Heaven Adores You é um documentário dedicado à vida e sobretudo à música de Elliott Smith. Estreou em Portugal durante o Doclisboa e, tendo em conta a minha descoberta tardia no ano passado, não podia deixar de ir ver o filme. E fui.
Realizado por Nickolas Rossi, Heaven Adores You parece mais uma homenagem feita por um fã do que um documentário recheado de informação para os que querem saber mais sobre a vida e a música de Elliott Smith.
Reparem, os pontos-chave estão lá todos: a infância, a adolescência, as primeiras bandas, os Heatmiser, a nomeação para um Oscar, os problemas com drogas e a morte. Mas nenhum deles é explorado com a profundidade que gosto de ver em documentários. Parece mais uma versão longa de um vídeo promocional sobre a carreira de Elliott Smith do que um documentário. Se calhar não foi fácil ter acesso a um número suficiente de bons entrevistados, o que dificulta o trabalho, mas este não é o único problema do filme.
Com uma abordagem meio focada nas cidades por onde Elliott Smith passou – Dallas, Portland, Nova Iorque e Los Angeles -, o realizador não se limita a utilizá-las como cenário. Dá-lhes um protagonismo visual – com longas panorâmicas aéreas em câmara lenta – que não acrescenta nada ao filme. A ideia, creio, era deixar o filme respirar, dar espaço ao espetador para refletir, assimilar e entrar a sério na história da vida de Elliott Smith.
O problema é que Heaven Adores You não nos dá conteúdo suficiente para precisarmos de tempo para refletir. Não há uma fase da vida ou da carreira de Elliott Smith que tenha merecido uma profundidade de tratamento que justifique reflexões. É tudo superficial.
Mas não quero que fiquem com uma ideia errada. Se gostam de Elliott Smith, vão gostar pelo menos um bocadinho do filme.
Além de nos proporcionar um olhar sobre a vida de Elliott Smith, Heaven Adores You está cheio de música dele, entre as quais versões ao vivo de temas como “Waltz #2” e “Everything Means Nothing To Me”, por exemplo. E ainda a joia da coroa, uma canção que Elliott gravou com 14 anos chamada “I Love My Room”, uma espécie de “Bohemian Rhapsody” adolescente pouco seletiva e extremamente descritiva… mas com claros indicadores sobre o talento que o músico viria a confirmar mais tarde.
No meu caso, o filme teve ainda o efeito de me empurrar de novo para o caldeirão da música de Elliott Smith. Não é totalmente inesperado, certo?
Heaven Adores You é um documentário giro mas não muito mais do que isso. Tem pormenores engraçados, sobretudo nas entrevistas a Jon Brion e a Joanna Bolme, ex-namorada de Elliott Smith, e na fase em que “Miss Misery” foi nomeada para os Oscars (as referências a Céline Dion são sempre um ponto positivo). Mas durante a maior parte do tempo, Heaven Adores You limita-se a um formato próximo de um daqueles “Behind the music” a que a VH1 nos habituou – não é um documento essencial para quem quer conhecer Elliott Smith.
Se querem fazê-lo, este artigo poderá demorar um pouco mais a ler do que o filme demora a passar… mas o sentimento será bem mais satisfatório.