Os melhores álbuns de 2014

Mark Kozelek

Este é o terceiro de três posts sobre o melhor da música em 2014.

O ano não foi mau mas confesso que não me apaixonei por tantos álbuns novos como gostaria. Quando não me soa mal, soa-me quase tudo a mais do mesmo… Acho que estou a ficar velho.

Depois há aquela coisa que distingue os álbuns das canções, que é a sua complexidade. Isso dificulta imenso fazer uma lista deste género, sobretudo quando a maior parte da música que ouvi não motivou em mim aquela atração visceral que as canções mais facilmente provocam. Quando isso acontece, os álbuns têm lugar garantido no topo da lista… e quando são muitos, a luta torna-se interessante. Isso não aconteceu este ano.

No entanto, há muita coisa boa por aí para ouvir e se não a listar, não estou a fazer o meu trabalho.

Estes são portanto, para mim e à data de hoje, os melhores álbuns de 2014:

10 – Alvvays – Alvvays

Nada como um conjunto de desconhecidos canadianos para começar uma lista em beleza. Fazem daquela pop independente descomprometida inspirada em nomes como Beach House, Memoryhouse e outras bandas acabadas em “house”… e fazem-no bem. O álbum é uma excelente estreia, sobretudo porque surge numa altura em que parece estar tudo a abandonar as guitarras. Eles não… e este Alvvays soa bem como tudo.

Só querem ouvir uma canção? “Archie, Marry Me”.

9 – Thom Yorke – Tomorrow’s Modern Boxes

O trabalho a solo de Thom Yorke está longe de merecer os louvores que o mundo tem guardado para cada vez que os Radiohead lançam um álbum novo. As comparações, naturais, só prejudicam a forma como se ouve um disco dele a solo. Acho até que esse é o principal motivo para não vermos este Tomorrow’s Modern Boxes nas listas de final de ano. E é uma pena… porque é um disco muito, muito bom. Apenas não é dos Radiohead.

Só querem ouvir uma canção? “The Mother Lode”.

8 – Kevin Drew – Darlings

Kevin Drew é do amor. E é um tipo que não aperta os parafusos todos. Na cabeça dele, nos Broken Social Scene e definitivamente na música que lança. Darlings não é um rascunho mas às vezes parece – e isso impede-o de atingir o nível que outros discos de Kevin Drew e dos Broken Social Scene atingiram. Mas está tão cheio de grandes momentos que não consigo imaginar esta lista sem este álbum. Pop/rock cheia de referências ora elegantemente sexuais, ora sexualmente badalhocas? Contem comigo.

Só querem ouvir uma canção? “Good sex”.

7 – Tweedy – Sukierae

Jeff Tweedy fez, durante os últimos 15-20 anos, alguma da minha música favorita. Yankee Hotel Foxtrot, dos Wilco, é uma obra-prima a que recorro vezes e vezes sem conta ao longo do ano. Não estou habituado a ouvi-lo a solo mas não posso dizer que seja estupidamente diferente de alguns dos álbuns mais simples dos Wilco, como Sky Blue Sky, por exemplo. Este Sukierae não tem a mesma intensidade, não tem os solos loucos de Nels Cline mas as letras estão lá, a voz está lá… e, neste caso, até o filho dele lá está (na bateria). Está tudo lá, porque o folk rock cheio de calor e deprimido cabe lá todo.

Só querem ouvir uma canção? “Nobody Dies Anymore”.

6 – Future Islands – Singles

Foram uma das revelações do ano, sem dúvida. E mereceram cada elogio que lhes foi colado. Não houve álbum mais energético que Singles este ano. E não houve, certamente, nada na pop meio rock, meio eletrónica que seaproximasse do que eles fizeram. A mistura de referências, décadas, sons e influências condensadas num conjunto bem jeitosinho de canções com tudo no sítio acabou por resultar muito, muito bem. Podia pedir-se mais aos Future Islands mas ia roçar a ingratidão.

Só querem ouvir uma canção? “Seasons (Waiting On You)”.

