Os melhores concertos de 2014

NMH

Este é o primeiro de três posts sobre o melhor da música em 2014.

Acho que nunca vi tão poucos concertos num ano como em 2014.

É possível que isto diga algo sobre a forma como me tenho relacionado com a música nos últimos tempos… mas acho sinceramente que diz um pouco mais sobre a programação de concertos em Portugal nos dias que correm.

Como é muito mais rentável e muito menos arriscado realizar um festival em que se misturam nomes seguros e uma ou outra aposta menos conhecida, parece simplesmente que já não há concertos, há festivais. O Davide Pinheiro já abordou o assunto na sua Mesa de Mistura, comparando os grandes festivais a “um verão de Albufeira” e eu não poderia concordar mais. E entre o verão de Albufeira e a Vogue Fashion Night Out da música, venha o diabo e escolha.

Não há foco, não há profundidade nos concertos, há som de uns palcos a inundar outros, há demasiadas pessoas que não querem saber de um, de vários ou até de todos os artistas. As marcas, que são uma queixa habitual de quem frequenta festivais, são um mal menor para mim – compreendo a necessidade de as envolver e, enquanto não entrarem no palco (ou se puserem à minha frente) durante um concerto, estou bem.

Mas percebem porque é que não vi assim tantos concertos, certo? Porque não vou pagar três ou quatro vezes mais o que pagaria para ver Daughter só porque também lá vão os Arctic Monkeys. Grosso modo, é isto.

E é com este péssimo espírito natalício que vos apresento os melhores concertos de 2014:

5 – The National no NOS Primavera Sound, no Porto (7 de junho)

Estamos todos a ficar habituados aos The National e isso faz com que já nos possamos dar ao luxo de torcer o nariz quando eles são escolhidos para cabeças de cartaz de um festival português. Foi mais ou menos o que aconteceu, pelo menos até ao momento em que subiram ao palco principal no Parque da Cidade e fizeram aquilo que fazem quase sempre: um concerto do cacete.

4 – Arcade Fire no Rock In Rio, em Lisboa (31 de maio)

Se me perguntarem, digo-vos que Reflektor não foi propriamente um ponto alto na carreira dos Arcade Fire. Senão me perguntarem, aparentemente, também o digo, como acabei de fazer. Mas o álbum não é nada mau e ao vivo resulta muito, muito bem. Quase dez anos depois de Funeral se ter espalhado pelo mundo como um vírus, os Arcade Fire estão bem vivos e recomendam-se. É muito provável que tenham um dos espetáculos pop mais intensos que por aí andam.

3 – Sun Kil Moon na Casa da Música, no Porto (29 de março)

Com banda completa? Memorável. Podia ter sido ainda melhor se Kozelek não teimasse em pôr de parte as canções antigas mas não me posso queixar. Canções como “Carissa” e “I Can’t Live Without My Mother’s Love”, os dois primeiros temas de Benji, ficam simplesmente perfeitas quando se transformam em algo mais do que voz e guitarra.

2 – Future Islands no Musicbox, em Lisboa (23 de outubro)

Os Future Islands foram um dos nomes da casa em 2014, pelo que o enorme concerto que a banda deu no Musicbox não poderia deixar de estar nesta lista. Incansáveis na arte de entreter, sobretudo o vocalista Samuel T. Herring, os Future Islands justificaram na perfeição o motivo pelo qual anda toda a gente louca com eles. Se em disco já é difícil ficar indiferente, ao vivo não há como não participar.

1 – Neutral Milk Hotel no NOS Primavera Sound, no Porto (7 de junho)

A meio do ano, a decisão estava mais do que tomada. Afinal, os Neutral Milk Hotel deram um concerto quase perfeito enquanto o sol se punha no Porto e só mesmo a qualidade de som inferior típica dos festivais de verão manchou ligeiramente a de resto maravilhosa atuação da banda de Jeff Mangum e companhia. Vê-los ao vivo já seria uma experiência inesquecível mas com um concerto tão bom parece que se sai de lá já com saudades.