Há uns dias, publiquei aqui a primeira parte de uma entrevista com o Miguel Caetano. O resto da conversa está aqui.
Há uma certa tendência para se pensar na música actual como uma espécie de reciclagem do que já foi feito nas últimas décadas e dizer algo como “antigamente é que era”, mas a verdade é que ainda há bandas que agarram as pessoas pelos dias que correm. Tens assim alguma coisa “nova” que te ponha a pensar “porra, como é que vivi estes anos todos sem isto?”, ao nível do que dizem e/ou da música que fazem?
A verdade é que eu estou constantemente a ouvir coisas novas e interessantes que me deixam pura e simplesmente encantado. Foi assim quando ouvi pela primeira vez o Person Pitch do Panda Bear, Let The Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel de Atlas Sound, Alegranza de El Guincho, Weirdo Rippers de No Age, etc. Apesar de nenhum destes álbuns ser uma “reinvenção da roda”, eles incorporam novos elementos em sonoridades já conhecidas e, acima de tudo, combinam influências díspares. De qualquer forma, penso que a música rock e pop sempre funcionou assim, através de uma espécie de “canibalização” das fontes anteriores. Neste aspecto, creio que tudo continua como dantes. A grande diferença é que o processo de influências mútuas se intensificou muito mais nos últimos anos, em grande parte graças à Internet, claro. Agora, a exposição a uma vasta gama de sons também faz com que sejamos mais críticos e menos ingénuos do que antigamente.
Festivais. Vais este ano a algum? Costumas ir? O que pensas dos cartazes?
Sinceramente, o programa dos festivais portugueses raramente me interessa porque, regra geral, os promotores costumam trazer sempre bandas ou artistas cujo tempo já passou. O que me interessa no ao vivo e nos concertos é uma intensificação da experiência proporcionada pelos discos e não apenas a celebração de uma nostalgia ou de um ritual saudosista. Não gosto de sair desapontado. Depois, o preço dos bilhetes é caríssimo.
Esta pergunta quase parece desnecessária, mas… música é no CD ou no computador?
É óbvio que prefiro ouvir música no computador e no formato MP3 com qualidade V0 ou superior. Mas acredito que, dentro de alguns anos, a capacidade de armazenamento dos discos rígidos de computadores pessoais e leitores de MP3 seja suficientemente grande para permitir fazer a migração de MP3 para formatos lossless como o FLAC.
Miguel Caetano é o autor do Remixtures, um blog sobre cultura livre.