5 – The New Pornographers – Brill Bruisers

Os The New Pornographers fizeram o que se esperava deles. Pop/rock grandiosa, cheia de guitarras, “la la las” e refrães enormes. Dan Bejar, Carl Newman e a infelizmente menos presente Neko Case são tão previsivelmente bons que quase chateia. Quase… porque quem não quer encher-se de “Brill Bruisers”, “War On The East Coast”, “Champions Of Red Wine”, “Another Drug Deal Of The Heart” e coisas do género? Que continuem assim.

Só querem ouvir uma canção? “War On The East Coast”.

4 – Sharon van Etten – Are We There

Sharon van Etten é dor. O primeiro álbum matava, este esfola. Música assim tão genuina, tão intensa, tão cheia de mágoa… só pode fazer-nos felizes, por mais triste que seja. Os pontapés que a vida deu a Sharon van Etten não lhe estragaram o bom gosto e o resultado faz com que este Are We There seja mais um trabalho para guardar bem guardadinho no museu (e ouvir muito, claro). O álbum parece ter diferentes fases: o drama exagerado de “Your Love Is Killing Me”, por exemplo, contrasta com um certo deixa andar de “Tarifa”… mas as palavras não param de doer do início ao fim. Catarse é pouco.

Só querem ouvir uma canção? “Afraid of Nothing”.

3 – Strand Of Oaks – HEAL

A primeira grande surpresa deste ano foi Timothy Showalter e os seus Strand Of Oaks. É que sempre olhei para ele como mais um tipo deprimido da folk, cheio de problemas na vida, que tinha a música como escape. Soava muito bem (e triste e assim) mas também não posso dizer que fosse especialmente brilhante. Mas este HEAL tem qualquer coisa de extraordinário. É visceral e honesto ao mesmo tempo que é fácil de ouvir. Enche os ouvidos do início ao fim. Tanto soa familiar como a algo nunca ouvido. É uma deprimente lufada de ar fresco e não podia recomendá-lo mais. “JM”, “Goshen ‘97” (com o dinossauro J Mascis na guitarra) e “HEAL”, por exemplo, fazem maravilhas pelos meus ouvidos.

Só querem ouvir uma canção? “JM”.

2 – The War On Drugs – Lost In The Dream

O título dá uma pista sobre o que podemos encontrar no disco. “Beer-commercial lead-guitar shit”, a eloquente descrição de Mark Kozelek, não sendo totalmente descabida, fica um tanto ou quanto mais longe. É que Lost In The Dream é difícil de categorizar. Rock épico à Bruce Springsteen? Sim. Soft rock à anos 80? Sim. Americana com sintetizadores salpicados por todo o lado? Sim. Folk do mais simples que há? Sim. Mas o álbum define-sesobretudo pelas suas canções épicas, intensas e meio destravadas. É música de celebração sem ser música de festa. E há direito a slows, a solos intermináveis, a mudanças repentinas que fazem de uma canção sombria a coisa mais solarenga do mundo. “Eyes To The Wind”, “Under The Pressure”, “Red Eyes”, “An Ocean In Between The Waves” e “Burning” são alguns dos pontos altos de um álbum que quase não tem pontos baixos.

Só querem ouvir uma canção? “Burning”.

1 – Sun Kil Moon – Benji

Já estou farto de falar de Benji… e sou sincero: nunca pensei que um álbum de Sun Kil Moon pudesse encabeçar a lista de melhores do ano em 2014. Os últimos álbuns de Mark Kozelek não têm estado ao nível do que de melhor fez com os Red House Painters e com os Sun Kil Moon nos dois primeiros álbuns… pelo que Benji, seguindo a mesma linha, não poderia estar aqui, certo? Errado. Cheio de medo da morte e de histórias incríveis (muitas delas verídicas) sobre assassinos em série, familiares e amigos com acidentes e mortes esquisitas, e a estranha arte de envelhecer… é provavelmente o álbum mais viciante que Mark Kozelek já lançou. E é belo, belíssimo na sua simplicidade  – voz, guitarra e pouco mais durante 90% do tempo. Uma coisa é certa: um álbum tão triste, engraçado e maravilhoso como este é obrigatório.

Só querem ouvir uma canção? “Carissa”. Mas pelo sim, pelo não… ouçam tudo.