Dan Mangan é um dos músicos que mais me tem acompanhado nos últimos cinco anos. Regresso constantemente a canções recentes e antigas e perco-me nos rendilhados das letras, nos jogos de palavras, nas pequenas histórias e no conforto da voz quente deste canadiano.
Dito isto, é estranho não ter escrito nada sobre Club Meds, o último álbum, lançado desta vez em modo banda como Dan Mangan + Blacksmith. Mas porque é que deixei então passar sem qualquer referência um novo álbum de Dan Mangan lançado em janeiro?
Haverá certamente vários motivos. O principal, no entanto, parece-me ser a dificuldade que tenho tido em aceitar, assimilar o álbum. É que Club Meds tem muito pouco a ver com qualquer um dos três álbuns anteriores de Dan Mangan. A todos os níveis.
Um trabalho de equipa
Este álbum de Dan Mangan + Blacksmith é muito obviamente um trabalho de equipa, sobretudo a nível musical. Apesar de em Oh Fortune, o álbum anterior, se notar já um esforço para que a música soasse a música de banda (em vez de música de cantor/compositor), tudo ali era criado e definido por Dan Mangan.
Em Club Meds, toda a música é creditada aos quatro principais membros da banda. As letras, essas, continuam a ser da autoria de Dan Mangan (excepto “A Doll’s House”, escrita e cantada por Gordon Grdina). Tudo isto se nota. O álbum é extremamente coeso, tenso e muito mais complexo do que qualquer um dos álbuns anteriores de Dan Mangan, o que o torna também bastante mais difícil. O primeiro single, “Vessel”, já me tinha posto a pensar nisso.
Apesar de as letras continuarem a ter o mesmo autor, os temas mudaram radicalmente. Estava habituado às pequenas histórias, aos contos de proximidade e a uma série de assuntos mais pessoais que tornavam as canções riquíssimas em cada recanto, cada pormenor. Mas parece que isso se perdeu. Em Club Meds, Dan Mangan quer dizer coisas mais importantes, quer chamar a atenção para o facto de muitos de nós parecermos sedados, de não estarmos a fazer nada para recuperar o controlo da situação. No fundo, está a tentar rebater a ideia de que nem vale a pena tentar fazer nada para mudar o que quer que seja.
A ideia era boa
Não posso acusar Dan Mangan de falta de propósito. Mas posso queixar-me da execução genérica, que acabou por prejudicar as suas letras. Como o álbum é todo ele muito enevoado, as letras pairam e deslizam por ali. E eu queria, já que há mensagens para passar, que as letras viessem em forma de punho fechado e me dessem um enxerto de porrada. Mas não. E é por isso que tenho tido dificuldade em lidar com Club Meds.
Não há uma única canção verdadeiramente desinteressante no álbum. Todas elas apresentam pormenores engraçados, seja pela utilização de sintetizadores, jogos de vozes ou modestos riffs de guitarra que só podiam estar exatamente onde estão. Mas apenas algumas destas difíceis canções se tornam verdadeiramente estimulantes.
Não é difícil destacar o trio inicial: “Offred”, “Vessel” (que conta com a participação de Dave Grohl) e “Mouthpiece”. A terceira é especialmente interessante por ser uma das poucas que acaba por libertar a tensão acumulada. É também a que mais perto está de poder pertencer a Oh Fortune.
“XVI”, “Forgetery” e a reveladora “New Skies” acabam por ocupar os outros lugares de maior destaque num álbum que acaba por ser bom, sim, mas pouco memorável. Club Meds é um daqueles álbuns que ouvimos pela primeira vez com interesse e em que todas as canções nos parecem bastante boas. O problema é que, chegados ao fim, recordamos muito pouco. E isso não é aquilo a que Dan Mangan nos habituou. Com ou sem Blacksmith, espero que a próxima tentativa me faça muito mais feliz.