Record Store Day 2014: assim não vale a pena

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Record Store Day é facilmente um dos meus dias favoritos do ano. Há já várias semanas que andava a pensar no percurso por Lisboa, nas lojas e nos descontos. Adoro a ideia de uma romaria às lojas de música e nos últimos anos tenho-me divertido imenso graças ao Record Store Day. Não estava, portanto, à espera do que acabou por acontecer.

As novidades começaram uns dias antes. A Flur decidiu que ia comemorar o dia mais tarde por causa da Páscoa, porque toda a gente sabe que as efemérides, sobretudo as mais artificiais, funcionam assim e pronto: não dá jeito, passamos para outro dia. A Carbono decidiu subir a parada e não abrir hoje em protesto contra o IVA, porque um dos dias aparentemente mais movimentados do ano é o momento ideal para o fazer. O Governo já está a trabalhar em alternativas para as suas compras de discos usados, tenho a certeza.

A coisa não começou bem, portanto. Mas lá fomos nós em romaria à mesma. Afinal de contas, temos sempre a Louie Louie e mais umas quantas entre o Chiado e a Baixa.

Glam-O-Rama e Magic Bus

Fomos ao Imaviz, em Picoas, visitar a Glam-O-Rama… mas estava fechada. Abria às 11 da manhã mas eram 11h20. “Ele deve estar a chegar”, disse-nos o tipo de uma das outras lojas do Imaviz Underground. Está bem.

Fomos embora. Próxima paragem: Magic Bus, junto à Estação do Rossio. Fechada. O horário era hilariante: das 18h30 às 20h. Mas pronto, a culpa de termos batido com o nariz na porta não é deles. O horário, apesar de divertidíssimo, era aquele.

Louie Louie

Quando chegámos à Louie Louie, que no ano passado tinha balões e muito mais pessoas na loja, percebemos que era quase apenas mais um dia normal para eles. Não havia descontos (ou pelo menos não mais do que há habitualmente) e a única coisa relacionada com o Record Store Day que tinham era uma mão cheia de discos editados especialmente para este dia.

Gosto muito da loja e encontro frequentemente música interessante por lá mas acabei por sair de mãos a abanar. Não havia nada suficientemente interessante ou barato para mim.

Fnac

Um bocadinho frustrado, fui à Fnac Chiado. E ironicamente, tendo em conta que o Record Store Day nasceu para apoiar as lojas de discos independentes, foi onde acabei por comprar a maior parte dos discos. Em vinil, The Virginia EP, dos The National, e Repave, dos Volcano Choir. Em CD, uma excelente oportunidade: a edição especial de Gorilla Manor, dos Local Natives, por apenas €13,90. Havia descontos de 5%, sacos de pano para discos de vinil por um cêntimo. Diga-se de passagem que a Fnac chama “oferta” a isto, o que ainda deu para discutir com a senhora da caixa por 2 cêntimos.

O preço não é, normalmente, algo que tenha em conta neste dia… mas à oferta, definitivamente, não posso deixar de prestar atenção. E a oferta da Fnac era francamente melhor que a das restantes lojas que visitei. Além disso, apesar de não poderem associar-se ao Record Store Day oficialmente, ao menos avançaram com iniciativas próprias.

Sound Club Store e Vinil Experience

Depois de um almoço rápido, partimos em direção ao Espaço Chiado para visitar a Sound Club Store, uma loja de discos de vinil a que nunca tinha ido mas que já conhecia de nome e de fama. É que, reza a lenda, não é uma loja que faça por tornar a visita de quem lá vai agradável ou confortável. E nem o Record Store Day é exceção, aparentemente. Uma senhora que abordou o dono da loja acerca de música portuguesa ou brasileira foi informada que o espaço dedicado a esse tipo de música estava fechado e que eles abriam quando lhes apetecesse. “Estúpidos”, comentou a senhora enquanto se afastava. Não posso dizer que discorde.

A volta às lojas de discos do centro de Lisboa terminou na Vinil Experience com boa música e Moscatel. Sim, o nome não é especialmente feliz na mistura entre Português e Inglês mas há coisas bem piores no mundo. Neste primeiro andar da rua do Loreto, perto do Camões, também não houve direito a descontos especialmente interessantes mas ainda saí de lá com um vinil vermelho de Soul On Fire, um dos singles mais conhecidos de Spiritualized, por apenas €5.

Apoiar, sim, mas com motivos

Gosto muito da ideia de apoiar as lojas de discos que ainda há em Lisboa. Mas não gosto de o fazer sem motivos. Apoiar tipos que tratam mal os clientes e abrem quando querem é apoiar uma maneira de trabalhar que não me é especialmente querida. Não preciso que me façam sentir especial mas, se forem cordiais e me tentarem ajudar de alguma forma, já fico bem. Se em cima disso inventarem motivos para eu ir à vossa loja, melhor ainda.

Gostei, como anteriormente, da Louie Louie e da Vinil Experience, mesmo que não se tenham esforçado especialmente para levar pessoas às lojas. O resto, no entanto, é assustador. Não sei como é que se aguentam negócios a trabalhar assim, honestamente.