Este é o quinto de uma série de posts sobre a História da Britpop.
Ouvir a Britpop dos últimos anos da década de 90 é, a vários níveis, como ver um episódio de Ghost Whisperer (ou Em Contacto, para as pessoas que só sabem os nomes portugueses das coisas): primeiro, porque a série não é especialmente boa; depois, porque os mortos demoram sempre imenso tempo (normalmente, por volta de um episódio inteiro) a dirigir-se para a luz, mantendo-se por cá a chatear as pessoas vivas.
Foi isto que se passou com a Britpop no final da década. Depois da batalha entre Oasis e Blur e dos grandes hinos dos Suede e dos Pulp, 1997 acabou por ser um ano fatídico para o movimento. E porquê? Por vários motivos, entre os quais se destacam:
1. Cool Britannia
Aquela veia britânica que antes era um aspeto cultural muito interessante da Britpop foi ganhando dimensão ao mesmo tempo que foi perdendo substância. Em 1997, o orgulho britânico da Britpop tinha-se transformado definitivamente em adereço da cultura pop do Reino Unido. Muitas vezes literalmente, diga-se. Basta olhar para o vestido de Geri Halliwell, das Spice Girls…
… ou para a guitarra de Noel Gallagher, dos Oasis.
2. Be Here Now
As expectativas para o terceiro álbum de originais dos Oasis eram enormes e os irmãos Gallagher não conseguiram dar-nos melhor do que um chorrilho de canções medianas cujo maior mérito era parecerem versões manhosas de grandes temas dos Oasis. “Stand By Me”, “Don’t Go Away” e a estupidificante “All Around The World” são exemplos de como os Oasis fizeram em Be Here Now um ótimo trabalho de auto-destruição.
3. Blur
Os Blur, tal como os Oasis, também tiveram culpas no cartório – mas de forma muito mais digna. Com o homónimo Blur, que fugia claramente ao som típico dos álbuns anteriores, a banda de Damon Albarn e companhia pôs mais um prego no caixão da Britpop, deixando-a para trás e procurando um som que fosse tanto de Londres como do resto do mundo – e conseguiram-no.
4. OK Computer
Não terão sido os Radiohead os únicos responsáveis externos pela morte da Britpop, é certo, mas OK Computer surge aqui como símbolo de uma mudança na orientação da música pop/rock britânica. Podemos colocar aqui também os The Verve e mesmo os The Prodigy, que também ajudaram à festa. De repente, parecia que a pronúncia tinha perdido valor, que já não era necessário dizer nomes de ruas… A música agora era outra. Os The Verve viriam a influenciar bandas como os Elbow e os Doves (quem?), por exemplo, e os Radiohead toda uma década, pelo menos.
A Britpop morreu por esta altura mas as bandas demoraram imenso tempo a perceber. Aliás, há semanas, quando Noel Gallagher se juntou a Damon Albarn em palco num evento de caridade, Liam Gallagher decidiu que esse, sim, era o momento da morte da Britpop.
Está bem, Liam.
A Britpop acabou por se esvaziar a ela própria. Nasceu do vazio e foi para lá que voltou. Depois da demonstração de orgulho e daquela identidade marcadamente britânica, depois de chamar a atenção do mundo para a música que se fazia no Reino Unido… morreu sem mais nada para dizer. Depois de ter explorado cada subúrbio e cada rua de Londres, Manchester e sabe deus mais quantas cidades, a boa música britânica voltou a olhar para si como, em primeiro lugar, marcadamente humana… e só depois britânica.
Claro que isso não impediu que tanto bandas grandes como do meio da tabela continuassem a tentar. Daí a referência inicial ao Ghost Whisperer, claro. Mas a Britpop quase desapareceu dos tops, com exceção de gigantes como os Oasis ou os Pulp.
Visita ao Museu Britpop:
Uma introdução
As origens
Os primeiros anos
O auge
Declínio e morte