Fnac vs Amazon: uma ida às compras em 2016

Amazon

Uma comparação entre dois gigantes baseada numa encomenda de dez álbuns.

A conversa é a mesma há pelo menos dez anos: o CD, esse trintão que promete chegar aos 40 em muito má saúde, está a morrer.

Ao contrário do que acontece com os videojogos, por exemplo, que alguns jogadores portugueses tendem a comprar no estrangeiro devido às diferenças substanciais de preço nos meses seguintes ao lançamento, a música nunca teve propriamente um grande problema de “vou comprar na Amazon porque é muito mais barato”. O problema é outro e está relacionado com a facilidade em encontrar online e de graça o conteúdo que as lojas vendem em CD e vinil – numa primeira fase graças à partilha de ficheiros, depois a serviços de venda digital como o iTunes e, mais recentemente, a serviços de streaming como o YouTube e o Spotify.

Mas ainda se vendem álbuns em CD. E em vinil. E parece que as cassetes têm estado a voltar lentamente à vida, algo tão divertido quanto racionalmente inexplicável. Com o formato CD em mente, fui comparar preços na loja online da Fnac e na Amazon do Reino Unido. Porquê? Porque queria testar a teoria de que a Amazon é muito mais barata do que as lojas portuguesas. Apesar de haver lojas mais competitivas do que a Fnac (a CDGO, por exemplo), acabei por escolher aquele que é provavelmente o retalhista português mais representativo no que diz respeito a música internacional. Também não tive em conta mercados como o Discogs ou o eBay, dado que são mais voláteis e menos comparáveis.

Utilizei para esta comparação os meus dez álbuns preferidos de 2015 (vejam esta e outras listas na série de artigos dedicados à melhor música de 2015), onde não estão álbuns portugueses nem coisas particularmente difíceis de encontrar à venda cá ou lá fora.

A comparação

O resultado da comparação? Vejam a tabela abaixo:

Álbum Fnac Amazon
James McMurtry – Complicated Game €20,90 €19,19
Courtney Barnett – Sometimes I Sit And Think, And Sometimes I Just Sit    €19,83 €16,58
Father John Misty – I Love You, Honeybear €11,45 €13,45
Modest Mouse – Strangers To Ourselves €14,99 €6,96
The Tallest Man On Earth – Dark Bird Is Home €14,99 €13,59
Sleater-Kinney – No Cities To Love €11,83 €9,75
Grimes – Art Angels €14,08 €13,59
Sufjan Stevens – Carrie & Lowell €8,03 €6,79
Natalie Prass – Natalie Prass €13,99 €19,63
The Staves – If I Was €15,52 €12,23
Sub-total €145,61 €131,76
Portes de envio €10,27 €5,86
TOTAL €155,88 €137,62

Algumas notas relevantes:

1. A Amazon apresenta os preços em libras, mas o total final pode ser apresentado em euros. O total que aparece nesta lista é superior ao apresentado na Amazon (€137,12), algo que só pode ser explicado por uma diferença na taxa de câmbio. Para simplificar, utilizei a a taxa de conversão que o Google me apresentou como válida a 5 de janeiro: 1 libra = 1,36 euros.

2. Alguns destes discos não estavam disponíveis diretamente através da Fnac, mas do seu marketplace (ou seja, através de vendedores externos – o que justifica o preço mais elevado nos portes). No caso da Amazon, todos os preços são os do retalhista, já que os discos estavam todos disponíveis diretamente.

3. Em alguns discos, a Fnac informa que terá de encomendar os discos aos editores, algo que poderá atrasar a entrega dos mesmos em cerca de duas a quatro semanas.

Conclusões

As principais conclusões são óbvias:
1. O preço oferecido pela Amazon é melhor.
2. O serviço da Amazon é melhor e mais rápido.

É preciso, no entanto, ter em conta algumas variáveis. Apesar de a encomenda na Fnac ser 14% mais cara do que a da Amazon, se recorrêssemos a uma CDGO, a diferença seria muito menor (o preço final ficaria em pouco mais de €138). O problema com a CDGO é que também pode demorar bastantes semanas a entregar alguns dos discos da encomenda. Além disto, se tivermos em conta mercados como o do Discogs, da Amazon ou do eBay, a Amazon até poderá não ser a solução mais barata – sobretudo se estiverem dispostos a comprar discos usados.

A outra variável a ter em conta, sobretudo na comparação direta entre Amazon e Fnac, pode ser um bocado mais polémica. A Amazon não paga impostos em Portugal. Mais: só em maio deste ano é que a Amazon começou a pagar impostos como devia. Sabem quem paga impostos em Portugal? Eu. Alguns de vocês. Uns milhões de portugueses e uns milhares valentes de estrangeiros. E, claro, milhares de empresas portuguesas e estrangeiras com negócios em Portugal. A Fnac, para todos os efeitos, paga impostos e dá emprego em Portugal. Se forem sensíveis a este tipo de argumentos, é possível que a escolha não seja tão óbvia como isso. A questão é se a diferença de €18 é pequena ou grande para vocês. Numa altura em que todos nós conhecemos alguém que passou ou está a passar por uma situação difícil devido ao desemprego, estes €18 podem, por princípio, valer a pena.

A Fnac está longe de ter o melhor serviço do mundo – ao contrário da Amazon, que tem um dos melhores serviços e experiências de retalho online. Não quero, de resto, premiar mau serviço ao cliente nem abusos em defesa de um patriotismo ou protecionismo manhoso. Se tiveram más experiências com um retalhista português, seja ele grande ou pequeno, devem reclamar, sugerir mudanças, espalhar a palavra, boicotar, apoiar concorrentes (ou criá-los de raiz) – o que quiserem. Mas é importante perceber o que significam as diferenças marginais de preço.

A melhor forma de conseguir bons preços é comprar em segunda mão, seja em lojas independentes de bairro ou online. Se no entanto valorizam o facto do disco ser novo e a segurança associada aos grandes retalhistas, nada bate a Amazon. Mas sempre que for possível e se as diferenças de preço forem razoáveis… comprarei em Portugal.