivete Sangalo é a autora da vossa música. Sim, Ivete Sangalo é a autora da banda sonora do vosso amor.

Não vai dar, não é?

3. A banda favorita de um não diz absolutamente nada ao outro

Eu adoro Radiohead. Tenho CDs, vinis, t-shirts, posters e até uma caneca dos Radiohead (sim, é triste, eu sei). Acham que fazia algum sentido envolver-me seriamente com alguém cuja reação aos Radiohead fosse algo como “sim, conheço mas não gosto muito”?

É que os Radiohead são muito importantes para mim. Fazem música que adoro de morte e falam sobre coisas que me dizem muito. Representam valores com os quais me identifico fortemente e foram muito importantes para tornar a minha relação com a música nesta coisa inabalável que é hoje.

“Conheço mas não gosto muito” é, portanto, uma facada no coração.

E “Se conheces, como é que podes não gostar?” é a única reação aceitável. Tudo o resto é uma perda de tempo porque vão perceber, mais cedo ou mais tarde, que esta diferença é apenas um sintoma de toda uma montanha de diferenças – seja de ambições, de fé, de valores… ou do que quer que seja. Se a outra pessoa não quer saber minimamente de algo tão importante para vocês, se calhar não quer saber realmente de vocês.

Isto aplica-se sobretudo quando ambas as pessoas têm uma relação minimamente forte com a música, claro (aliás, só o facto de se ter uma banda favorita já é normalmente sinal de algo). Mas aplica-se mesmo.

Claro que este estudo me lixa um bocado o esquema, confesso. É que, aparentemente, este drama que acabei de descrever é coisa de homens.

Mas adiante.

2. Um quer fazer o doce amor ao som de Linkin Park, o outro de Nina Simone

Aqui é onde as coisas ficam meio desconfortáveis. Acho que o título é bastante auto-explicativo mas deixem-me explicar tão bem quanto possível.

Se por acaso o vosso templo sagrado do doce amor – seja o quarto, o automóvel ou o estúdio de rádio da faculdade – tiver um sistema de som, há que ter cuidado com a música que escolhem. Se forem esquisitinhos com isso, têm de pensar em algo que seja, por exemplo, suficientemente sexy e interessante sem ser abrasivo e foleiro. Tudo pensado ao pormenor…

E de repente, a outra pessoa põe a tocar uma compilação de trance. Porque fica “in the zone” ou assim, não sei. O que é que uma pessoa faz com isso?

Vai-se embora e tenta esquecer que aconteceu, é o que é. Se ficarem lá porque, pronto, há coisas para fazer… pelo menos tenham noção de que a coisa não vai longe. Nada contra o carpe diem mas… vá, vamos lá.

1. “Só ouves música deprimente…”

Este é um ponto que me toca especialmente porque, bem, eu só ouço música deprimente. E a forma como algumas pessoas lidam com este facto sempre me fez muita confusão. Há basicamente duas hipóteses. A saber:

a) O Filipe está deprimido.

b) A pessoa que se queixa da música deprimente vai ficar deprimida com a música.

Tenham dó. É só música! Imaginemos que eu ganhava o Euromilhões. Logo a seguir, por coincidência, começava a tocar a “The Day Texas Sank To The Bottom Of The Sea”, do Micah P. Hinson. Ia ficar triste? Tenho as minhas dúvidas.

Agora, no caso extremamente grave de a pessoa que diz isto ser o vosso mais que tudo, o que é que vão fazer? Vão deixar de ouvir a melhor música do mundo e arredores por causa disso? Vão continuar a ouvi-la correndo o risco de deixar a outra pessoa de rastos? Ou vai cada um para seu lado ouvir a sua música? É que, quando derem por isso, estão a ouvir música acompanhados de outras pessoas.

Mas pronto, não estou aqui para julgar ninguém.