Por oito objectivos

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Eu sou o tipo mais céptico do mundo no que diz respeito a campanhas por causas sociais. Se forem marcas, então, é difícil convencerem-me de que a responsabilidade social corporativa desta ou daquela empresa não é mais do que um esforço de marketing. Há excepções, certamente, mas este prólogo serve mais para vos falar do meu cepticismo do que propriamente da boa ou má vontade de quem tenta fazer alguma coisa. E nem sei porque é que comecei a falar de empresas… Não é disso que trata este texto.

Já ouviram falar nos objectivos de desenvolvimento do milénio das Nações Unidas? São oito objectivos que todos estados-membros da ONU concordaram em atingir no prazo de 15 anos. Isto foi em 2000. Contas feitas, faltam quatro. A coisa não está a correr assim tão bem.

Os objectivos são os seguintes:
1. Erradicar a pobreza extrema e a fome
2. Alcançar a educação primária universal
3. Promover a igualdade do género e capacitar as mulheres
4. Reduzir a mortalidade infantil
5. Melhorar a saúde materna
6. Combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças
7. Assegurar a sustentabilidade ambiental
8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento

Porque estou eu a falar sobre isto aqui? Por causa de um novo projecto que aí anda a dar os primeiros passos e que vai certamente ganhar alguma notoriedade nos próximos meses em Portugal: Por um
objectivo.

É um projecto da Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais Para o Desenvolvimento que junta oito bandas no sentido de chamar a atenção das pessoas para estes problemas. No limite, este projecto tem o objectivo que todos os outros do género têm: salvar o mundo. E é aqui que entra o meu cepticismo. Mas pronto, já lá vamos.

Moonspell, Noiserv, Orelha Negra, Souls of Fire, João Só e os Abandonados, Easyway, Humble e Nu Soul Family são os nomes envolvidos nesta campanha e vão editar temas inéditos dedicados a cada um dos objectivos de desenvolvimento do milénio no sentido, lá está, de chamar a atenção para as questões referidas acima. Vamos ter direito a vídeos, passatempos e até a uma gala. Vale o que vale… mas que alguém tente alguma coisa para nos fazer olhar de frente para os problemas já não é mau de todo.

Vale a pena darem uma vista de olhos no projecto e entrarem no espírito da coisa. E se a música for boa, melhor para nós.

E pronto, a música é pau para toda a obra. Tanto é utilizada por regimes totalitários para sabe-se lá para fins de propaganda (Strauss na Alemanha nazi e Shostakovitch na União Soviética são apenas dois exemplos) como para fazer chorar as pedras da calçada em séries de televisão (Anatomia de Grey, anyone?). Salvar o mundo é, portanto, apenas uma das coisas maravilhosas que a música consegue fazer. Lembram-se de como erradicou a pobreza em África no Live Aid?

Não? Pois.

Às vezes parece-me que este tipo de coisas são apenas mais uma componente do mundo do espectáculo em que vivemos do que propriamente algo genuíno. Não digo que seja esse o caso deste projecto – e a julgar pelas bandas envolvidas, não me parece realmente que seja – mas o resultado será sempre… desapontante. Não vamos chegar lá tão cedo. Nem em 2015 nem em 2030.