O sueco mais americano da folk está de regresso e Kristian Matsson, mais conhecido como The Tallest Man On Earth, parece mais do que confortável no seu papel habitual de trovador moderno em Dark Bird Is Home, o seu novo álbum.
À semelhança do que se passava nos três álbuns anteriores, Kristian Matsson divide o protagonismo com a guitarra durante a maior parte do tempo mas há por ali umas quantas incursões em terrenos pouco explorados. Mais instrumentos, maiores ambições… mas sempre sem perder a identidade e o norte.
Claro que podemos olhar para o parágrafo anterior de outra forma. The Tallest Man On Earth não é propriamente um inovador e muitas canções soam a mais do mesmo. Assim, quer gostemos ou não das fórmulas repetidas (e eu gosto, atenção), temos de começar a ouvir o que o homem tem para dizer nas músicas. E do que fala ele, afinal?
Bem, no geral, fala do seu divórcio. Mas fá-lo de forma ambígua, inclusivamente nos tempos verbais utilizados. Não sabemos se fala sobre o passado, o presente ou o futuro mas dá-nos pistas. A mais óbvia está na melancolia das próprias músicas, que nos impedem de pôr o que há de bom em qualquer outro tempo que não o passado. A canção que melhor capta este espírito é “Beginners”:
You’re just a singer wanting silence
I just have illegal thoughts
Era uma questão de tempo até acontecer.
Outro aspeto relevante nas letras de Dark Bird Is Home é o quão vagas são algumas delas, retirando totalmente da equação a possibilidade de termos uma história com uma pitada daqueles “illegal thoughts” aqui e ali, como em “The Gardener” ou “The King of Spain”, exemplos de álbuns anteriores.
Mas esperem lá. O álbum é vago, sim, mas parece sê-lo propositadamente. A utilização de sintetizadores, cordas e/ou alguns metais em canções como “Timothy” ou “Darkness Of The Dream” dá-lhes uma toada aparentemente vinda do outro mundo, quase como uma versão folk de shoegaze (terei enlouquecido?). E já que falamos em “Darkness Of The Dream”, não poderia deixar de dizer como estou apaixonado pelo raio da canção. É garantido que a vou levar pela estrada fora – já tenho banda sonora para este verão.
Além de “Darkness Of The Dream”, merecem ser destacadas as belíssimas “Sagres” e “Seventeen”, bem como a música que fecha Dark Bird Is Home e lhe empresta o título. A beleza crua habitual do som de The Tallest Man On Earth domina grande parte da canção, transformando-se no último minuto e meio em algo épico e que nos força a ouvir o álbum todo outra vez. É daquelas que queremos ouvir toda outra vez só para podermos ser encaminhados para aquela parte.
O álbum em si também é um bocado assim. Não nos dá tudo o tempo todo. Mas os seus momentos altos não só são bastantes como compensam a espera e, mais importante do que isso, não seriam nada sem os outros. É impossível não querer repetir a experiência.